Em declarações ao JPN, os dois comentadores consideram que cabe ao próximo governo a resolução de problemas estruturais na sociedade portuguesa, caso o objetivo seja evitar que o Chega continue a crescer nas urnas.

O social/democrata Marques Mendes e a socialista Ana Gomes comentam os resultados da noite eleitoral. Foto> Abreu Advogados // Ana Gomes/Facebook

A Aliança Democrática (AD) foi a coligação vencedora das eleições legislativas deste domingo (10), com 29.49% dos votos, uma distância muito curta para o segundo classificado, o Partido Socialista (PS), que obteve 28,66%. O grande vencedor da noite, foi, no entanto, o Chega. O partido liderado por André Ventura quadriplicou a sua votação, passando de 12 deputados eleitos em 2022 para 48, nestas eleições. Na reação aos resultados, o líder do partido salientou o “resultado histórico” e o “fim do bipartidarismo em Portugal”.

Para Luís Marques Mendes, a vitória da AD tem um “sabor amargo, porque é uma vitória muito curta, mas dá-lhe toda a legitimidade para governar”. Já Ana Gomes revela a sua preocupação “pela governabilidade do país e o retrocesso que o impasse que nós estamos a ver pode provocar”.

Ambos os comentadores alertaram para a necessidade de um bom desempenho do próximo governo se o objetivo for quebrar a dinâmica de crescimento do Chega. Para Marques Mendes, o próximo governo “tem que dar resposta a algumas das preocupações dos portugueses como a questão dos reformados, melhorar a saúde, tomar iniciativas para descer impostos, para um combate mais firme à corrupção”. “Há um milhão de portugueses que estão profundamente zangados, é preciso responder às preocupações que estão por trás desta zanga”, completou.

Ana Gomes coloca a prioridade no combate à corrupção, mas tem duvidas que a AD seja capaz. “O combate à corrupção é essencial para não dar munições ao Chega. Se haverá capacidade da parte da direita que vai assumir o poder, não sei”, disse.

Já o comentador da SIC sublinha também que “um combate mais eficaz à corrupção pode não implicar mais dinheiro, mas implica maior vontade política“. O antigo líder do PSD faz um alerta para a necessidade de “uma governação completamente diferente do habitual, com novas caras”. Acrescenta ainda que apesar de o “Chega estar em alta”, em política “a iniciativa é essencial” e essa “está do lado do governo”. “Se o executivo governar bem, o Chega pode atrapalhar, mas o Governo marca pontos”, completa.

A candidata à presidência da República em 2021 receia que “a direita democrática não traga nenhuma solução, antes, pelo contrário, agrave os fatores da desigualdade”. A socialista destaca medidas como a descida de impostos que avalia negativamente, porque “é um choque fiscal diminuto para as classes médias e baixas, e é uma diminuição brutal de impostos para os mais ricos, agravando os fatores de desigualdade”.

A ex-eurodeputada comentou ainda a iniciativa de Mariana Mortágua de pedir uma reunião com os restantes partidos de esquerda. “É positiva e acho que a situação é tal que, de facto, urge que a esquerda se encontre, reflita em conjunto e, sobretudo, procure desenhar estratégias articuladas que permitam intervir e não dar munições à extrema-direita.”, afirmou.

Editado por Filipa Silva