Que tipo de reacções tem recebido das pessoas do Porto?

São quase sempre muito generosas comigo. Hoje, por acaso, apanhei um táxi de casa para a escola e o taxista perguntou: “O senhor não é o Richard Zimler?”. E eu disse que sim e perguntei como é que ele sabia quem eu era. E ele disse: “Já li várias entrevistas consigo. Peço desculpa por ainda não ter lido nenhum livro, mas é um prazer tê-lo no meu carro”. As pessoas são muito simpáticas comigo e eu fico, evidentemente, muito agradecido.

E ainda mantém a ideia, que tinha há alguns anos atrás, de que o Porto é uma “cidade provinciana”?

Acho que o Porto está a progredir muito em termos de abertura. Hoje, a cidade é muito mais aberta ao mundo do que era há dez anos atrás. Estou a notar uma grande diferença no que diz respeito a coisas superficiais, como, por exemplo, o facto dos restaurantes começarem a ter comida estrangeira. E há também a Casa da Música, por onde passam solistas mundialmente conhecidos. Isso é um grande prazer para mim e é um símbolo de abertura da cidade para o resto do mundo.

É professor na Universidade do Porto. Comparando aquilo que viveu na América e aquilo que vê agora em Portugal, que opinião tem em relação ao ensino universitário português?

Uma grande diferença é que os alunos dos EUA têm muitas mais opções que os portugueses, em termos de cursos e de disciplinas opcionais. Por exemplo: um aluno numa universidade americana qualquer, para obter o seu grau e satisfazer as exigências do seu curso, pode passar dois anos em disciplinas obrigatórias e outros dois anos a fazer disciplinas opcionais. E isso dá às pessoas uma grande variedade de opções e possibilidades. Um aluno americano que esteja a fazer o curso em ciências pode optar, mais tarde, por cursos em arte ou filosofia.
Em Portugal, esta ideia de ter disciplinas opcionais ainda é bastante nova. E, nesse aspecto, a educação portuguesa é bastante mais limitada e restrita. Gostaria de ver as universidade mais abertas à possibilidade dos alunos fazerem cursos que permitam uma maior variação e mais opções.

E relativamente à relação entre alunos e professores?

Talvez em certas universidades americanas exista mais convivência entre professores e alunos. Mas uma vantagem que nós temos em Portugal é que certos cursos têm aulas com poucos alunos. Nas minhas aulas teórico-práticas, tenho uma média de treze alunos por aula e isso dá-me a possibilidade de manter uma maior convivência com os alunos e ter mais participação. Nos EUA, existem muitas disciplinas que têm mais de quinhentos alunos. É evidente que nessas situações é impossível ter participação e qualquer convivência. Por isso, acho que em Portugal temos a possibilidade de estabelecer relações bastante boas e estreitas entre professores e alunos.

Texto e foto: Anabela Couto