Nascido nos guetos norte-americanos, o hip-hop tornou-se numa música e numa cultura apreciadas por pessoas de vários estratos sociais. Não se cinge a grupos desfavorecidos, expandiu-se a todas as classes socioeconómicas, pessoas de várias culturas e de ambos os sexos.

O MC Deau considera que a difusão do género levou a que a cultura se tornasse “extremamente comercial”, o que trouxe dois lados de uma mesma moeda: “Há pessoas que comercializam música boa; há outros que estragam a música de modo a comercializá-la”.

A MC Dama Bete considera que é positivo o hip-hop chegar a mais pessoas. No entanto, lamenta que “muitas vezes as mensagens que são passadas não tenham qualquer tipo de conteúdo”.

Para New Max, cantor e produtor dos Expensive Soul, banda muito popular e que cruza o hip-hop com outros géneros, a expansão do estilo trouxe um lado positivo e outro negativo. Considera negativo o facto de o género ter-se tornado “demasiado comercial”, especialmente a nível internacional, uma vez que “o hip-hop português ainda é um bocado novidade”. “Existe muita coisa muito parecida hoje em dia”, diz.

O músico revela que os “pontos positivos são todos os outros, porque faz muita gente sentir bem. Há as festas, há os concertos, que põem as pessoas bem dispostas, e isso também é muito importante”. New Max considera que hoje ouvimos “muito mais” música portuguesa do que há quatro ou cinco anos “e já sabemos que é devido ao hip-hop”.

O fenómenos “Morangos Com Açúcar”

Muitos jovens conheceram o hip-hop através da telenovela “Morangos com Açúcar”. Segundo a professora de dança Né Marques, o “fenómeno” “Morangos com Açúcar” “correspondeu a um grande aumento de alunos” nas academias e ginásios.

Sam The Kid não se preocupa com os desvios da cultura hip-hop original, “desde que haja um equilíbrio em que há pessoas que entrem por amor e outras que entrem pelas calças largas ou para arranjar miúdas”.

“Evolução natural”

Rui Miguel Abreu, ao contrário da maioria dos entrevistados, desvaloriza eventuais desvios da cultura original. O jornalista e dono da editora Loop vê o desenvolvimento do hip-hop “como um ciclo de evolução natural” semelhante ao que aconteceu com outros géneros musicais.

Ace, dos Mind da Gap (que lançam esta segunda-feira uma compilação de êxitos), pensa que é positivo ter a possibilidade de chegar a mais pessoas, o que, para o MC, também não implica a existência de comercialismos. Só não gosta dos “clichés” e que as pessoas sintam a obrigação de “corresponder a um certo código visual”.