Em jeito de balanço do primeiro dia da chegada do metro à entrada do Hospital S. João (HSJ), a Junta de Freguesia de Paranhos organizou um debate sobre o tema “O Pólo da Asprela e as suas acessibilidades – que soluções?”.

Com a participação dos arquitectos Rui Mealha e Manuel Correia Fernandes e do médico Romero Bandeira, médico e coordenador de medicina de catástrofes do HSJ, o debate contou com a presença de representantes do Movimento de Utentes dos Serviços de Saúde (MUSS).

Segundo o arquitecto Mealha, o Pólo da Asprela enfrenta diversos problemas de circulação viária, de estruturação, de ocupação paisagística e de urbanismo.

“A Asprela é cortada pela Circunvalação, pela A3 e pela VCI, a ocupação do seu mosaico está mal articulada e há uma fortíssima carga funcional instalada em equipamentos de grande dimensão. Por estas razões os movimentos pendulares são muito intensos e só podem ser resolvidos com uma política de transportes colectivos exigente”, afirmou o arquitecto.

Manuel Correia Fernandes indicou como soluções para o problema da acessibilidade o aumento dos lugares de estacionamento e a estruturação da rede de Transportes Públicos Colectivos. Mas acredita que a chegada do metro ao HSJ não vem beneficiar a circulação. “Pelo contrário, o metro parece um eléctrico que anda por aí, o seu enterramento em frente ao São João é obrigatório”, disse.

Enterrar o metro

Preocupado com o HSJ, o médico Romero Bandeira (na foto) explicou que conhece esta unidade hospitalar há muitos anos e que as suas acessibilidades se “estão a degradar de ano para ano”. “É necessário intervir rápido para que não haja uma situação de degradação permanente”, disse.

“O HSJ está afogado numa série de estruturas que deveriam ajudá-lo a suportar, a desenvolver e a simplificar as suas funções. Mas o que se verifica é que os acessos estão a ser afunilados. A essência de um hospital de escala regional é servir de centro médico para emergências e situações graves. Sem uma rede de acessos boa e capaz, essa essência perde-se”, defendeu Romero Batalha.

O debate prosseguiu com a intervenção do público presente. As perguntas e as preocupações do público prenderam-se com “os riscos e a insegurança que a linha do metro causa a quem se desloca ao serviço de urgência do HSJ”, explicou Castro Henriques, representante do MUSS.

Castro Henriques acrescenta que “a luta do MUSS, da direcção do HSJ e da Faculdade de Medicina não vão parar. A Metro do Porto tem de se responsabilizar pelos danos que está a causar aos utentes dos serviços de saúde e encontrar uma solução”. Para Castro Henriques a solução passa “apenas e só pelo enterramento da linha do metro”.

Breve Cronologia

– 31 de Março de 2003: início das obras de construção da Linha Amarela (D) em Vila Nova de Gaia. A Linha D liga o Bairro São João de Deus ao Hospital de S. João e prevê-se que se estenda em direcção à Maia;

– 6 de Abril de 2005: mais de 300 profissionais de saúde, estudantes, professores e utentes unem-se num cordão humano contra o metro à superfície na envolvente do HSJ;

– 17 de Setembro de 2005: é inaugurada a Linha Amarela. Nesta fase, o seu traçado desenvolve-se entre as estações Câmara Gaia e Pólo Universitário. As estações do IPO (junto à Escola de Enfermagem) e do HSJ mantêm-se em construção;

– 2 de Fevereiro de 2006: reunião entre a administração do HSJ e a empresa Metro do Porto, com a presença da governadora civil, Isabel Oneto. A Metro do Porto assume a responsabilidade de melhorar as entradas das urgências, dos parques de estacionamento e de repor os espaços verdes do HSJ;

– 4 de Março de 2006: MUSS envia uma carta ao Primeiro-ministro José Sócrates desafiando-o a visitar as obras do metro junto ao HSJ;

– 5 de Março de 2006: Faculdade de Medicina questiona por carta a Direcção Geral do Património sobre a autorização dada à Metro para entrar nos seus terrenos e nos do HSJ. “A instalação da linha de metro dentro de terrenos alheios é um abuso”, José Amarante, director da faculdade;

– 9 de Março de 2006: a Faculdade de Medicina não autoriza a entrada da Metro nos seus terrenos. Escola Superior de Enfermagem (ESE) rejeita o alargamento parcial do passeio por “não salvaguardar condições de segurança”, Paulo Parente, director da ESE;

– 31 de Março de 2006: o metro chega à fachada do HSJ sem direito a pompa e circunstância. A Comissão Ad Hoc para o Enterramento da Linha do Metro junto ao Hospital S. João organiza protesto simbólico. “A luta não vai parar e ponderamos pôr a Metro em tribunal”, Eduardo Guimarães, director do HSJ.

Ana Sofia Coelho
Paula Teixeira