"A Invenção do Canto e Outros Versos" é o novo livro de Carlos Tê lançado esta quinta-feira (14) na Livraria Lello. O livro junta as letras dos maiores clássicos do autor e é o segundo lançamento da série "Poema Letra" da coleção Plural. À conversa com o JPN, o letrista fala do "poder da canção" e das suas letras "intrinsecamente poéticas".

Rui Veloso

Alguns dos maiores êxitos de Rui Veloso foram escritos por Carlos Tê. Foto: Luísa Correia/JPN

Depois de ter lançado uma coletânea de contos, um livro de teatro e um romance, Carlos Tê publica agora em verso. No mês em que se celebra o Dia Mundial da Poesia, o autor lança o livro “A Invenção do Canto e Outros Versos” editado pela Imprensa Nacional. A apresentação decorre esta quinta-feira (14) a partir das 21h00 na Livraria Lello e vai ser moderada pelo jornalista João Gobern.

Carlos Tê é autor de muitas das letras das canções que habitam o imaginário coletivo português. Entre elas, “Porto Sentido“, “Chico Fininho“, “O prometido é devido” e “Não há estrelas no céu“, interpretadas por Rui Veloso. Mas também “Competência para amar”, pelos Clã e “A seita tem um radar”, pelos Cabeça no Ar.

Numa época em que a música é consumida através das plataformas de streaming, Carlos Tê evoca a era dos vinis, quando as letras das canções acompanhavam os discos. Mas “os discos foram-se desmaterializando” e agora “não se veem as letras das canções”, explica. É neste contexto que emerge “A Invenção do Canto e Outros Versos” como forma de fixar “em página” a sua escrita.

“Enfiado nos livros, na poesia e nos versos” desde os 15 anos, Carlos Tê descreve o seu percurso como algo que se fez “das canções para os livros”, pisando “uma terra comum entre canções e a poesia”.

Este livro, “A Invenção do Canto e Outros Versos”, reúne praticamente todas as letras para canções que escreveu, no período de tempo entre 1980 e 2022. Carlos Tê escolheu aquelas “que tinham qualquer coisa de intrínseco, poeticamente intrínseco”. Ou seja, “aquelas que se pudessem aguentar por si, independentemente de fazerem parte de uma canção ou não”.
“Vieste comigoNesse jeito pós-modernoDe não querer saber nadaDe não fazer perguntasEssa pose cansadaTão despida de emoçãoDe quem já viu tudoE tudo é uma imensa repetição”
Competência para amar“, interpretada pelos Clã, escrito por Carlos Tê

Autor de temas intemporais, reconhece que “o poder da canção” reside no facto de poderem perdurar no tempo e por isso é que muitas delas habitam no imaginário coletivo português.  E isso acontece porque lhes é dado “um corpo”, onde o cantor e a letra se encontram. E o cantor, apropriando-se de “pequenos papéis”, consegue por vezes “atingir em cheio” e aí, “tornam-se grandes”, explica Carlos Tê ao JPN.

O cantor que interpreta e a letra que é escrita, são elementos que andam de mãos dadas. E nenhum existe sozinho no espaço com a mesma presença que os três juntos ocupam. Por isso, a letra e o intérprete têm que se “subordinar à canção”. “O primeiro objetivo a ser conseguido é que uma canção faça sentido”, conta.

Para Carlos Tê, as suas letras por si só não passam de “projetos”, só quando um cantor lhes dá vida, é que elas passam a existir na totalidade. E nesse sentido, “muito do mérito que existe, pertence aos cantores” por lhe darem um “corpo”, explica.

A colaboração que mais relembra é com Rui Veloso e a capacidade que tinha para tornar as suas letras em “canções que se tornem grandes”. Como explica, o cantor é quem permite que a canção “tenha asas para voar” e “sem eles (cantores) nunca saberíamos se são grandes ou não”.

A mais recente obra de Carlos Tê faz parte da série Poema Letra, da coleção Plural, editada pela Imprensa Nacional. Esta série foi inaugurada em fevereiro com o livro “Razão de Ser e Outras Letras” de João Monge, autor de letras também. Desta vez com Carlos Tê, a palavra e quem a escreve ganha mais uma vez destaque. No entanto, o autor do livro espera que as pessoas não olhem para isto “como objetos independentes de poesia”, mas antes como parte de um todo que é uma canção.
 
A apresentação é esta quinta-feira, num evento de entrada livre, na Livraria Lello. A sessão requer inscrição.