O lançamento de uma petição por estudantes universitários a favor da criação de um pólo da Cinemateca Portuguesa no Porto levantou, uma vez mais, a questão na cidade, algo que não é de agora.

Suscitou reacções por parte do director da Cinemateca, João Bénard da Costa (que se opõe), da antiga ministra da Cultura Isabel Pires de Lima (a favor), tendo culminado com as declarações do actual responsável pela pasta, José Pinto Ribeiro, de que “não há qualquer entrave” à criação do pólo na Casa das Artes.

Fora desta troca de opiniões esteve uma das entidades mais históricas da cidade no que diz respeito ao cinema: o Cineclube do Porto. Hoje, a instituição, com sede junto ao Hospital de Santo António, é muito diferente do que era há 50 anos e as condições são significativamente piores, tal como é a sua presença a nível cultural na cidade.

Contudo, a directora, Brígida Velhote, é categórica ao expressar a sua opinião acerca do estabelecimento de um pólo da Cinemateca no Porto: “Aquilo de que precisamos é de uma instituição autónoma pela nossa [do Porto] autonomia”.

A responsável do cineclube mostra-se completamente de acordo com a posição de Bénard da Costa, que, em artigo de opinião publicado a 18 de Junho no jornal “Público”, declarou o seu apoio à “constituição de um núcleo de exposição permanente no Porto, devidamente formalizado e dotado de todas as infra-estruturas necessárias para o efeito”, contando sempre com a “colaboração activa da Cinemateca Portuguesa quer para cedência de cópias, quer para abonar contactos necessários com cinematecas estrangeiras”.

“O Porto devia ter 10 ou 50 cineclubes”

Brígida Velhote, em declarações ao JPN, explica que querer um pólo da Cinemateca, ou seja, dependente de Lisboa, em vez de se criar uma instituição autónoma significa estar novamente “à espera de migalhas”. “O Porto devia ter 10 ou 50 cineclubes”, diz a responsável, garantindo que há na cidade capacidade para fazer mais e melhor.

A directora do Cineclube do Porto, o mais antigo do país, critica, também, a apatia generalizada que existe na cidade em torno do tema: “Se fôssemos agora para a rua perguntar às pessoas o que pensam do Porto ter um pólo da Cinemateca, o que nos diriam?”.

“Afinal é para quem o cinema?”

Brígida Velhote apela a que não se faça do assunto da Cinemateca “uma moda”. “Isto já é uma questão social. As pessoas foram sendo afastadas da cidade”, destaca, referindo-se à saída das pessoas do Porto para os concelhos envolventes. “Onde é que estão as pessoas no Porto? Afinal é para quem o cinema? Sabem quantos milhares de filmes não chegam nem a Lisboa?”, questiona.

Para Brígida Velhote, o próprio Cineclube do Porto poderia desempenhar um papel na constituição desta instituição com laços à Cinemateca, mas apenas se contasse com apoio a nível político, cultural e autárquico.