O que mudou no público do Fantas ao longo destes anos? Quem vem hoje ao festival?

Já vamos na terceira geração de público e de jornalistas e eu creio que houve varias readaptações. O festival começou voltado para o imaginário. Depois de 10 anos, decidimos tornar o festival mais generalista pela ausência de tantas produções no mundo do fantástico, daí criamos a Semana dos Realizadores. Passado alguns anos, criámos a sessão do “Orient Express”. Hoje em dia, o Fantasporto não é um festival, são três festivais paralelos: um vocacionado para o fantástico, outro para o cinema em geral e outro ainda para o cinema oriental.

Há quem diga que o Fantasporto é hoje um festival dividido em duas vertentes: uma voltada mais para o público em massa, para o cinema comercial, e a outra baliza que contempla o circuito alternativo. Esta visão do festival é ultrapassada?

Este ano passaram, de facto, três filmes comerciais: The Deal, Outlander e The Unborn. São filmes motores do festival, que chamam a comunicação social. Não é que o Fantasporto ceda ao comercial, pelo contrário, precisamos desse filmes para conseguir chamar as pessoas para assistirem depois ao cinema independente. Isso é algo que sempre aconteceu, não é novidade para ninguém, e só demonstra a importância do festival por promover o diálogo entre um evento cultural e o mundo da indústria.

Alguns críticos dizem que o Fantas se aburguesou para continuar a existir. Os desígnios do festival devem mesmo ser alterados com o tempo?

As pessoas que não sabem de cinema acham que por um filme ganhar Óscares é um filme comercial. Agora também vou ser radical. Se precisamos de ter dois ou três filmes comerciais, é para chamar a atenção da comunicação social, e não do público. Por outro lado, todos os grandes do cinema passaram pelo Fantas. 80 a 90 por cento dos filmes presentes nas sessões oficiais são comprados depois para o circuito comercial, que eu creio que é umas das funções principais de um festival: conseguir abrir a porta do circuito comercial ao cinema independente.

O Fantasporto parece apostar cada vez mais numa programação ecléctica, desvinculando-se do nicho dos filmes fantásticos. Isso reflecte, de alguma forma, o amadurecimento do festival?

Claro. A nível internacional, nós ainda temos a imagem de cinema fantástico, isso é uma questão de marketing. Um festival generalista realizado em Portugal a nível internacional não é nada, há dezenas de festivais de cinema em todo mundo. Nós somos cinéfilos, não somos amantes somente de cinema fantástico. Basta ver as sessões da Semana dos Realizadores, têm tanta gente como as sessões de cinema fantástico. Muitas vezes as pessoas ficam pasmadas, mas a nossa programação é ecléctica há mais de 20 anos.

À semelhança de outros anos, o Fantas 2009 ano trouxe ao Porto nomes mediáticos do cinema internacional como Wim Wender e Paul Schrader. Esta é uma aposta para continuar no futuro?

Eu acho que sim, aliás é isso que tentamos vender em termos de justificação ao Instituto do Turismo, essa é a nossa única reivindicação. Este ano, houve uma sobrecarga de nomes conhecidos na zona final do festival e durante o festival. No caso da Malu Mader, uma actriz muito conhecida, nós trouxemo-la porque ia atrair um outro tipo de comunicação social, aquela do coração e mais virada para um outro público. Pareceu-nos também muito importante ainda a ligação que fizemos com a Galiza.

O surgimento de novos festivais, nomeadamente em Lisboa, ameaça algumas directrizes do Fantas, não só ao nível do financeiramente quanto em questão de público?

Não, porque há uma diferença gigantesca em termos mediáticos daquilo que é o Fantasporto face a outros eventos. O Fantasporto é considerado pelo presidente do Instituto de Cinema e audiovisual o maior evento cinematográfico português. Por outro lado, há um exagero de eventos e uns matam-se aos outros. Fomos convidados várias vezes para fazer o Fantas em Lisboa, em Angola, em Londres, no Rio de Janeiro, mas o que acontece é que, para já, temos este grande evento e não vamos estar a subdividir esforços nem perder força em relação ao festival aqui no Porto.