O Estado “não está disponível para jogar as regras do jogo”. Quem o diz é Nuno Azevedo, administrador-delegado demissionário da Casa da Música, depois dos recentes desenvolvimentos quanto aos cortes no financiamento.

Em entrevista ao Porto Canal, Nuno Azevedo fala da demissão em bloco da administração da Casa da Música (CdM), explicando que as condições para cumprir o mandato “deixaram de existir”, principalmente porque “o acordo fundacional passou a ser uma ficção”. “Temos uma fundação que afinal não é uma fundação, porque uma das partes – o Estado – não está disponível para jogar com as regras do jogo”, afirma.

A avalisação “não passou de um truque”

Números

2,69 milhões de euros de apoios mecenáticos, 4 milhões de euros em receitas próprias. 1640 eventos realizados ao longo do ano passado na Casa da Música. Mais de meio milhão de visitantes.

Em abril, o acordo estabelecido entre o Estado e a Casa da Música previa um corte de 20% na transferência anual. O corte de 30% faz com que Nuno Azevedo acuse o Estado de ter faltado à palavra com a Casa da Música. É uma “incoerência insuportável”, referiu. Por um lado, diz que a Casa da Música está a “fazer bem” o trabalho e, por outro, a avaliação que é feita à a fundação é negativa “e isso é utilizado como argumento”, explicou.

Nas palavras de Nuno Azevedo, a “avaliação” não passou de “um truque para conseguir impor fora do acordo um corte para além daquilo que é sustentável”, sublinhou. “Apenas posso classificar a forma como o Estado tem vindo a atuar como uma medida populista”. “É deitar areia para os olhos das pessoas, não fazer vê-las que aqui, na Casa da Música, o Estado poupa dinheiro”, garantiu.

E se os mecenas recuam?

Com o corte no orçamento, os despedimentos podem ser uma realidade, mas Nuno Azevedo, garante que o cenário pode trazer “muito pior do que isso”. Os mecenas – dos quais fazem parte bancos, seguradores e outros grandes grupos económicos portugueses -, que contribuiram com quase três milhões de euros para a Casa da Música só em 2011, podem recuar. Aí, o “corte de três milhões pode multiplicar-se por dois”, sublinhou.

Também Rui Moreira, presidente da Associação Comercial do Porto, teme que os mecenas privados da instituição, confrontados com o “incumprimento do Governo” decidam bater com a porta e entregar o bebé ao Estado”, disse ao Público.

Sem se conhecer ainda o futuro daquela que já é uma instituição de renome internacional, resta fazer saber que a Casa da Música “deve garantir o cumprimento da programação anunciada, recorrendo dos fundos da fundação”, como avançou o conselho de fundadores.