No âmbito da conferência Fábrica 2030, vários empresários falaram sobre a elevada carga fiscal, a necessidade de uma melhor aplicação de fundos europeus e as prioridades que o próximo Executivo deve ter no âmbito das políticas económicas. Foram ainda discutidos temas como a pandemia de covid-19, os conflitos armados e as eleições.

Ana Figueiredo da Altice Portugal, Carlos Mota Santos da Mota-Engil, Miguel Stilwell da EDP, Filipe Botton da Logoplast e António Costa diretor do jornal ECO

Evento decorreu no Super Bock Arena – Pavilhão Rosa Mota, no Porto Foto: Marta Magalhães/JPN

Vários empresários portugueses juntaram-se, esta quinta-feira (8) de manhã, na 7.ª edição da conferência Fábrica 2030, organizada pelo jornal “ECO”, para debater sobre “os fatores críticos para o aumento da produtividade e competitividade da economia portuguesa“. Na edição deste ano, que se realizou no Super Bock Arena – Pavilhão Rosa Mota, no Porto, os oradores falaram, entre outras coisas, sobre a elevada carga fiscal, a necessidade de uma melhor aplicação de fundos europeus e as prioridades que o próximo Executivo deve ter no âmbito das políticas económicas.

“Desde 2012 que a carga fiscal em Portugal aumentou de forma significativa e nunca mais diminuiu, pelo contrário. A despesa pública aumentou em 80% e aquilo que cada um de nós paga ao Estado aumentou em 70%“, afirmou António Correia, presidente da auditora PwC. Durante a apresentação, com o mote “Para onde vai o país?“, o empresário fez questão de reforçar a ideia de que o aumento da carga fiscal e da despesa pública pesa nas famílias portuguesas.

“Que impacto tem nas famílias? Brutal impacto. Se tem nas famílias, tem também no consumo e na prosperidade que existe em Portugal“, explicou.

Em relação à fiscalidade que existe sobre o setor da energia, Miguel Stilwell d’Andrade, CEO da EDP, defendeu que a contribuição extraordinária sobre o setor energético (CESE) é um imposto “estúpido”, que desincentiva o investimento. “É desincentivador que por cada euro que invisto, além de pagar imposto de 31,5%, que é o mais alto na Europa, ainda levo com o imposto extraordinário sobre energia”.

Já Rafael Campos Pereira, vice-presidente da Confederação Empresarial de Portugal (CIP), falou sobre o que é necessário fazer em relação ao próximo pacote de fundos europeus. “Devíamos concentrar-nos na estabilidade da legislação laboral, na questão da redução da carga fiscal e, particularmente, na estabilidade e na previsibilidade da legislação fiscal e, também, na questão da justiça, que é um valor económico de enorme importância que está a ser negligenciado”.

“O grande problema dos fundos é a má utilização”

Para Isabel Furtado, CEO da TMG Automotive, “o grande problema dos fundos [europeus] é a má utilização”. A empresária considera que, para além de não existir uma boa estratégia que diga como devem ser utilizados os fundos, há “falta de accountability, de decisão e de coragem governamental para dizer onde devem ser aplicados”.

Não há uma estratégia a longo prazo que diga que se deve aplicar os fundos em X setores”, disse, afirmando que é habitual dividir-se os fundos “por várias pessoas para ninguém contestar“. “Temos de dividir os fundos de acordo com uma estratégia, não de acordo com ciclos eleitorais“, acrescentou.

Também o vice-presidente da Confederação Empresarial de Portugal concordou com esta análise. “Temos a tendência de distribuir por todas as capelinhas e não nos conseguimos focar naquilo que são projetos prioritários”, disse.

Em relação ao Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), os oradores disseram não acreditar que possa ser executado dentro dos prazos.

Empresários criticam políticas de imigração

Carlos Mota Santos, CEO da Mota-Engil, defendeu que a carga fiscal que existe sobre as empresas portuguesas é superior à que há sobre as espanholas e que isso dificulta o “acesso a recursos humanos e à qualidade desses recursos”. O empresário disse ainda que em Portugal existe uma “alta emigração” e uma política de imigração que “está desencontrada das necessidades das empresas e dos recursos”.

Também Filipe Botton, chairman executivo da Logoplast, diz que “não há uma política de imigração em Portugal”. Para o empresário, trata-se de um assunto “importantíssimo”, no qual “estamos a concorrer com outros países”.

Para a CEO da Altice, Ana Figueiredo, atrair pessoas para as empresas é importante para “rejuvenescer os quadros” e colmatar algumas lacunas, nomeadamente ao nível da produtividade. As “empresas portuguesas estão com dificuldades não só para atrair mão de obra qualificada, mas também mão de obra não tão qualificada”.

Falta de investimento público

Durante o discurso de abertura da 7.ª edição da conferência, o presidente da Câmara Municipal do Porto (CMP) pediu boas políticas públicas.

Rui Moreira pediu também ao próximo Executivo que o “investimento público seja uma prioridade da política orçamental“, relembrando que, em 2022, Portugal foi o país da zona euro com menor investimento público, tendo representado 2,5% do Produto Interno Bruto (PIB).

Para o autarca é importante que o Estado insista de “forma estratégica e eficiente em estruturas modernas, no sistema educativo, científico e tecnológico e na sustentabilidade ambiental” para que o país seja mais competitivo.

Durante o evento, foram ainda discutidos temas como a pandemia de covid-19, os conflitos armados e as eleições, que vão realizar-se em vários países. O evento contou ainda com a participação do secretário-geral do Partido Socialista (PS), Pedro Nuno Santos, e do líder do Partido Social Democrata (PSD), Luís Montenegro.

A conferência, que estava inicialmente agendada para 9 de novembro, foi adiada, após a queda do Governo.

Editado por Inês Pinto Pereira