O JPN entrevistou os Capitão Fausto que andam em digressão pelo país e que estiveram esta semana na Casa da Música para apresentar o álbum “Subida Infinita”, o último com a participação de Francisco Ferreira. O processo de criação, a saída de um dos elementos e os projetos futuros da banda foram alguns dos temas abordados.

Vidas corridas, despedidas, ansiedades e a vontade de cantar a tristeza com alegria reúnem os Capitão Fausto em “Subida Infinita”, o quinto álbum da banda. Num ano em que o grupo sofre uma transformação com a saída de um dos membros, os quatro amigos correm o país a cantar o novo disco e a celebrar os dez anos de “Pesar o Sol”, o segundo disco da sua discografia, lançado em 2014. Apesar de não estar integrado na íntegra na digressão em curso, a banda anunciou que vai celebrar o décimo aniversário do álbum no verão, em pleno Festival “Super Bock, Super Rock”, a 18 de julho.

O pontapé de partida ocorreu com o lançamento de “Gazela”, em 2011. Apesar do álbum ter sido um dos passos “mais importantes” da carreira, foi “Pesar o Sol”, em 2014, que contribuiu para o crescimento do grupo, uma vez que “foi mais pensado enquanto disco” e com um som “mais forte”. No mesmo ano, juntamente com outros artistas, fundaram “Cuca Monga”, a editora que detém os estúdios, em Alvalade, onde os Capitão Fausto gravam os seus trabalhos.

Dois anos depois, “Capitão Fausto Têm os Dias Contados” viu a luz do dia e o reconhecimento da banda começou a ser cada vez mais maior. Os detalhes barrocos fundem-se com o pop e “Amanhã Tou Melhor” torna-se um dos êxitos ainda hoje mais aclamados e entoados nas mais de 130 mil vozes que passam pelas plataformas de streaming

Em 2017, os cinco membros viajaram para São Paulo para prepararem a gravação de “A Invenção do Dia Claro”, lançado em 2019. Com o quarto álbum, fica mais patente a necessidade de renascerem e inovarem. Exemplo disso são “Sempre Bem”, “Faço as Vontades”, “Amor, a Nossa Vida” e “Boa Memória”.

Nasceram com o sonho de se juntarem e criarem música: Tomás Wallenstein (voz, guitarra, teclas), Manuel Palha (guitarra, teclas), Domingos Coimbra (baixo) e Salvador Seabra (bateria). Agora, com a saída de Francisco Ferreira, nas teclas, os quatro amigos admitem que “nunca vai ser a mesma coisa como foi antes”, mas que estão a “olhar para a frente” e a ter “outra aventura”.

Agora, com cinco discos lançados e mais de dez anos de carreira e uma nova digressão a decorrer, a banda pisou o palco da sala Suggia, na Casa da Música, na terça-feira (16) e quarta-feira (17). A propósito destes dois concertos, o JPN esteve à conversa com os Capitão Fausto.

JPN – Vamos começar por falar sobre o “Subida Infinita”. Como é que foi produzido, o tempo que demorou, o processo, o que é que esteve na base da criação?

Tomás Wallenstein (TW) –  Foi um processo longo. 

Domingos Coimbra (DC) -O álbum começou a ser feito no início de 2021. Fizemos um retiro e tivemos uns dez ou 12 dias – já não me lembro por quanto tempo é que foi exatamente – a fazer músicas. Arquivo, muito arquivo. Depois, nos três anos que se seguiram, foi todo o trabalho de estar a aprimorar essas ideias e outras num disco que passou por várias salas em Lisboa. Passou por vários sítios e acabou, neste último ano, na sala onde nos encontramos agora, em Alvalade, outra vez, e onde gravámos o álbum. Em termos de duração de trabalho, foi o processo mais longo que tivemos até agora.

JPN – O processo foi semelhante aos anteriores?

TW – Foi, na sua base, mais ou menos semelhante. Desta vez, ao contrário das outras, decidimos armazenar mais ideias antes de começarmos a aprofundá-las. Tivemos mais escolha para definirmos mais ou menos o caminho para o disco. Ao contrário dos outros, foi um disco em que deixámos muita coisa para trás. De certa forma, é capaz de ter sido um processo mais sintético também.

DC – No fundo, é o álbum em que tivemos mais coisas e acho que é o álbum mais curto. Não é mais curto, mas é o segundo mais curto. 

Manuel Palha (MP) – Tivemos muitas coisas e o tempo é mais ou menos o mesmo que os outros. 

TW – É o álbum de peneira. 

JPN – As coisas que ficaram para trás vão chegar a ver a luz do dia?

TW – Ninguém sabe.

DC – Há mais possibilidade de algumas coisas que fizemos agora verem a luz do dia do que as antigas de outros álbuns. Houve algumas coisas que largámos. Não foi necessariamente por não gostarmos delas, foi porque houve ali uma altura em que tivemos de escolher para gerir o tempo que tínhamos.

TW – Houve umas que se calhar podiam ter sido tocadas. Ou outras, por outro lado, que às vezes não dá vontade de pegar outra vez, porque já bloqueou um bocadinho ali. Ninguém sabe. 

DC – Às vezes, há injustiça com algumas ideias e elas ficam na gaveta para sempre.

O tema da passagem do tempo é muito presente. E também é uma coisa que temos uma perceção muito constante. É sempre tempo para fazer essa reflexão.

JPN – Mencionaram que fizeram um retiro [para este álbum], também fizeram nos outros. Porquê é que o costumam fazer?

MP – É uma boa forma de nos sentarmos os cinco com poucas distrações. Todos os dias na mesma coisa, num sítio fora da nossa rotina do dia a dia, acho que isso faz muita diferença. [Não acontecer aquilo de] “Até já vou para casa, hoje tenho de ir um bocadinho mais cedo porque aquilo…”. 

TW – É como se fosse um retiro religioso, só que não é religioso. 

MP – É como uma residência artística. Ou seja, há pintores que vão para um sítio e ficam três semanas a pintar. Acho que esta coisa de estar ao lado dos instrumentos e dormir ali ao lado e acordar e ser aquilo faz com que…

TW – Não há mais propósito nenhum. 

MP – Ficamos muito agarrados àquilo e a tentar espremer ideias que saiam. E por isso temos feito quase sempre.

TW – Fizemos sempre.

JPN – A vossa discografia foca-se muito num olhar muito introspectivo, muito contemplativo da vida. Neste álbum, exploram um bocado as crises existenciais, tocam na parte de envelhecer, nas despedidas e na ansiedade. Também interpretam assim?

TW – Sim, acho que sim. Todas as coisas por onde passámos acabam sempre – mais ou menos – por ser sobre a passagem do tempo. Mesmo o “Sol Posto”, que era um filme bastante abstrato. O tema da passagem do tempo é muito presente. Também é uma coisa que temos uma perceção muito constante. É sempre tempo para fazer essa reflexão. 

DC – Diferentes alturas da vida geram perceções diferentes sobre a passagem do tempo. Ou ângulos diferentes sobre a passagem do tempo.

TW – Acho que também é por ser um processo conjunto e que tem a ver com estas pessoas especificamente – cinco, agora quatro. É sobre a forma como atravessámos o tempo juntos e a que é que o nosso tempo juntos, desde que nos juntámos, nos vai levando. Portanto, faz todo o sentido que o nosso trabalho sejam fotografias constantes disso.

JPN – Ao focar nestes temas, de onde é que isso vem? Do que é que resultou? 

TW – Não sei muito bem de onde é que vem. É como fazer música, é um bocadinho instintivo. Às vezes, existe uma coisa qualquer que nos entusiasma e o nosso instinto faz-nos querer perseguir essa ideia. Depois, existem as sugestões que o nosso instinto nos diz que gostamos mais e outras menos. Acho que partimos sempre um bocadinho daí. É como um cozinheiro, a única coisa que tem para tomar decisões é o paladar. Se gostar, vai por ali. Se não gostar, está a fazer alguma coisa de mal. Portanto, acho que é sempre à volta do instinto.

JPN – O que é que este álbum diz sobre os Capitão Fausto? 

TW – Diz muito bem dos Capitão Fausto.

DC – Conta a história destes últimos anos, que é também a história de uma banda em transformação. O Francisco também fez este álbum connosco. Portanto, este álbum representa ao mesmo tempo a passagem da banda de cinco para quatro e de que forma é que esse processo também transformou a música que fazemos e aquilo sobre o que cantamos. Não é exclusivamente sobre isso, mas é inevitável. Até porque se há um lado contemplativo, como estavas a dizer, sobre estes anos, seria inevitável, pelo menos da forma como temos ao longo dos anos vindo a fazer música e a escrever música, isso não ser influenciado por esta transformação. Portanto, este álbum também fala um bocado sobre como é que gerimos este processo e como é que nos encontramos agora.

JPN – Este álbum tem uma colaboração com o Tim Bernardes. Como é que foi esta colaboração? Como é que foi trabalhar com ele?

MP – Foi muito giro. Ele já é nosso amigo há algum tempo. Não foi a primeira vez que trabalhámos a fazer uma música. Ou seja, a lançar uma música foi a primeira vez. Já tocámos uma música dele, gravámos com ele uma música dele. 

DC – Demos vários concertos. 

TW – Um cá e um lá [Brasil]. 

MP – Pelo menos, dois. Foi uma ideia que já existia assim muito de leve há algum tempo e agora concretizou-se, felizmente. Conseguimos ter ali um tempo em que pudemos estar com o Tim. Também mostra que gostamos dele e gostaríamos de fazer coisas com ele. Foi uma boa oportunidade.

TW – Não será com certeza a última. 

DC – Também acho que não. 

JPN – O álbum também tem a colaboração da sua filha na música “Na Na Nada”.

TW – É verdade. Ela não queria entrar, mas lá a consegui convencer. 

DC – Neste momento, há uma grande batalha legal pelos direitos da música entre a Amália e o Tomás.

TW – É uma brincadeira. Não é uma colaboração sequer. A minha filha estava em casa e acabou por se proporcionar. É evidente que foi muito divertido.

JPN – Neste álbum, combinam um instrumental frenético com uma letra muito melancólica. Pode dizer-se que há nos Capitão Fausto uma espécie de uma alegria triste?

TW – Talvez.

DC – Sim. Consigo perceber que há na nossa música, às vezes, uma forma alegre de cantar coisas tristes, mas isso há em muita música. Nesse sentido, até consigo concordar com essa afirmação, mas não é só isso e não é só sobre isso. É se calhar uma parte, em alguma música.

TW – Sinto que há sempre mais a discorrer sobre coisas que não estão bem do que sobre coisas que estão bem. Acho que é sempre mais fácil uma pessoa apontar dificuldades do que facilidades e, portanto, a alegria, em termos líricos, é sempre uma coisa mais difícil sobre a qual se falar com muita propriedade. Mas é uma coisa pessoal, se calhar.

MP – Mas acho que faz sentido. 

TW – Escrevo sobre dúvidas e sobre certezas.

MP – “A festa, a fachada desta nossa tristeza” também fala disso.

TW – Claro, estou a confirmar isso. 

MP – Há muitas músicas no mundo que são um bocadinho sobre isto, que se dança e se exalta uma certa tristeza, mas com felicidade. Acho que faz parte.

TW – É gostar de viver, apesar das dificuldades. 

Isto é uma coisa que vivemos desde que somos adolescentes. Portanto, é difícil imaginar que algum de nós não tivesse a querer estar aqui como os outros estão.

JPN – Na música “Nuvem Negra”, vocês cantam “a mão que fica sem polegar não se agarra”. É uma referência ao Francisco Ferreira?

TW – É, claro. Já foi há algum tempo que o Francisco nos anunciou que queria escolher outros caminhos. Desde aí que temos vindo a conversar muito sobre isso até chegarmos, agora, ao momento em que estamos e termos decidido como é que isto ia funcionar. Essa frase é um retrato do nosso primeiro embate com essa realidade. É sempre complicado tentar imaginar. Isto é uma coisa que vivemos desde que somos adolescentes. Portanto, é difícil imaginar que algum de nós não tivesse a querer estar aqui como os outros estão.

Fez parte do próprio processo. Percebemos como é que a coisa ia funcionar e, também, temos capacidade para compreender o lado do Francisco. Acho que isso foi uma coisa que demorou e que levou a alguma conversa. É uma decisão também que acarreta muita coragem da parte dele, porque é evidente que, apesar de tudo, estamos numa fase das nossas carreiras que é positiva e  esperançosa.

Tem-nos corrido bem até agora a vida de Capitão Fausto. Portanto, ele tomar essa decisão, assim, de repente, também envolveu alguma coragem. É sobre isso que fala essa frase.

JPN – Como é que se estão a ajustar à saída do Francisco?

TW – Agora é melhor.

DC – Isto foi um processo longo. E não foi, lá está, com turras e não foi com grandes discussões e zangas, nem nada disso. Nem de um dia para o outro. Na verdade, o Francisco fez parte do álbum. Depois de anunciar que ia sair, continua a trabalhar connosco. E continuamos a trabalhar juntos. 

TW – Continuamos a trabalhar todos os dias. 

DC – Ele fez o design do disco e faz a merchandise do álbum e continua a trabalhar na “Cuca Monga”, que é a nossa editora. Portanto, há aqui a ideia do tempo e o tempo a passar. Mais tempo para fazer um luto ou para uma transformação. No nosso caso, ajudou-nos a que essa transformação fosse [feita] da melhor maneira. Depois, também ajudou bastante, agora nos concertos ao vivo, entrarem dois músicos [Miguel Marôco e o Fernão Biu] para tocar com os Capitão Fausto ao vivo. Isso também trouxe um olhar fresco sobre a nossa discografia antiga, sobre como tocar estas músicas novas. Diria que foi um processo longo, mas que tem corrido bem.

JPN – Mesmo com a saída dele, os Capitão Fausto vão continuar firmes?

TW – Sim. Durante esse período, levantaram-se muitas dúvidas e depois tivemos tempo de as eliminar. Acho que nunca vai ser a mesma coisa como foi antes. Mas estamos a olhar para a frente.

MP – A ter outra aventura. 

JPN – Vieram cá ao Porto apresentar “Subida Infinita”. Vão tocar já hoje [16 de abril] e vão estar aqui até amanhã. O que é que têm preparado?

TW – Temos estado a trabalhar, sobretudo, o teatro, o espetáculo dos auditórios.

MP – Temos este disco todo na íntegra. É a apresentação deste disco, mas não só. Ou seja, com uma escolha, uma seleção de outras músicas, de outros discos, e vai ser muito divertido.

JPN – Os dez anos do [álbum] “Pesar o Sol” estão a aproximar-se, também vão explorar essa celebração nos espetáculos?

TW – Sim, vamos. Já foi anunciado?

DC – Já. Na verdade, este concerto que estamos a fazer aqui não tem músicas do “Pesar o Sol”. Mas, para os fãs desse álbum, vamos fazer o “Pesar o Sol” na íntegra no “Super Bock, Super Rock” e ainda não sabemos se vai haver oportunidade – acho que era fixe – de o repetir no Porto. Gostava de fazê-lo cá em cima também. Ainda por cima é onde o álbum foi feito, mais a norte. Não sei se vai dar para fazer, mas gostava de conseguir.

JPN –  Como é que olham hoje para esse álbum?

MP – Com carinho. 

DC – Tenho mais carinho pelo “Gazela” do que pelo “Pesar o Sol”.

MP – Gosto, porque acho que foi um passo importantíssimo para sair do “Gazela”.

TW – Tenho mais carinho pelo “Pesar o Sol”. “Gazela” foi a coisa mais importante para a nossa carreira, acho. 

MP –  O “Pesar o Sol” foi mais pensado enquanto disco. 

TW – Sim, acho que artisticamente é mais forte.

Salvador Seabra (SS) – Também acho que é um melhor disco do que o “Gazela”.

MP – É muito mais forte. É que o “Gazela” foi uma fotografia do que tínhamos até à altura. Tipo, “olha temos estas músicas, vamos gravar um disco”? O “Pesar o Sol” já foi um bocado “como é que vamos fazer agora”? Mudámos o som e tem um som muito característico. Portanto, acho que é giro e vai ser giro fazermos ao vivo músicas que tocamos poucas vezes.

DC – Os nossos álbuns são sempre fotografias daquela altura e não podemos voltar a ser aquelas pessoas, nem queremos ser aquelas pessoas, nem fazer aquelas músicas, mas há sempre um aperto de mão que se dá com o passado e podem-se retirar coisas boas daí. Nos dez anos do “Gazela”, tocámos o álbum no Coliseu do princípio ao fim. Ou seja, há todo um lado de voltar a estar em contacto com uma realidade que já nem sequer é a nossa, mas que foi muito boa. E com o “Pesar o Sol”, também vamos ter esse processo todo outra vez. 

TW – [Tocámos] por ordem também. 

DC – Foi por ordem. Acho que tocar estes álbuns…

TW – É coisa de banda de velhos. São efemérides dos vários momentos que a banda atravessou. Numa banda, também celebramos a continuidade, porque é um desafio grande continuar unidos e amigos. 

DC – Já vamos no quinto álbum e consegues perceber ao longo dos anos que há os fãs do “Gazela”, há os fãs dos “Capitão Fausto [Têm os Dias Contados]” até ao “Pesar o Sol” e a partir daí, há malta que entrou na nossa discografia e não gosta dos primeiros, só gosta daquilo que fazemos agora. Então, já começamos ao longo dos anos a ter grupos e também é fixe estas efemérides serem celebradas em concertos, porque é uma maneira também de estarmos em contacto com a nossa discografia toda.

JPN – Em termos de tantos álbuns e tanta experiência, acham difícil o processo de a cada álbum reinventarem-se? Conseguem desligar-se do que fizeram anteriormente?

TW – O desafio inicial é sempre esse. Começamos a trabalhar e por mais ideias que tenhamos existe um período em que a coisa ainda não está muito bem formada. Fizemos isso quatro vezes.

MP – Tens de ter tempo para começares a ver coisas que já não queres repetir. 

TW – Acho que nem é sequer uma coisa consciente. Analisando o processo, existe uma curva no início em que mesmo que tenhamos muitas ideias não se está a chegar a muitas conclusões. E depois quando a coisa chega mais ao final, começa tudo a ganhar forma e não é uma questão de termos descoberto intelectualmente qual é que é a direção, simplesmente as nossas ideias começam a funcionar melhor. E aí descobrimos o que é que o disco é. A primeira música é sempre a mais difícil.

DC – Também ao longo dos anos começámos a aprimorar um bocado. Já temos um conjunto de ferramentas que podem alargar ou não, mas a que recorremos. E já temos vindo a aprimorar as nossas ferramentas para resolver problemas de músicas, de partes, de soluções harmónicas, de coisas que são características da nossa forma de fazer as coisas. Há sempre esse equilíbrio de não cair num lugar comum, ao mesmo tempo, de termos o nosso cunho, da maneira como gostamos de fazer música e das nossas referências e também do nosso método. Portanto, é sempre essa balança. E em cada disco muda um bocadinho, ou aprendemos mais, ou queremos ir para outros sítios, ou vamos descobrindo.

JPN – É difícil conciliar interesses ou normalmente vocês vão sempre na mesma direção?

TW – Não, acho que nunca estamos na mesma direção. 

DC – É raro. 

TW – É evidente que o ponto final de uma coisa é quando nos alinhamos. 

MP – O trabalho verdadeiro é alinharmo-nos. Todos queremos gostar, mas o trabalho que fazemos no fundo é alinhar expectativas.

TW – Na ideia inicial, é raro toda a gente dizer “ok”, porque toda a gente tem alguma coisa a dizer sobre aquilo. O que se torna interessante é que chegamos a um ponto em que não era o instinto inicial de nenhum de nós, mas esse é o ponto mais especial. É quando conseguimos dizer que esta música está pronta.

DC – Há raros casos em que estamos mesmo todos completamente alinhados. Há um custo, mas algum desconforto é útil para a criação. Não sentirmos que temos todas as respostas no início de um processo é bom, porque nos obriga a ir encontrar respostas. 

TW – No fim das contas, sinto sempre que tenho muito mais a ganhar com o facto de as ideias, que eventualmente possa ter dado, não terem tomado a direção que teriam tomado se estivesse sozinho, porque isso é um custo para que as outras todas tenham sido amplificadas de uma forma que não conseguiria fazer sozinho. O grande valor deste trabalho em grupo é esse. 

JPN – Onde é que encontram novos sons?

SS – Vem um bocado da música que se ouve.

MP – Sim, é uma amalgamação de música que ouvimos e que é toda diferente uns para os outros. É importante dizer que não definimos um som antes de começar a fazer música. Não dizemos “este vai ser o nosso disco com som X ou som Y”. Não vamos tentar aproximar-nos do som. Acho que é uma coisa que vamos lentamente descobrindo que estamos a gravitar para um certo tipo de sonoridades e que vem com uma ideia. Alguém gosta e aí começamos a terminar nesta ideia, que é consensual. Isso quer dizer que há ali um caminho, depois surge outro, o caminho fica mais abrangente.

DC – Há ali uma altura depois do momento da criação das ideias, que é completamente imune a isso, em que entram algumas referências: “isto faz-me lembrar qualquer coisa” ou “ isto leva-me para aqui”. Então, aí se calhar entram um bocadinho mais as referências que cada um tem. 

TW – Surgem soluções. 

DC – Passar de um acorde para o outro é lindo. No último ano em que estivemos a fazer o álbum, quando chegava a casa não ouvia música e nos fins de semana não ouvia música, porque a minha vida era toda passada a ouvir música. Mas, claro, passa um ano ou dez anos sem ouvir um determinado disco, aquele disco já te influenciou. As referências já lá estão.

TW – Passado algum tempo, já são tantos anos a ouvir música e tantos anos a absorver referências que a coisa já se diluiu completamente, já é muito difícil. Acho que começa a contar cada vez mais o nosso instinto inicial, de como é que tocamos, ao que é que reagimos, o que é que cantamos em cima das coisas.

JPN – Como é que vai ser o verão dos Capitão Fausto?

MP – Tudo indica que vai ser bom. Há concertos. Temos também coisas que temos de trabalhar em estúdio e vai ser divertido. 

DC – Temos feito concertos sentados em auditórios, teatros, e vamos adaptar o nosso alinhamento para concertos em pé.

TW – Vamos montar um concerto novo. Temos um com o Martim Sousa Tavares, com a Orquestra [Filarmónica das Beiras] também. 

DC – Temos alguns desafios. Vamos tocar o “Pesar o Sol” no “Super Bock Super Rock”. Vamos ter alguns tipos de concertos diferentes e isso interessa-nos muito.

JPN – Estão a preparar novos projetos? 

DC – Estamos sempre a preparar algum projeto novo.

TW – Isso, às vezes, é o nosso problema. Quando finalmente achamos que vamos conseguir descansar, infelizmente, está outra coisa a acontecer ao mesmo tempo. É infeliz para quem está a querer descansar, para quem está a querer parar. Por outro lado, também não nos dá muita chance de parar e temos de estar sempre a reinventar um bocadinho e acho que isso é bom.

Editado por Inês Pinto Pereira