Já não existe desigualdade entre homens e mulheres? Não existem ainda representações tradicionais sobre o papel da mulher? Para a socióloga Isabel Dias, “estas questões não se dissiparam ainda completamente. Ainda vivemos um processo de mudança ao nível das mentalidades e na forma como a própria sociedade representa a mulher na família, na sociedade, na política ou noutro domínio qualquer”.

Esta professora de Sociologia na Faculdade de Letras da Universidade do Porto (FLUP) diz que, “de facto, têm-se vindo a conquistar cada vez mais domínios de intervenção em que as mulheres têm uma presença activa e importante. Mas essa maior intervenção das mulheres na vida social, política e económica não significa que não subsistam representações tradicionais sobre o seu papel”. E adianta que aquilo a que se assiste hoje em dia é a uma “coexistência de representações modernistas sobre a mulher, com representações tradicionalistas”. Mas, “a mudança parece inevitável, pela presença e pela força com que elas estão instaladas no mercado de emprego e pelas consequências a nível familiar, económico e político que isso também tem para a própria sociedade”.

Actualmente, as mulheres constituem uma parte importante da mão-de-obra no mercado de trabalho e, inversamente ao que acontecia no passado, poucas são agora as que ficam em casa. No ano 2000, as mulheres já representavam 45,6% da população activa, o que, segundo Ana Mesquita, da União dos Sindicatos do Porto, é positivo para o género feminino: “As mulheres já representam quase 50% da força de trabalho nacional, têm uma participação activa, trabalham, e isso dá-lhes alguma independência e a capacidade de lutar contra as injustiças. E isso é uma grande vantagem. As mulheres queriam trabalhar e estão a trabalhar”.

A permanência dos estereótipos

No entanto, há sectores de actividade em que os estereótipos permanecem. Maria José Magalhães aponta o exemplo da política, em que as desigualdades são ainda bastante notórias: “As mulheres são uma minoria absolutamente ridícula em termos de ministros, cargos de ministério, secretarias de Estado. No Parlamento somos uma percentagem ridícula ainda. É muito difícil que uma mulher chegue a primeira candidata”.

Numa retrospectiva global da presença das mulheres no poder executivo e legislativo em Portugal desde Abril de 1974, verifica-se até que ponto têm estado quase sempre afastadas dos cargos mais elevados da hierarquia política: o Presidente da República foi sempre homem, o cargo de primeiro-ministro foi ocupado por 10 homens e apenas uma vez, em 1979, por uma mulher, Maria de Lurdes Pintassilgo (num Governo de iniciativa presidencial, durante um tempo determinado).

Maria José Magalhães aponta vários motivos que explicam esta sub-representação da mulher: “O problema não está só nos partidos. Estou a falar também nas representações sociais, na nossa ideologia. Somos muito mais vigilantes e intolerantes com as mulheres. Quando uma mulher vai para o poder, se é magra é porque é magra, se é gorda é porque é gorda, se é de direita é porque é de direita, se é de esquerda é porque é de esquerda, enfim, tem sempre defeitos. Há sempre muita coisa a apontar-lhe e raramente se valoriza o que elas são capazes de fazer. Espera-se que sejam perfeitas, como se fosse possível que os seres humanos pudessem ser perfeitos”.

Anabela Couto