Comunicação social portuense deve evitar "a simples representação dicotómica" que opõe a região a Lisboa, sustenta Augusto Santos Silva.

Era para ser uma discussão sobre a comunicação social portuense, mas, mais do que os órgãos de informação, foram a política, a regionalização e os actuais protagonistas da cidade que dominaram as intervenções do debate desta quinta-feira integrado no ciclo “Olhares Cruzados Sobre o Porto”, organizado pela Universidade Católica e pelo jornal “Público”.

Defendendo uma “redefinição cosmopolita da cidade“, o ministro dos Assuntos Parlamentares, Augusto Santos Silva, defendeu que o “Porto tem todas as condições para ter um olhar cosmopolita e moderno” sobre o mundo. A comunicação social portuense deve evitar “a simples representação dicotómica” que opõe a região a Lisboa, sustentou.

O discurso mais optimista do responsável pela pasta da comunicação social no Governo contrastou com os dos restantes intervenientes. “As redacções têm vindo a encurtar no Porto”, alertou o jornalista Jorge Fiel. “Corresponde a um movimento geral de concentração de todo o poder em Lisboa”.

Para Rui Moreira, presidente da Associação Comercial do Porto, faltam órgãos de comunicação que possam “voltar a criar protagonistas que podem ter um papel a nível nacional”. A região “não está bem representada nos media nacionais”, situação que “não é culpa exclusiva dos malvados centralistas que estão em Lisboa”.

E exemplificou com a discussão sobre o Mercado do Bolhão que “está a acontecer na blogosfera” porque os jornais, incluindo os sediados no Porto, “não estão a fazer o seu trabalho de casa”.

Onde estão os protagonistas do Porto?

Mas serão os jornais que não focam os protagonistas do Porto? José Leite Pereira, director do “Jornal de Notícias”, diz que o que existe é uma “crise de protagonistas no Porto”. “Basta olhar para quem está à frente dos partidos no Porto”, frisou. Rui Moreira discorda: “Os protagonistas estão por aí, escondidos. Encontro-os muitas vezes nas universidades”.

Para Augusto Santos Silva, PS e PSD do Porto “hostilizam os melhores quadros que têm”. Mais: quando alguém, como o ministro das Finanças, sai do Porto para integrar o Governo é qualificado de “traidor”. Por seu lado, Rui Moreira questionou: “Por que é que o nosso empreendedorismo não tem outra solução do que ir para fora?”.