70 anos após a sua morte, Fernando Pessoa pode ser publicado por qualquer editora. O fim dos direitos de publicação, detidos desde 1997 pela Assírio e Alvim, já começou a mexer no mercado livreiro.

A Relógio d’Água já declarou à imprensa a intenção de voltar a editor obras do autor da “Mensagem”. Francisco Vale afirmou que pretende retomar a edição do “Livro do Desassossego” – organizado por Teresa Sobral Cunha –, que ficou a meio devido à reprivatização, em 1997, quando a Assírio e Alvim comprou os direitos de autor da obra completa de Pessoa, tendo saído apenas o primeiro volume.

É a segunda vez que a obra de Pessoa cai no domínio público. A primeira ocorreu em 1985, por ocasião dos 50 anos da morte do escritor, tendo na altura a Ática perdido os direitos exclusivos de lançar a sua obra. Nesse ano, e nos seguintes, o mercado livreiro assiste a uma “explosão” de livros do poeta-plural, com chancela de casas editoriais como a Europa-América, a Lello e a Presença. Uns livros vieram trazer uma nova interpretação e dimensão da obra do escritor, outros nada acrescentaram às edições da Ática.

Editoras anunciam lançamentos

Em 1997, e com base numa directiva da União Europeia que fixava em 70 anos após a morte o período de vigência dos direitos de autor, a Assírio e Alvim comprou aos herdeiros do poeta os direitos de edição da sua obra. A medida criou polémica junto de outros editores, que ficaram sem poder vender um dos autores mais cotados do mercado livreiro nacional e internacional.

A Assírio prometeu edições cuidadas da obra de Fernando Pessoa, com a saída de três a quatro livros por ano. Ao princípio cumpriu, mas nos últimos anos a dinâmica editorial começou a baixar.

Agora, com a queda da obra de Pessoa no domínio público, estão previstos várias edições da obra do poeta que foi vários. Segundo o “Público”, a Aletheia, nova editora propriedade de Zita Seabra, promete lançar uma edição crítica da “Mensagem”. A Relógio D’Água retomará as edições “congeladas” em 1997. O Círculo de Leitores, em conjunto com a Assírio e Alvim, está a planear a edição de uma antologia do poeta em sete volumes.

Quanto à Assírio, continuará a edição da obra do poeta: serão lançados, no próximo mês, três volumes com a poesia ortónima. Agora sem direito à exclusividade.

Duarte Sousadias
Foto: DR