Afirmou que não está no Fantasporto pelo lucro. Se não é o retorno financeiro, o que é que o motiva a continuar a dirigir o festival depois de quase 30 anos?

Eu diria que a única razão é a paixão pelo cinema, o respeito pelas três gerações que acompanham hoje o Fantas. O aspecto negativo é que nós estamos a fazer ao longo do ano um trabalho extremamente burocrático, que não tem nada a ver connosco. Eu acho que devia haver alguém que tratasse dessa área e nos deixasse fazer aquilo que é a nossa função, que é o trabalho artístico e a parte organizativa do festival.

Quais principais diferenças que vê no Fantas da actualidade relativamente àquele que imaginou há 30 anos atrás??

Tem mais a ver com a questão financeira, o orçamento e as obrigações cresceram com o impacto internacional do festival. Se nós baixássemos a qualidade do festival, perdíamos impacto mediático e a imagem internacional que temos. Tivemos presença física em festivais de impacto, como Cannes e American Film Marketing. Acho que, se falhássemos nesse tipo de presença, estávamos a matar o festival e quem faz o festival somos nós, não é o Estado, não é a autarquia. Eles passam, nós ficamos”.

E o que é que ainda está por fazer?

Rigorosamente nada. Aliás, faltam precisamente mais nomes conhecidos da primeira divisão do cinema mundial para conseguirmos ter motivos de interesse muito mais fortes do que propriamente os filmes.

Incomoda-o o facto de continuar a ser considerado “a cara do Fantasporto”?

Eu já não sou tanto a cara do Fantas. Os próprios media marginalizam as mulheres, e não é de agora. Dando um exemplo concreto: uma jornalista queria entrevistar-me por causa do lançamento do livro da Beatriz Pereira, que também está na direcção do Fantas. A questão é que eu apareço sempre como uma figura mais institucional do que ela. Mas aos poucos a Beatriz vai tendo o seu devido espaço na comunicação social.