A ministra da Educação, Maria de Lurdes Rodrigues, fez hoje críticas à “cultura profissional” dos professores, no primeiro seminário do Debate Nacional sobre Educação, que assinala os 20 anos da Lei de Bases do Sistema Educativo, no Fórum da Maia.

Partindo de uma comparação entre escolas e hospitais, a ministra afirmou que, ao contrário dos médicos, a cultura profissional dos professores “não está orientada para os resultados de todos” mas “apenas de alguns”, vigorando nos estabelecimentos de ensino uma espécie de “aristocracia” em que os alunos mais difíceis ficam com os professores menos experientes.

Além disso, muitos procedimentos escolares têm uma lógica mais burocrática do que voltada para os objectivos reais do ensino, afirmou Maria de Lurdes Rodrigues.

No balanço dos últimos 20 anos, a ministra da Educação considera que os resultados do sistema educativo estão “muito aquém” do desejado. “Temos um sistema escolar muito desigual na comparação internacional” porque “a escola reproduz a desigualdade social e não a inverte”, sublinhou.

Para mudar o cenário, Maria de Lurdes Rodrigues considera que “uma parte dos alunos obteria melhores resultados se a escola se oferecesse como um espaço de saber fazer e não só de retórica”.

Um mecenas por escola

No primeiro debate de uma iniciativa organizada pelo Conselho Nacional de Educação, com o objectivo de perguntar aos portugueses como melhorar o sistema educativo, estiveram também presentes os presidentes da Sonae e do BPI, Belmiro de Azevedo e Artur Santos Silva respectivamente.

Para o presidente do BPI, a “não eficiência do sistema educativo” é o maior problema do país. “Temos muitos recursos afectos ao sistema mas os resultados são muito negativos”, explicou, qualificando de “grande tragédia” a alta percentagem da população escolarizada que não pretende fazer qualquer formação ao longo da vida. Santos Silva defendeu a existência de um mecenas por estabelecimento de ensino. “Uma empresa pode ajudar a gerir melhor a escola”, argumentou.

Já o patrão da Sonae defendeu a aproximação das empresas ao ensino superior, porque “há muitos empresários que não têm ideia do volume de conhecimento que existe nas universidades parado”.

Belmiro de Azevedo sustentou ainda que o corpo docente precisa de “ventilação” (entrada e saída de professores). Na avaliação dos docentes deviam entrar também as opiniões dos alunos, propôs o empresário.

Ariiana Cosme, da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade do Porto, sugeriu o “estabelecimento de contratos-programa” entre as escolas e o Governo para clarificar as atribuições de parte a parte e propiciar uma “cultura de prestação de contas”.

A investigadora sublinhou que a apreciação do desempenho dos docentes tem que ter em conta a avaliação da escola a que pertencem.

Texto e foto: Pedro Rios