Escrevia sobre a infância dourada, a infância agredida e a infância como projecto. A sua defesa dos direitos da criança levou-a mesmo a ajudar na fundação do Comité Português para a UNICEF e do Instituto de Apoio à Criança. Matilde Rosa Araújo faleceu em Lisboa, terça-feira, aos 89 anos, de doença prolongada. Mais de metade da sua obra, de que constam cerca de 40 livros, foi dedicada à infância, tema que nunca a abandonou como escritora, nem como pessoa.

As demonstrações de pesar pela morte da escritora não se fizeram esperar. Cavaco Silva, Presidente da República, numa mensagem deixada no site da Presidência, revela que Matilde era uma mulher “merecedora de respeito de todos os que acompanharam o seu percurso pessoal e profissional.”

O Ministério da Cultura também salientou a importância da escritora, dizendo que esta “revolucionou a literatura infanto-juvenil” através de uma “escrita singular” e dando igualmente relevo à sua “cidadania activa” e empenhamento na causa dos “direitos das crianças”.

O Centro Nacional de Cultura, de que era sócia, retrata-a como “uma das grandes referências da cultura portuguesa”. “É uma grande perda, de uma figura insubstituível”, pode ler-se no comunicado. “A melhor homenagem é lê-la e dá-la a ler aos nossos filhos e netos…”, pedem.

Já o Comité Português para a UNICEF, criado pela escritora em 1979, também em comunicado, lamenta “profundamente a morte de Matilde Rosa Araújo, sua sócia fundadora e incansável defensora dos direitos da criança”. No documento, o Comité realça que, ao longo da vida, “as crianças ocuparam um lugar central”, na sua “actividade como professora, escritora e como pioneira da divulgação e defesa dos direitos da criança em Portugal”.

“Os jovens ensinaram-me uma espécie de luz da vida”

Entre os diversos prémios recebidos tanto em Portugal, como além fronteiras, destacam-se o Grande Prémio de Literatura para Criança da Fundação Calouste Gulbenkian, em 1980, a condecoração, em 2003, que recebeu de Jorge Sampaio e o Prémio de Consagração de Carreira, que recebeu da Sociedade Portuguesa de Autores em 2004.

Foi neste último que acabaria por explicar a motivação da maioria das suas obras. “Os jovens ensinaram-me uma espécie de luz da vida”, dizia, acrescentando que “o seu olhar é de uma verdade intensa e absoluta”.

Em Outubro será lançado o conto “Florinda e o Pai Natal”, obra inédita da escritora. O corpo da autora está em câmara ardente na Sociedade Portuguesa de Autores e o funeral realiza-se quarta-feira no Cemitério dos Prazeres, às 15h00.