Com os Ornatos Violeta, há uns anos atrás, acusavam-te de “ajudar a reavivar o espírito da música portuguesa, especialmente a cantada em português”. Concordas?

É um bocado redutora a ideia da música portuguesa. No sentido de cantar em português, se calhar sou mais um, digamos, a semear essa experimentação com o português. Mais um, porque eu também sempre cresci com o Reininho, com o Jorge Palma, Sétima Legião, etc, portanto, para mim, sempre houve música portuguesa.

Fazia mais sentido cantar em português?

Sim. Exactamente, porque eu tinha essas referências. Foi mesmo natural. Eu tentei cantar em inglês, fazer umas coisas em inglês, mas pronto, não me soava bem, não acreditava naquilo. Se calhar também porque não dominava assim muito bem [o inglês].

Incomoda-te quando te chamam o “poeta vivo da música”? Os rótulos incomodam-te?

Não, não. Acho que são maneiras de as pessoas se situarem, embora seja tudo muito vago. Mas também encaro, se calhar, o “poeta”, no sentido de alguma introspecção e filosofia, contemplação. Em termos de estrutura, não encaro as músicas muito como poemas. Encaro como parte de canções, funcionam como o som. Embora eu não me avalie por eles, é fixe quando ouves uma coisa que percebes que é elogio. Por mais profundo que tentes ser, também vives na trivialidade e precisas dessa trivialidade e precisas de te alimentar dessas coisas. É humano. E acho que também tenho os meus momentos de comprar o “Blitz” e ver cromos, como eu (risos).

O que é que achas que é mais importante no mundo da música hoje em dia? Um som único que atraia um grande grupo de seguidores à volta do projecto, ou simplesmente chamar a atenção dos mais jovens?

Um som único é uma ideia que me agrada. Um som único, não, se calhar, no sentido de um grupo de músicas, mas a ideia do som. Um registo que é único e que sentes que acrescenta alguma coisa ao mundo, no sentido de que é teu.

Qual é a melhor fórmula? O entusiasmo de um novato ou a experiência de um músico veterano?

Adoro o novato que ainda está a aprender, embora tenha conhecido excelentes músicos que nunca tenham deixado de estar nesse estado [de entusiasmo], ou seja, que já têm a experiência mas que continuam a gostar de não dominar. Acho que é mesmo uma questão de atitude. E também já vi novatos que estão hiper obcecados com conseguir determinado objectivo técnico. Mas à partida, o entusiasmo é meio caminho andado, como a sopa.

Alguma vez questionaste a tua música?

(risos) Tantas vezes! Acontece que agora não me acontece com a mesma intensidade, o que não quer dizer que não me aconteça de haver alturas em que entro nesse conflito. Só que agora eu faço uma coisa: quando não estou a gostar, passo uns dias a fazer outras coisas mais práticas.

Toda a gente quer saber quando os Ornatos Violeta voltam…
Pois, não se pode dizer que uma coisa é impossível. Mas eu sou outro e eles são outros já. Os Ornatos são o passado.

Já não faz sentido?
Neste momento acho que não. Mesmo que um dia voltem! Podemos voltar com o mesmo nome, mas as pessoas vão ter mais anos em cima, outras experiências, etc. Já não vão ser as mesmas pessoas, são outras.