Desde 2000, quando George W. Bush assumiu o cargo de Presidente dos EUA depois de uma polémica eleição, que se começaram a criar fracturas na sociedade norte-americana.

Com os ataques terroristas ao Pentágono e ao World Trade Center, e a consequente invasão do Iraque, criaram-se dois pólos: um pró-Bush e um anti-Bush. Em declarações ao JPN, Ivan Szelenyi, professor de Ciência Política e de Sociologia na Universidade de Yale nos EUA, explica que desde os últimos 25 anos que tem havido um deslize político para a direita nos EUA.

“Cada vez mais as pessoas se identificam como conservadoras, ou extremamente conservadoras e menos pessoas se vêem como liberais ou votam nos liberais”, explica. Ainda assim, não encara esta mudança como polarização. “Não vejo a política americana como mais radicalizada ou polarizada do que estava nos anos 60 ou durante o ‘Watergate'”.

De opinião contrária é a investigadora Karlyn Bowman, do American Enterprise Institute (AEI), considerado o maior “think tank” conservador dos EUA. “Os EUA tornaram-se mais polarizados politicamente – presidentes fortes geram tensões fortes”, afirma ao JPN.

Democratas ultrapassados por republicanos

O especialista em opinião pública Karlyn Bowman acredita que os republicanos estão a ganhar terreno aos democratas, desde há 30 anos. “Costumava haver muitos mais democratas do que republicanos”, referindo que na década de 70 os democratas tinham uma vantagem de 21% sobre os republicanos. “Essa vantagem caiu para 11% nos anos 80 e para 9% na década de 90”, refere Bowman.

Numa sondagem de 2003 feita pela Gallup, 45,5% dos inquiridos dizia-se republicano enquanto 45,2% se via como democrata. Apesar disso, quando questionados sobre a filosofia política uma maioria de 40% dizia-se moderado, em oposição a 33% de republicanos e 18%.

Num país dividido com uma maioria de moderados, a vitória de George W. Bush em 2004 pode ser surpreendente. Ivan Szelenyi considera que a reeleição de Bush se deveu, não ao crescimento da direita ou dos radicalismos políticos, mas sim porque “ele fez com que as pessoas acreditassem que a nação está em guerra e que têm de confiar no chefe em tempos de crise”. O professor húngaro acusa ainda o Partido Democrata de não ter sido capaz de apresentar uma alternativa viável.

Karlyn Bowman, do AEI, apresenta ainda outra razão para a divisão política: “os nossos partidos políticos estão menos fortes do que eram no passado, o que contribuiu para a polarização”. A investigadora refere que, apesar das profundas divisões entre democratas e republicanos, estes partidos são, basicamente, partidos de centro, ao contrário dos congéneres europeus. “Nós [os americanos] estamos divididos, mas não estamos, de maneira alguma, radicalizados”, conclui.

Tiago Dias
Foto: SXC