A carreira de um dos grandes humoristas da actualidade é revisitada pelo JPN, numa altura em que Herman está afastado da televisão e desiludido com o fim do programa Roda da Sorte.

35 anos representam uma carreira longa, repleta de momentos para recordar. Herman José aceitou o desafio do JPN e fez um balanço do percurso que o levou dos tempos de “Sr.Feliz e Sr. Contente” até à “Roda da Sorte”, o último trabalho na SIC.

Herman não coloca de parte um regresso à televisão. Aliás, já pode ser visto no programa “Uma Canção para ti”, da TVI. Mas “quanto a um regresso, só faz sentido na RTP, porque para apostar no vanguardismo, só mesmo o canal público, uma vez que não teme as audiências”, garante, lamentando que o “Hora H” não tivesse sido transmitido pelo canal público.

Da SIC, que recentemente abandonou, após o encerramento do programa “Roda da Sorte”, Herman não tem palavras positivas. O humorista considera que o terceiro canal é “mal gerido” e está “quase falido”, o que faz com que “não suporte alguns projectos”. “Foi com grande desgosto que assisti ao encerramento do ‘Roda da Sorte’. Nós tínhamos duplicado as audiências”, diz Herman.

Regresso na TVI

Herman José é a cara do novo programa de entretenimento da TVI, que começou no início de Julho e durará até Setembro. A contratação, anuciada no passado dia 3 de Junho, pelo antigo director da estação José Eduardo Moniz, dura até Setembro, altura em que o programa termina. Fica aberta a possibilidade de permanecer na estação de Queluz. O programa centra-se na selecção de um grande talento musical.

Não era um rapaz com muito talento

Antes da fama, Herman estreou-se em 1974 no teatro de revista, com a peça “Uma no Cravo Outra na Ditadura”, um trabalho reivindicativo.”Não era um rapaz com muito talento”, lembra, confessando só se ter revelado “cinco ou seis anos mais tarde”. Recorda-se como um rapaz “novinho, bonitinho, que encantava as raparigas”. O reconhecimento veio um ano mais tarde, com o número musical “Sr. Feliz e Sr. Contente”, onde emparelhou com Nicolau Breyner.

Em 1977, lançou-se nas música, com o disco “Saca o Saca-rolhas”, que “foi um êxito gigantesco”. O sucesso musical chegaria ainda em 1982 com “Beijinho”, que Herman considera a sua “assinatura”, e “És tão boa”, em 2006. “Eu sempre cantei”, remata.

1981 marca o seu primeiro grande êxito a solo, com a personagem Tony Silva, “uma brincadeira que se fazia nos estúdios sobre os imigrantes da América do Sul”, no Passeio dos Alegres, programa da RTP.

“Portugal ainda não está preparado para a diferença”

Na RTP, escreveu, protagonizou e dirigiu os programas “Tal Canal” (1983), “Hermanias” (1985) e “Humor de Perdição” (1987), um programa que se caracterizava por entrevistas a personalidades históricas, como Adolf Hitler. O programa acabou por ser, ao fim de apenas dez emissões, encerrado. Tratava-se do primeiro caso de censura em Portugal após o 25 de Abril.

“Três horas de discussão na Assembleia da República. Foi um acto de coragem. Não o voltaria a fazer. A máquina do poder é muito forte e Portugal ainda não está preparado para a diferença”, recorda Herman José ao JPN.

Duas décadas mais tarde e muitos programas de sucesso depois, Herman viu o trabalho reconhecido com atribuição do prémio “International Top Choice Award”.