Nove manifestantes foram hoje, quinta-feira, mortos pelas forças de segurança, nas ruas de Rangum, em Myanmar (antiga Birmânia). Ignorando os avisos, os protestantes voltaram a sair à rua e não dispersaram. As ameaças foram cumpridas e as tropas do governo abriram fogo sobre os cidadãos. Uma das vítimas mortais foi um repórter de imagem japonês. 11 pessoas ficaram feridas.

Foram ainda presos pelo menos 70 monges e outros foram agredidos junto a alguns templos. Vários membros da Liga Nacional para a Democracia, principal partido da oposição, foram também sendo detidos ao longo das últimas semanas, incluindo a sua líder, Aung San Suu Kyi, que se encontra em prisão domiciliária.

À semelhança do que aconteceu hoje, o dia de ontem ficou também marcado pela violência. Pelo menos oito manifestantes, de entre os quais três monges, foram mortos em confrontos com a polícia. Calcula-se que tenham também sido detidas cerca de 300 pessoas.

Apesar do aumento da violência, o grupo, constituído por monges, estudantes e também por cidadãos comuns, insiste em demonstrar desagrado com as políticas levadas a cabo pela ditadura militar vigente.

Piores protestos em 19 anos

O dia de ontem foi o primeiro em que se registaram mortes numa insurreição que dura já há algumas semanas. O governo alega que a polícia não foi tão violenta como relata a comunicação social e que apenas actuou porque os protestantes não obedeceram às ordens dos oficiais, recusando-se a dispersar e tentado desarmá-los.

As manifestações conheceram o seu ponto mais alto nos últimos dois dias. Nunca desde 1988 tinha havido uma manifestação com tamanhas proporções na antiga Birmânia. Começa-se a temer que a história se repita e que o governo volte a tomar uma atitude drástica como a de há 19 anos, quando mais de 3 mil manifestantes pró-democracia foram mortos.

Reacções da comunidade internacional

E se as mortes de quarta-feira tinham já alarmado a comunidade internacional, a situação ficou bastante agravada com os desenvolvimentos do dia de hoje. Ontem houve protestos junto das embaixadas da Birmânia por todo o mundo e realizou-se uma reunião do Conselho de Segurança da ONU.

Também a Casa Branca reprovou a atitude do governo de Myanmar, ordenando que pusesse imediatamente termo à violência para com os protestantes pacíficos, chegando mesmo a ameaçar o país com possíveis sanções económicas. Fontes diplomáticas afirmaram hoje que a União Europeia vai avançar com novas sanções contra o regime birmanês.

Também sobre alguma pressão encontra-se a China, principal aliada diplomática e parceira comercial de Myanmar, que acredita que tudo se resolverá e desvaloriza a situação.

Os protestos iniciaram-se já há mais de um mês, a 19 de Agosto, motivados pelo aumento de 100% do custo dos combustíveis e a consequente subida do preço dos bens essenciais, catrastófica para milhões de pessoas.