Depois de ter participado em várias competições musicais em Portugal, Iolanda vai representar o país no Festival Eurovisão. Ao JPN, a cantora falou sobre o início da sua carreira musical, a preparação para o Festival da Canção e o que vai acontecer após a sua participação na Eurovisão.

Iolanda Costa, natural de Pombal, começou a vida musical aos 14 anos no concurso “Uma Canção Para Ti”, na TVI. No entanto, a participação no programa foi curta, já que foi eliminada ainda no início.

Em 2017, com 17 anos, Iolanda voltou a tentar a sua sorte nos “Ídolos”, na SIC, com “Cavaleiro Andante”, de Rui Veloso. Ainda que o sucesso ainda não tivesse batido à sua porta, conseguiu chegar aos 15 finalistas. Dois anos depois, decidiu pisar o palco do “The Voice Portugal”, na RTP 1, com “Who You Are”, de Jessie J. Porém, não convenceu o júri e não passou da primeira fase.

Apesar de ter sentido “vontade de desistir”, a artista optou por apostar ainda mais no seu futuro musical e rumou à Universidade de Sussex, em Londres, para fazer o curso de Composição, no Instituto Britânico e Irlandês de Música Moderna. Em 2023, Iolanda revelou, através do EP “Cura”, a sua evolução e potencial no mundo da música.

Ao fim de dez anos cheios de desafios e rejeições, a canção “O Grito”, co-escrita por Luar, é convidada a fazer parte do Festival da Canção e conquistou o primeiro lugar no pódio. Agora, é a caminho de Malmo, na Suécia, que Iolanda cumpre o sonho de representar Portugal na Eurovisão, em maio. Apesar de a casa de apostas dar a vitória à Croácia, colocando Portugal em 30.º na tabela, Iolanda espera que o país “consiga ouvir esta canção e que consiga dar o amor que os outros países também estão a dar” e que a artista “já” sente “de cá”.

JPN – O início do teu percurso musical foi marcado por muitos “nãos”. Participou nos “Ídolos” e no “The Voice”, mas foi eliminada no início. Como reagiu quando recebeu o convite para participar no Festival da Canção? Estava à espera?

Iolanda (I) – O Festival da Canção surge numa altura em que estava a decidir entre fazer uma livre submissão ou deixar acontecer o que acontecesse. E, na verdade, quando vou para enviar uma livre submissão, quase na mesma altura – uns dias antes ou uns dias depois -, surge o convite da RTP. Fiquei muito feliz, muito grata, porque já queria participar no Festival da Canção há algum tempo. Não tinha a certeza se seria o caminho a seguir, mas depois surge [o convite] e fiquei muito feliz, porque é uma comunidade bem bonita, porque pude participar com uma canção que gostava muito e para poder, também, fazer com que a minha carreira avançasse. Já tinha lançado o meu primeiro EP em março, e pensei que seria o próximo passo. Seguimos em frente, aceitei o convite e agora estou aqui.

JPN – A partir do momento em que recebeu o convite, o que é que se seguiu? Considerou isso como um reconhecimento do seu trabalho?

I – Sim. Depois de alguns “nãos”… Foram “nãos” relativos. Nos “Ídolos”, por exemplo, cheguei aos 15 finalistas. Não fui às galas, mas cheguei aos 15 finalistas; no caso do “The Voice”, não passo das [provas cegas], ou seja, não virou nenhuma cadeira. Há um momento em que sinto uma vontade de desistir, mas acho que surge sempre naquele momento em que estamos tristes, porque recebemos um “não”, e se calhar tínhamos alguma expectativa de conseguir seguir em frente.

No entanto, o festival surge como uma motivação extra para continuar a fazer esta profissão e continuar a seguir o meu caminho. É uma profissão muito difícil de seguir e de ter, no contexto em que vivemos no nosso país. É uma profissão que requer muito trabalho, muito investimento. E a cultura nem sempre é levada da melhor forma, no sentido em que é uma coisa que não é tão barata assim. Fazer música é um processo que acaba por ser muito dispendioso e é sempre preciso essa motivação para que consigamos seguir a nossa fé e a nossa vontade de seguir em frente. Portanto, acho que o festival surge, sem dúvida, como uma vontade maior para seguir em frente.

JPN – Foi ao Festival da Canção com a música “O Grito”. O que pretende transmitir com a música?

I – Acho que “O Grito” surge numa altura da minha vida em que comecei a falar um bocadinho sobre a música, um bocadinho mais sobre saúde mental, sobre como me sentia psicologicamente em relação a vários assuntos da minha vida, sejam eles relações, família, traumas pessoais, coisas que às vezes não digo e quero dizer e acabo por guardar para mim. Acho que “O Grito” surge nessa perspetiva de conseguir ser um bocadinho mais real e um bocadinho mais verdadeira comigo mesma.

Escrevo a canção nesse sentido de poder afastar um bocadinho os pensamentos negativos, perdoar pessoas que se calhar me fizeram mal durante o meu processo de vida, o meu crescimento, ou às vezes sem saberem que estão a fazer mal. Todas essas coisas que acontecem em processos de crescimento acabam por deixar mazelas e acho que “O Grito” surge como um largar de todos esses paradigmas, todas essas conclusões que fui tirando ao longo da minha vida, e viver só de forma tranquila e muito mais real, muito mais verdadeira para comigo mesma. Acho que é esse o objetivo geral da canção. E, depois, ser sempre numa perspetiva do poder da mulher e do poder de decisão.

Os fãs da Eurovisão são especiais, são pessoas que vivem aquilo com muita vontade e com muito amor. Isso é muito bonito, porque acaba por nos dar uma sensação de confiança

JPN – Antes da final do Festival da Canção, “O Grito” era a música que tinha maior probabilidade de ganhar na casa de apostas. Isto deu-lhe mais segurança e confiança para enfrentar a final?

I – Na verdade, foi o contrário. Acho que fiquei um bocadinho mais nervosa, quando soube que isso era uma realidade. Não fazia ideia nenhuma durante o processo da primeira semifinal. Depois, na final, é que começo a ver. Também tenho Internet, fui vendo as coisas e fui percebendo que havia uma casa de apostas e que havia muita vontade de levar “O Grito”. Havia mais vontade também do outro lado de levar outras canções e tentei levar isso muito numa perspetiva tranquila, sempre com os pés na terra e sem tomar perspetivas e expectativas muito grandes, porque, na verdade, nunca sabemos o que é que pode acontecer. São sempre apostas que são baseadas em redes sociais, na vontade das pessoas de levarem uma certa canção. Por isso, fiquei tranquila, sem me preocupar muito.

Na final, estava muito mais nervosa, mas também vivi mais. Também me diverti mais, porque não tinha nenhuma expectativa. Acho que o mais bonito do processo todo foi poder ter vivido o festival com uma perspetiva muito feliz e muito grata por todo o amor que estava a receber, independentemente de qualquer resultado. O resultado foi só a cereja no topo do bolo.

JPN – Agora que vai representar Portugal na Eurovisão, queria perceber como é a preparação. Quais são os próximos passos?

I – Agora estamos a fazer alguns ensaios. Estivemos na pré-party de Madrid e foi muito engraçado, muito divertido, uma loucura. Os fãs da Eurovisão são especiais, são pessoas que vivem aquilo com muita vontade e com muito amor. Isso é muito bonito, porque acaba por nos dar uma sensação de confiança, acima de todas as que já vamos tendo durante o processo todo.

Acho que os próximos passos são, sem dúvida, ensaiar muito: preparar tudo a nível de visual, roupas, roupas de bailarinos – são cinco -, preparar a equipa, preparar alguns outros detalhes que queremos enquanto país, porque, apesar de ser um país pequenino, quero muito que as pessoas saibam que nós estamos lá. Portanto, acho que isso é o mais importante para mim. É marcar a posição enquanto representante do meu país, independentemente do resultado. Posso só dizer que vou sempre apresentar a melhor versão de mim naquele palco e, a partir daí, já não é comigo, já não consigo controlar votos, nem nada. É mesmo uma questão de trabalho e de muita sorte.

Estou também a preparar duas datas que vão acontecer logo a seguir à Eurovisão. Estamos a preparar tudo isso em simultâneo para podermos apresentar o concerto no Capitólio, que vai acontecer no dia 22 de maio e no dia 23. O de 23 já está esgotado e o de 22 está quase a esgotar. São dois concertos que estamos a preparar com muito amor, porque logo quando voltarmos da Eurovisão, temos esse processo todo a acontecer. Portanto sim, estão a ser umas semanas de muito trabalho.

JPN – A casa de apostas da Eurovisão dá maior probabilidade de a Croácia ganhar. Portugal, por enquanto, está em 30.º lugar na tabela. Isso é motivo de preocupação?

I – Honestamente não, porque nós somos um país que não tem muitos vizinhos. Ou seja, apesar de não ser um concurso político, na Eurovisão, os países que estão mais perto uns dos outros acabam por segurar-se entre si, como é óbvio.

Acho que as casas de apostas funcionam muito dessa forma, são as pessoas da Europa inteira, e no caso da Austrália que também faz parte, que apostam. São essas pessoas que apostam nessas casas de apostas e acho que esse é o reflexo da situação geopolítica, no sentido de estarmos tão longe dos outros países, como a Croácia, Eslovénia e Estónia. Não temos propriamente grandes vizinhos, a não ser Espanha. Temos França que está pertinho, mas acho que não temos vizinhos de fronteiras suficientes para nos colocar numa posição melhor.

Também sinto vontade que o público em Portugal consiga manifestar-se e viver esta canção dentro da Eurovisão e que consiga ajudar-me também, porque, sozinha, não consigo fazer nada. Acho que tem de ser uma coisa de um país inteiro a ajudar e a lutar para que nós consigamos chegar o mais longe possível. Na verdade, essas casas de apostas são efetivamente o reflexo do que as pessoas votam e, não querendo dizer que acho que não devemos pôr dinheiro nessas casas de apostas, não sei se são assim tão importantes. Como as canções dentro da Eurovisão costumam ser muito mais mexidas, sinto que isso também é um fator para que haja umas que estão mais à frente do que outras. No entanto, sinto que a minha [canção] marca a diferença por ser exatamente o contrário, por ser uma balada muito forte com momentos muito apoteóticos na parte vocal.

Tenho notado muito esse amor das pessoas. Tenho notado muito amor não só de Portugal, mas de muitos outros países – Sérvia, Espanha -, que são países que estão também em contacto connosco de alguma forma, tanto nos anos anteriores da Eurovisão como este ano. Portanto, não me deixa nervosa. Fico à espera que o meu país consiga ouvir esta canção e que me consiga dar o amor que os outros países também estão a dar, e que já sinto de cá. Acho que é um trabalho contínuo. Temos de fazer o trabalho acontecer de forma contínua e estar constantemente a promover.

JPN – Acompanha de perto alguns artistas que estiveram na Eurovisão?

I – Sim, tenho falado com a Mimicat. Sou fã da Maro já há algum tempo e do Salvador Sobral. Tive aulas com a Vânia Fernandes, que representou [Portugal na Eurovisão] em 2008, se não me engano. Tive aulas de canto com ela já há uns anos. Já os outros concorrentes do meu ano, deste ano de 2024, ainda não privei muito com eles, só na festa um bocadinho. Estivemos a falar, a conversar, a partilhar algumas ideias, mas foi tão curto e foi tão rápido que não consegui fazer tudo acontecer com mais intensidade. Mas sim, tenho falado com quase toda a gente.

Editado por Inês Pinto Pereira