“O panorama é péssimo a nível nacional”. Numa frase, a síntese da intervenção de Alberto Amaral, ex-reitor da Universidade do Porto e presidente do Centro de Investigação de Políticas do Ensino Superior (CIPES). A frase polémica despoletou o debate na segunda conferência dos 20 anos do INESC Porto.

O presidente do CIPES demonstrou como Portugal sofre de um défice de competitividade internacional, através de um estudo realizado pelo centro. No estudo, concluiu-se que a mobilidade de alunos, docentes e investigadores é extremamente baixa nas instituições públicas e privadas, não chegando os valores a 1%.

Da investigação também se concluiu que, na maioria das instituições académicas, as actividades de mobilidade e internacionalização são “adoc”, não havendo incentivos nem apoios por parte do Estado. “Há falta de coordenação. Os processos são muito débeis”, afirmou Alberto Amaral.

O cientista Alexandre Quintanilha deu outro exemplo do atraso do país: “No programa de mobilidade internacional, Marie Curie, em Bruxelas, Portugal tem pouquíssimas candidaturas”.

Em oposição, o ministro da Ciência e do Ensino Superior, Mariano Gago, transmitiu uma visão menos pessimista. “Este período de 20 anos foi o período de internacionalização da ciência portuguesa”, declarou. Para o ministro, o país já “ganhou várias batalhas”, mas não deixou de salientar que “há ainda muito por fazer”.

José Príncipe, professor na Universidade da Flórida, nos Estados Unidos, sublinhou ainda o imobilismo das instituições e da legislação que rege o ensino superior. Mas Mariano Gago quis desmistificar essa concepção de que a lei é impeditiva de inovação. “A lei dá margem de manobra, o que é preciso é usá-la da forma mais positiva”, disse.

“Se as instituições académicas e científicas se autonomizarem e propuseram novas metodologias, depois só restará à legislação adaptar-se a essas transformações”, reforçou o ministro.

Os benefícios da internacionalização

Cabe ao governo, mas sobretudo às instituições, aos profissionais e até mesmo ao cidadão comum fazer algo para melhorar o panorama da competitivade internacional do país – uma ideia defendida pelo ministro da Ciência.

José Príncipe reforça a ideia de Gago, considerando que Portugal tem potencial que deve ser melhor aproveitado. “O departamento de electrotecnia da Faculdade de Engenharia da UP (FEUP) tem 110 professores, na Flórida há apenas 50. O número não é tudo, mas conta”, exemplificou. O professor defende também que as instituições públicas e privadas devem ser mais autónomas e que a população deveria estar mais consciente para as vantagens da competitividade internacional, como uma fonte vital de produção de riqueza.

Todos os oradores sublinharam a importância da internacionalização para o progresso do país. Alexandre Quintanilha salientou a transferência de saberes e de pensamentos, o processo de avaliação e o estímulo à mobilidade. “A internacionalização é importante, mas não é um remédio que vai curar todos os problemas”, alertou.

Esta é a segunda conferência comemorativa dos 20 anos do Insituto de Engenharia de Sistemas e Computadores (INESC) do Porto sobre “Cultura científica e inovação”, na perspectiva da internacionalização. Na próxima segunda-feira, será discutida a dimensão económica e social, a partir das 18 horas, na Biblioteca Almeida Garrett, no Porto.

O presidente da República também se associa às comemorações dos 20 anos do INESC Porto. A partir das 14h30, Jorge Sampaio vai estar presente nas instalações do instituto, no “campus” da FEUP, para assistir à apresentação de alguns dos projectos do INESC e proceder ao descerramento da placa comemorativa do seu 20º aniversário.

Salomé Pinto da Silva
Fotos: INESC