Após o 25 de Abril, vários agentes da PIDE foram presos e condenados. Gregório Chicha defende que sempre esteve de “consciência tranquila”.

No dia 25 de Abril de 1974, deixaram de exercer de imediato as vossas funções?

Não. Nós tivemos em função até 1 de Maio. Continuámos a fazer o serviço a bordo dos navios. Só no dia 1 de Maio é que chegou a ordem de paragem.

E depois o que aconteceu?

Seguimos para Lisboa. Fomos de avião da TAP já detidos.

Quais eram os seus medos na altura?

Na altura não sabíamos o que é que nos esperava. Mas íamos de consciência tranquila.

Estava com medo de o acusarem de violência?

Não tenho ninguém que me acuse de nada, não fiz nada de especial.

Mas essa violência existiu, de facto?

Em Lisboa houve violência, a tortura do sono, principalmente. Eu não sei, mas parece que punham o indivíduo como uma estátua, não o deixavam dormir até ele lhes dizer o que eles queriam.

Assistiu a algum tipo de violência?

Eu não assisti a nada disso. Mas tenho quase a certeza de que havia, embora também houvesse muito exagero… acima de tudo muito exagero.

Então, crê que existe muito exagero quando se fala da violência praticada pela PIDE?

Sim, sem dúvida. Não têm conhecimento. Por exemplo, o que se falou na altura sobre a prisão de Caxias, colchões no chão, imundícies… referia-se apenas a uma ala que estava abandonada há cinco anos. A televisão esteve lá, mas não filmou a ala boa. Eu estive lá preso e posso dizer que era quase um hotel, mas com a porta fechada.

Quando foi preso sofreu algum género de maltrato?

Fisicamente não, mas psicologicamente houve. Em Alcoentre, orientados pelos comunistas, foram às celas às duas da manhã, puseram a malta toda a sair das celas e levaram-nos para baixo. No pátio puseram-nos todos em fila com as armas apontadas para nós, o comandante a postos para dar a ordem de fogo para nos fuzilarem… Nessa altura senti-me praticamente morto. Queriam-nos torturar, queriam fazer-nos o que alguns [agentes da PIDE] poderiam ter feito, mas não nesse género.

A PIDE nunca fez nada que considere tão grave?

Não, tão grave e tão perturbador não. Nem pensar.

Quanto tempo esteve preso?

Eu estive na prisão 26 meses até ir a julgamento. O julgamento foi uma “chachada”. Tinha saído um decreto-lei que considerava ser crime ter pertencido à organização… Fui absolvido, porque o meu único crime era ter pertencido a uma organização que à posteriori eles consideraram ilegal. Tanto que acabei por receber a minha indemnização e tenho a minha reforma do Estado. Eu fui buscar tudo, não lhes perdoei um cêntimo.

Milene Câmara