Como está a ser esta nova experiência no Porto Canal?

Está a ser extraordinária! Eu fui sempre muito defensor da regionalização e fui sempre muito defensor da ideia que não tínhamos que ir todos para Lisboa para ter um percurso nacional e para sermos reconhecidos. Tive um convite para ter um projeto no Porto de dimensão nacional e não podia recusar. E portanto, foi com grande entusiasmo que encarei isto e acho que vamos ter aqui no Porto um canal de televisão à medida do Porto, do Norte, e que vai orgulhar as pessoas.

A TVI é então um capítulo encerrado?

Completamente encerrado! Já foram 12 anos da minha vida, como a RTP foram 10, no início, e também encerrei. Encerrei também o da TVI. E agora os próximos anos, espero eu que muitos e bons anos, tantos, pelo menos, quantos foram na TVI, sejam aqui no Porto Canal.

Não há arrependimentos, portanto?

Nenhuns, nada, nada, nada! Nenhum mesmo. Quando tomo uma decisão, é mesmo para a tomar. Andei muitos meses a ponderar se havia ou não, como há muitos anos andei muito tempo a ponderar se havia de trocar a RTP pela TVI. Agora andei a ponderar se devia trocar. A partir do momento em que eu decidi trocar, tudo o que está para trás, fica para trás.

“O Porto Canal será o único canal de televisão feito fora de Lisboa”

Porto Canal e TVI são duas realidades totalmente diferentes?

Claro, não tem nada a ver uma coisa com a outra. Dimensões diferentes, sítios diferentes, orçamentos diferentes, pessoas diferentes… Mas mais aliciante este, como deve calcular. Ao fim de 12 anos na TVI, depois de ter feito o percurso todo na TVI, já não tinha grande motivação para lá estar. O que é que difere o Porto Canal da TVI? É precisamente a motivação de começar um projeto novo, de trabalhar com gente nova e erguer aqui alguma coisa fora de Lisboa. O Porto Canal será, doravante, o único canal de televisão feito fora de Lisboa.

O Futebol Clube do Porto (FCP) é um dos proprietários e quem gere o canal. Considera a aposta num canal já com emissão e raízes, mais inteligente que a criação de um canal de raiz, como fizeram outros clubes da europa?

Claro! Acho que o FCP teve uma atitude muito inteligente. Ter um canal de um clube não é viável. E se fosse isto um canal do FCP, só para passar conteúdos do FCP, não teria vindo. O FCP fez aquilo que mais ninguém fez até hoje: foi pegar num canal de televisão, ter conteúdos num canal de televisão, mas dar ao Porto e ao norte um canal de televisão fora de Lisboa. E foi nessa perspetiva que eu aceitei. O Porto Canal vai ser um canal generalista, no cabo, com informação, com debate, com entretenimento e com conteúdos do FCP.

O FCP tem opção de compra do canal em 2013. Parece-lhe o desfecho mais provável?

Foi nessa perspetiva que o FCP se meteu neste projeto e acho que é isso que vai acontecer.

E isso pode ter algum outro tipo de influência no canal?

Pode. A partir do momento em que o canal seja definitivamente do FCP, poderemos pensar então noutros voos, noutras perspetivas e noutros projetos. Para já, não podemos fazer grandes investimentos, nem podemos dar passos maiores que a perna, porque nos tempos que correm tudo tem de ser feito com conta, peso e medida. Não podemos chegar daqui a um ano, quando o FCP tiver opção de compra sobre o canal, e acharmos que foi um investimento desmesurado em relação àquilo que devíamos ter feito e o FCP perceber, com isso, que afinal foi um péssimo negócio e não fazer esse investimento, que eu acho que vai fazer daqui a um ano.

Qual a importância das delegações que o Porto Canal tem espalhadas pelo país?

Essas são decisivas, porque a ideia não é que o canal se feche nas muralhas fernandinas do Porto. É um canal do norte para o país inteiro. Ora, para darmos o norte temos de ter delegações em todo o lado, como já temos. Já temos oito delegações abertas [a saber, Braga, Guimarães, Penafiel, Minho, Vila Real, Trás-os-Montes, Aveiro Norte e Lisboa]. E hoje, nas várias regiões do centro e norte do país, já temos um retorno muito grande. As pessoas já se revêm, acham que os eventos da terra deles, da rua deles, do sítio deles, só passam no Porto Canal, porque as televisões generalistas estão a fazer um desinvestimento muito grande a nível nacional.

“O jornalismo deixou de ser de informação para passar a ser de causas, de ajuste de contas, muitas vezes”

Para si, qual é o estado do jornalismo em Portugal?

É caótico! O jornalismo está-se a perder… Estamos a caminhar para uma cultura que não é nossa, que é o jornalismo muito engajado, o jornalismo feito de fontes e de amigos. Primeiro, muito concentrado em Lisboa, muito concentrado na intriga política e económica. E o que é que está a acontecer? Os jornais estão a tomar opções claras em relação a várias coisas: uns em relação ao crime, outros em relação à política, outros em relação a perseguição a políticos… Enfim, o jornalismo deixou de ser de informação para passar a ser de causas, de ajuste de contas, muitas vezes. É evidente que temos grandes jornalistas, temos massa crítica e matéria-prima para fazer grande jornalismo, o que a acontece é que, provavelmente a situação económica, está-nos a conduzir para um tipo de jornalismo que não faz parte da nossa cultura e por isso mesmo, acho que as pessoas estão a deixar de ler os jornais, as rádios deixaram de ser de palavra e de informação para passarem a ser só de música, as televisões estão muito dedicadas aquilo que é a informação generalista, dão a informação muito agressiva e os canais de informação cingem-se a uma mesa com três cadeiras: uma para o pivô e as outras para dois comentadores. Não é um bom cenário, por isso mesmo é que tudo o que seja alternativo – e o Porto Canal pode ser uma alternativa nesse aspeto – pode mudar o estado das coisas, ou pelo menos, deixar alguma esperança de que as coisas [boas] se mantêm.

Então o caminho é esse? Apostar em formatos diferentes?

Apostar em formatos diferentes e fora da capital, ponto final. Se não, se virmos as três televisões [generalistas] – RTP, SIC e TVI – fazem todas a mesma coisa e todas com as mesmas pessoas. Andam todos à volta, falam todos uns para os outros e depois conduzem os destinos do país. E o resultado está à vista.

E qual é o seu conselho para os jovens formados na área da comunicação e do jornalismo?

Primeiro, têm que saber português e serem apaixonados, ser mesmo isto que querem. Depois, não irem para o jornalismo porque querem ir para a televisão. Perceberem que ser jornalista não é ser pivô de televisão. Essa é provavelmente a área mais frustrante do “ser jornalista”, é ser pivô de televisão e ser uma pessoa conhecida. Ser jornalista é ser repórter, é ser contador de histórias, ponto. O resto virá por acréscimo. O que eu acho, hoje, é que muitos jovens vão para a área da comunicação social porque querem aparecer na televisão e acham que vão ser jornalistas de televisão. Ou seja, não é a paixão pela profissão, não é a paixão por uma das áreas do jornalismo, é a paixão, sobretudo, pelo facto da televisão hoje dar dimensão e notoriedade às pessoas. Só se consegue isso depois de muita reportagem e de se ser repórter. O conselho que eu dou é o de terem essa noção. Ser jornalista é ser repórter, não é ser apresentador de televisão.