Em Julho, Nicolás Robbio e Isabel Carvalho colocaram a rádio e a cidade em confronto no primeiro episódio da exposição “Emissores Reunidos”.

Agora, o edifício n.º 74 da Rua Cândido dos Reis recebe “Senhor Fantasma, Vamos Falar”, o segundo momento da exibição, inaugurada esta sexta-feira. Até 24 de Janeiro de 2010, a antiga sede da Radiodifusão Portuguesa (RDP) vai expor trabalhos do paulista Marcelo Cidade e do português Renato Ferrão. Todos – excepto uma instalação do brasileiro – concebidos especificamente para este espaço.

A duplicidade de Renato Ferrão

Ferrão recorre a técnicas de duplicação para, de alguma forma, surpreender o público. Inspirando-se em alguma literatura do século XIX, como o Duplo, de Dostoievski, o artista reflecte ironicamente sobre a burocratização do trabalho.

Assim, se no início da exposição vemos as gavetas de uma secretária a sobrevoar uma sala, no final poderemos observar novamente uma secretária semelhante com gavetas semelhantes.

Serralves 2009 – A Colecção:

A exibição Serralves 2009 – A Colecção, que arrancou em Maio, chega também agora ao seu segundo momento. A mostra, que também é inaugurada esta sexta-feira, incide sobre “formas de edição múltipla da obra de arte através do livro de artista, do som e da fotografia”, como se pode ler em comunicado da instituição. Uma parte desta exposição encontra-se também visível no edifício da Rua Cândido dos Reis.

Ou, ainda, num edifício antigo, com vários lanços de escadas, onde o elevador não é utilizado e, por isso, com graves lacunas a nível de acessibilidade, Renato Ferrão colocou uma rampa à entrada de uma sala, algo que é normalmente utilizado para o acesso de pessoas com deficiência motora.

Uma maneira de pôr em xeque a “ditadura da performatividade”, diz o comissário da exposição, Ricardo Nicolau. Um objectivo que Marcelo Cidade também perseguiu.

Do graffiti para as galerias

No seu trabalho, o paulista nunca deixa de regressar ao street art, reflectindo, continuamente, uma permanente transição entre o “artista do graffiti” e aquele que “expõe em museus”, afirma Ricardo Nicolau.

Deste modo, reproduz uma famosa peça do americano Robert Morris, mas colocando-lhe espetos anti-pombos e dando-lhe o nome “O Último dos Moicanos”.

Uma trabalho que, por sua vez, se encontra dentro de uma sala decorada com pequenas bandeiras negras, realizadas em lixa de skate. Um ambiente que remete para a street art, com claras referências à banda punk Black Flag, mas que também reporta aos trabalhos de Alfredo Volpi, artista ítalo-brasileiro que pintava, obsessivamente, esse mesmo símbolo.

Numa outra sala, explica Ricardo Nicolau, Marcelo Cidade estabelece um “confronto entre uma tradição neoconcreta” com um “dos objectos mais utilizados pelos sem-tecto [sem-abrigo] de S. Paulo: os cobertores”.

Assim, nas três mantas dispostas pela sala pode ler-se “Coca com Cola”, uma referência à poesia concreta brasileira. No centro do espaço, observa-se uma lata de cola Triunfante.