José Mourinho já viveu dias mais felizes nos dois anos e meio que leva no comando do Chelsea. Os três empates consecutivos frente a adversários modestos na Liga Inglesa – algo que nunca acontecera na sua estadia em Londres – e os seis pontos que separam os “blues” do primeiro classificado fazem deste o momento menos positivo da carreira do treinador português.

Apesar de ter contrato até 2010, depressa começam a surgir rumores sobre a sua saída de Stamford Bridge no final da época. Uma alegada divisão no balneário com a chegada das estrelas Ballack e Shevchenko e mesmo uma suposta deterioração da relação entre o treinador e o presidente Roman Abramovich levaram a imprensa britânica a ditar o fim da “era Mourinho”.

Mas a possível saída daquele que é o treinador mais bem pago do mundo não agrada nem aos jogadores nem aos adeptos, que não se esquecem de tudo o que já conseguiram festejar com Mourinho em apenas dois anos: dois campeonatos de Inglaterra, uma Taça da Liga e uma “Community Shield” (a Supertaça inglesa).

Sempre no caminho do sucesso

Com um currículo recheado de conquistas pelo FC Porto, apresentou-se a Inglaterra como “Special One”. A imprensa inglesa, indignada com tamanho pretensiosismo e ainda na ressaca da derrota imposta por Portugal à Inglaterra no Euro 2004, não lhe deu tréguas, tornando-se num dos maiores rivais de José Mourinho no futebol inglês.

Certo é que, tal como os outros adversários no relvado, o treinador português levou a melhor sobre a comunicação social: respondeu com vitórias categóricas. Prometeu colocar o Chelsea na alta-roda do futebol mundial e conseguiu-o: logo no primeiro ano conquistou o título de campeão inglês, que os londrinos procuravam há meio século, venceu a Taça da Liga Inglesa e foi até às meias-finais da “Champions”, derrotado pelo Liverpool e por um golo que não chegou a entrar na baliza.

A sua inteligência, cultura táctica acima da média, capacidade de potenciar ao máximo o rendimento dos seus jogadores e os seus “mind games” obrigaram os ingleses render-se aos pés de ‘Jose’, como é carinhosamente tratado em terras de Sua Majestade.

Com ele, o futebol inglês mudou ou, pelo menos, a maneira de ver o futebol mudou em Inglaterra. Ao espectáculo, ao jogo físico, sempre muito apoiado no futebol directo, Mourinho acrescentou maior equilíbrio, mais eficácia e mais calculismo.

A conquista da Liga dos Campeões foi a grande aposta dos londrinos na época seguinte. Mas o azar do sorteio colocou como adversário o Barcelona, que viria a conquistar o troféu, logo nos oitavos-de-final. Os catalães foram melhores e impediram o treinador português de conquistar pela segunda vez a maior competição ao nível de clubes. Internamente, a palavra sucesso voltou a rimar com Mourinho: os “blues” juntaram ao título, que a meio da época era quase uma certeza dada a distância pontual para os concorrentes, a Supertaça inglesa.

A segunda temporada não foi fácil para o técnico português. O tratamento por parte da imprensa britânica, que considerou ser “injusto”, e a falta de reconhecimento levaram-no a equacionar abandonar o Chelsea a meio da época.

Não o fez. Porque ninguém no mundo dificilmente estaria disposto a ver partir aquele que foi considerado o melhor treinador em 2004, e depois em 2005, e que em duas épocas e meia conseguiu o impressionante registo de 101 vitórias em 147 jogos.

João Queiroz
[email protected]
Foto: DR