O novo programa do Governo para a saúde foi hoje, sexta-feira, apresentado pelo primeiro-ministro. A rede de cuidados continuados integrados vai assegurar a prestação de cuidados médicos após altas hospitalares.

O programa prevê a criação de três tipos de linhas de atendimento continuado (internamento, ambulatório e domiciliário). Ao JPN, Paulo Mendo, ex-ministro da Saúde, afirmou que a rede de cuidados continuados é “essencial para o país por humanização de cuidados e até por racionalização económica”.

“Por eficácia, um doente que está num hospital agudo e que deixou de estar numa fase aguda não deve aí permanecer. Mas muitas vezes esse doente não pode ir para casa porque ainda precisa da prestação de alguns cuidados”, diz o médico. Por isso, é “muito importante que haja uma instituição entre o hospital de agudos e a residência que possa tratar de uma maneira menos técnica e tecnológica esses doentes”, explica o ex-ministro da Saúde.

O director do Hospital de S. João, no Porto, Eduardo Guimarães, tem a mesma posição. “O hospital deve tratar os doentes pelo período mais curto possível. Quando [os doentes] puderem ser tratados em ambulatório não devem ser estar internados”, afirma ao JPN.

Eduardo Guimarães salienta a importância da iniciativa, afirmando que “a morte deve ter a maior dignidade possível e o maior conforto” e, por isso, mesmo dentro dos hospitais, devem ser criadas “as melhores condições possíveis”.

O presidente da Confederação Nacional de Instituições de Solidariedade (CNIS), Lino Maia, em entrevista à RTP, disse que este “é um desafio bastante novo para a maioria das IPS [Instituições Portuguesas de Solidariedade]” e que, por isso, é preciso avançar “paulatinamente” com um “acompanhamento médico cuidadoso”. No entanto, o líder da CNIS afirma estar confiante na “boa cooperação” entre o Estado e as IPS.

A rede de cuidados continuados integrados vai ter serviços gratuitos, mas alguns terão de sair dos bolsos dos utentes – um preço que vai depender dos rendimentos dos doentes.

Projecto na “gaveta” há dez anos

Os profissionais de saúde contactados pelo JPN não apontam falhas ao sistema que deverá começar a ser testado em Julho. Contudo, Paulo Mendo lamenta que o projecto não tenha sido levado avante mais cedo até porque a iniciativa não parte do actual Governo, pois já em 1995 o próprio tinha iniciado o projecto que previa a criação de unidades de cuidados continuados a que chamou “hospitel”. Uma designação explicada pelo ex-ministro pela singularidade da unidade, que funcionaria ao mesmo tempo como um hotel e um hospital, sem no entanto chegar a ser nenhum dos dois.

Na altura, diz Paulo Mendo, chegou a assinar-se um documento do projecto com o presidente da União das Misericórdias, que não foi concretizado porque não houve continuidade do Governo PSD após as eleições de 1995.

O ex-responsável pela pasta da Saúde acredita que o bom caminho para o Serviço Nacional de Saúde está na manutenção de relações com o sector privado, sem, no entanto, cair em relações de “promiscuidade”.

Rita Pinheiro Braga
Foto: SXC