É um livro “da sociedade civil” contra uma “concepção errada do ordenamento do país”, resumiu Mendo Castro Henriques, coordenador editorial de “O Erro da Ota e o Futuro de Portugal”, a primeira obra sobre a construção do novo aeroporto internacional de Lisboa e que compila textos de 22 autores, como o sociólogo António Barreto, o deputado do PSD Miguel Frasquilho e o general Loureiro dos Santos.

A construção do novo aeroporto na Ota é um erro porque “não está provado que seja necessário, é um enorme esforço que pode não ter justa recompensa e não se esgotaram as alternativas”, argumentou Rui Moreira, presidente da Associação Comercial do Porto, onde foi feita, esta quarta-feira, a apresentação do livro.

Moreira, que escreve um dos 22 artigos da obra, acredita mesmo que a Ota pode vir a ser o “Titanic” de um Governo que “governa em função das sondagens”. A localização do novo aeroporto de Lisboa foi “manifestamente uma decisão política”, cujo processo envolveu a ocultação de alguns estudos com reservas face à Ota.

“É uma decisão política que o Governo assumiu e que tem dificuldade de recuar. Admito que seja para não perder a face. Mas isso [voltar atrás] é a grande marca dos estadistas. Percam dois ou três meses. Recuperam-se rapidamente. Estudem a ‘Portela mais um'”, afirmou.

O presidente da ACP defende a chamada solução “Portela mais um”, que passa por ampliar o aeroporto existente e desenvolver um secundário para as companhias “low cost”.

“Queda gigantesca” no turismo em lisboa

O engenheiro António Brotas considera também que o “processo de decisão tem sido de ocultação” e diz que a Ota é uma escolha “dramática”. “A construção da Ota obriga a gigantescos movimentos de terras. Talvez não haja no mundo um aeroporto que tenha exigido tanta movimentação de terra”, exemplificou.

Lembrando que o aeroporto da Ota vai ter “inevitavelmente” “tarifas muito caras”, António Brotas prevê uma “queda gigantesca” no turismo em Lisboa. “Precisamos de um aeroporto ‘low cost'”, adaptado à nova realidade das companhias aéreas de baixo custo, corroborou Rui Moreira. “O próprio Governo reconhece que [a Ota] é ‘high cost'”.

Segundo Brotas, é necessário estudar se é viável a localização do novo aeroporto na margem sul do Tejo. “Só há um estudo a fazer: pode ou não ser na margem sul? Se puder ser, há vários locais. Se não, o que estranhava, é na Ota”, concluiu.

Privatização da ANA não favorece competitividade

A privatização da ANA (Aeroportos e Navegação Aérea), que gere os aeroportos do continente e dos Açores, associada à construção de um novo Aeroporto de Lisboa, é para Rui Moreira um erro. Mais: desta forma, a passagem ao sistema privado “não garante maior competitividade” porque não traz concorrência ao sector.

“O Governo tem absoluta noção que ninguém estará interessado em ficar com a Ota”, referiu o presidente da ACP, que, caso o Executivo persista nesta localização, defende um concurso público para decidir quem gerirá o novo aeroporto. “Ao menos saberíamos que havia alguém interessado em ficar com a Ota pelos méritos da Ota”.