Vítor Lima é tenente da GNR. Com apenas 28 anos comandou o primeiro contingente do subagrupamento Alfa que esteve no Iarque.

Saudades? “Vivemos como uma família”

“Primeiro, tínhamos a facilidade de comunicação através de internet e do telefone, segundo, o nível de trabalho era tão intenso que não permitia períodos mortos que nos fizessem lembrar a família e os amigos”. Para Vítor Lima nada era problema, nem mesmo a distância que o separava dos seus conterrâneos o fazia desanimar. O tempo passava a voar e as saudades nem sequer tinham oportunidade de se apoderarem dos “nossos” soldados: “foram períodos que correram muito depressa.. De certa forma, sentir saudades e sentirmo-nos sozinhos não aconteceu porque estava com outros oficiais e com outros homens que foram pessoas impecáveis, em que vivemos como uma família”.

Apesar de dizer que as saudades eram muito “ao de leve”, Vítor Lima reconhece, no entanto, que o apoio dos portugueses enquanto estiveram fora de Portugal foi fundamental: “foi espectacular receber o carinho que chegava lá dos portugueses! Tivemos presentes no Natal de entidades particulares que mandaram para lá!… desde o bacalhau, livros,… tivemos até um cantor que ofereceu um CD a todos. Foi gratificante.” Lembra com saudades os tempos idos e descreve como foi a despedida: “quando chegou a hora de arrumar as coisas senti que muita coisa ainda ficou por fazer. Só tive pena de não ter ajudado mais as pessoas, já que era para isso que lá estávamos”.

“Não me sinto um herói”

À pergunta “Sente-se, de alguma forma, um herói?”, o tenente foi peremptório: “não, não, antes pelo contrário! Isto é a minha profissão e assim como o padeiro tem que fazer o pão todos os dias, e o electricista tem que arranjar a electricidade lá de casa, eu… acho que me senti assim!”. Sublinha que nunca se sentiu um herói e que nunca pensou nisso dessa forma.

Teve, alguma vez, a vida em risco?

“Ao contrário do que tem acontecido ultimamente, nós não tivemos situações em que estivemos a vida e a morte. Tivemos uma situação ou outra mais crítica, com mais perigo, mas não tivemos nunca numa situação em que pensássemos: “foi por um triz”, mas…aquilo lá é uma questão de sorte… a população está fortemente armada,… nós sabíamos disso. Sabíamos que havia uma grande circulação de munições pesadas. Eu costumo dizer que basta sair à rua com a estrelinha… São 250 mil habitantes fortemente armados e sem nada para fazer. É uma verdadeira patrulha, em que às vezes basta uma decisão mal tomada, para as coisas se virarem todas ao contrário e da calma se fazer, de um momento para o outro, um problema”.

Missão (im)possível?

Alguma vez se arrependeu e pensou por que é que não fiquei em Portugal? Categoricamente, respondeu: “arrepender? Nunca me arrependi. Mas medo numa situação daquelas acho que toda a gente sente. A motivação que me leva a participar numa situação destas é saber que do lado de lá que existe risco e que tenho medo, mas depois a satisfação também é maior. Há alturas em que temos que tomar decisões e em que não sabemos se a decisão é certa e sentimos medo, mas temos que decidir. Depois?!… depois , logo se vê se temos sorte ou não”.

“Blue Box” vs “Green Box”

A GNR tem neste momento capacidades técnicas para continuar no terreno?
“Estamos lá para fazer missão policial e neste momento está-se a criar lá um conceito de “green box” (forças armadas). A GNR só pode actuar em áreas de “blue box” (forças policiais). Este conflito não é um conflito convencional, muito longe disso. É cada vez mais difícil diferenciar onde é que está a fronteira de uma força policial e de uma força armada. A GNR para fazer a missão dela tem capacidade para lá estar, agora depende muito se neste momento há condições para cumprir a missão policial ou não. Isso tem que ser analisado caso a caso, área a área, porque há áreas que dá e há outras que não”.

Quanto às condições de segurança no Iraque alega que não pode avaliar porque não está no terreno. Questionado sobre o assunto, apenas adianta que a GNR é uma unidade militar “vocacionada para estar em situações de alto risco”.

Tropas depois de 30 de Junho?

“Só se o governo do Iraque assim o entender”.

Andreia Abreu