São cerca de 100 mil as famílias que não conseguem pagar os créditos contraídos ao banco, revela o boletim estatístico do Banco de Portugal deste mês, divulgado segunda-feira. 3% dos lares portugueses detêm quase 2% do crédito malparado e muitos já recorreram a ajuda especializada.

De acordo com os dados do Banco de Portugal, os créditos de cobrança duvidosa concedidos pelas instituições financeiras a particulares em Janeiro representam um aumento de 3,17% relativamente aos verificados em Dezembro do ano passado, e uma progressão superior a 10% face ao mês de Janeiro de 2007.

A Associação Portuguesa para a Defesa do Consumidor (DECO) revela que os pedidos de ajuda das famílias sobreendividadas têm vindo a crescer, mas o aumento maior deu-se o ano passado. Natália Nunes, responsável pelo Gabinete de Apoio ao Sobreendividado da DECO, revelou, em declarações ao JPN, que o número de processos mais que duplicou o ano passado. “Em 2006 tivemos 905 processos; em 2007 o número subiu para os 1972”, disse.

Tendência de subida

A tendência para 2008 parece ser a de continuar a subida. “O número de processos do primeiro trimestre de 2008 já é superior ao número atingido durante o mesmo período de tempo do ano anterior, ou seja, há a tendência para que os números continuem a subir”, acrescentou Natália Nunes.

Alteração da Euribor tem “impacto muito negativo”

São vários os factores que contribuem para esta perda de controlo no pagamento dos empréstimos. A responsável do Gabinete de Apoio ao Sobreendividado da DECO revela que os motivos mais frequentes de quem procura a sua ajuda são a alteração dos rendimentos, a taxa de desemprego que tem vindo a subir, as taxas de juro e o excessivo endividamento.

“A alteração da Euribor [que atingiu esta terça feira o seu valor máximo] tem também um impacto muito negativo e há quem não consiga pagar”, diz Natália Nunes. No entanto, “há diversos factores, como a doença ou o divórcio, que prejudicam o equilíbrio económico das famílias, mas “é o desemprego o que pesa mais”.

Os bancos têm sido receptivos aos pedidos da DECO de revisão das condições de empréstimo previamente estabelecidas, visto que o facto de os clientes contactarem a associação é sinal de que “pretendem pagar e é do interesse dos bancos receber o dinheiro”. “Só em última instância é que as entidades de crédito recorrem ao tribunal”, explica Natália Nunes, que acrescenta: “As famílias têm-se esquecido da poupança”.