Foi há 10 anos, pouco antes do fim da guerra na Bósnia (1992-1995), que os soldados sérvios entraram em Srebrenica – uma zona protegida pela ONU – e mataram 8.000 muçulmanos, durante mais de um dia. Para ocultar o pior massacre na Europa, desde a Segunda Guerra Mundial, os corpos foram enterrados em valas comuns em toda a parte ocidental da Bósnia.

50 mil pessoas manifestaram-se hoje, segunda-feira, em Srebrenica. O presidente da Sérvia esteve presente nas cerimónicas apesar da contestação à sua presença por parte de sobreviventes do massacre de 1995. Boris Tadic quis estar presente para “prestar homenagem às vítimas inocentes”. “É necessário estabelecer uma confiança e colaboração plenas na região. Temos que quebrar o círculo do mal nos Balcãs”, afirmou.

A presença de Tadic é especialmente simbólica, porque a Sérvia apoiou politicamente os crimes de guerra de há 10 anos.

Pela primeira vez, três cadeias de televisão privadas sérvias transmitiram em directo as cerimónias da comemoração do massacre, mas as estações públicas e os jornais não destacaram a efeméride.

Para além de Tadic, estiveram presentes o ministro dos Negócios Estrangeiros britânico, francês e holandês, o presidente do Tribunal Penal Internacional para a Ex-Jugoslávia (TPI), Theodor Meron, e o antigo diplomata norte-americano Richard Holbrooke, um dos artesãos do acordo de paz de Dayton, que pôs termo à guerra inter-étnica da Bósnia.

Hoje foram enterrados no cemitério de Potocari os restos mortais de 610 vítimas identificadas recentemente, com idades entre 14 e 15 anos. Desde que foi construído, já ali foram enterradas mais de 1.300 vítimas identificadas.

Suspeitos continuam a monte

Os alegados responsáveis pelo massacre de 11 de Julho de 1995, os ex-chefes político e militar dos sérvios da Bósnia, Radovan Karadzic e o general Ratko Mladic, acusados pelo TPI de genocídio em 1995, continuam a monte. O presidente sérvio mostrou-se esperançado que Karadzic fosse detido a muito curto prazo.

Especialistas forenses desenterraram mais de cinco mil corpos, dos quais 2.032 foram identificados através da análise de DNA e outras técnicas.

A guerra entre muçulmanos bósnios, croatas católicos e sérvios ortodoxos fez 250 mil mortos.

Pedro Rios
c/ AP
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