Tem a vantagem de ser chamado o “mais antigo do país”, mas para o Cineclube do Porto esse epíteto não é um grande conforto, uma vez que, no dias que correm, as dificuldades financeiras falam mais alto. O edifício onde a instituição tem a sua sede passa facilmente despercebido. Perto das urgências do Hospital de Santo António, perto do Museu Soares dos Reis, um pouco mais longe do Conservatório da cidade, ainda mais longe do estatuto que outrora viveu.
É no primeiro andar deste edifício, que claramente já viveu tempos de encanto, na Rua do Rosário que se encontra o Cineclube do Porto. As dificuldades que a instituição vive estão à vista. O chão de madeira velha e gasta, as paredes e o tecto em decomposição. E entre este chão e este tecto, encontra-se o arquivo e a biblioteca do mais antigo cineclube nacional. “Precisávamos de um espaço, precisávamos de não estar aqui”, explica Brígida Velhote, directora da entidade. “Naturalmente, as pessoas afastam-se” ao se depararem com o cenário que acolhe o Cineclube do Porto.
“Estamos aqui por amor à cidade”
Há alguns anos, sofreram uma ameaça de despejo pelo senhorio depois de terem pedido uma vistoria à câmara. O processo arrastou-se durante cinco anos em tribunal e terminou com uma decisão favorável ao cineclube. Contudo, a situação chegou ao ponto em que já nem água há nas instalações. Este ano foi feita nova vistoria pela autarquia, cujo resultado ainda está por chegar. Recentemente o espaço foi arrombado numa tentativa de assaltar o quiosque que se encontra sob o cineclube. Para chegarem até lá, os ladrões afastaram as cadeiras do auditório e abriram um buraco no soalho – continua lá, tapado por uma placa branca.
Fundado em 1945, já foi dos mais importantes cineclubes do país. Porém, hoje conta com cerca de 300 sócios. Este dado torna-se ainda mais frágil se for explicitado o número de sócios com as quotas em dia: 10, nas contas de Brígida Velhote.
A directora explica que há muitos jovens que chegam a ir ao cineclube, fazer e pagar a inscrição, mas que desaparecem e nunca mais voltam. “Tenho aqui os cartões de sócio de muitos”, diz. No que toca a actividades, o Cineclube do Porto desenvolve cursos de projecção e conta com as noites dos realizadores no espaço Chã das Eiras, cuja programação está assegurada até Setembro.
Tendo em conta que o cineclube é uma associação e, como tal, vive da colaboração dos seus associados, a situação torna-se complicada quando não há apoios. “É difícil, muito difícil”, sintetiza a directora. “Mais fácil seria fecharmos a porta e irmos embora”. Apesar dessa ideia poder estar presente, o espólio da instituição (de películas a colecções de livros, incluindo objectos como cópias do histórico filme expressionista “Gabinete do Dr. Caligari”) tem uma importância demasiado valiosa para ser algo ao qual se viram as costas. “A própria direcção vai pagando as contas, tudo para salvar a história do Porto. Estamos aqui por amor à cidade”.
“Isto tem capacidade para ser uma coisa fantástica, mas necessita de sangue novo, de dinheiro e espaço para fazer alguma coisa”, lamenta Brígida Velhote.