Joss Stone até pode ter o direito a errar, mas não o utilizou numa atuação memorável que encerrou a edição de 2014 do Marés Vivas com chave de ouro. Nem a chuva, que se fez sentir com alguma intensidade durante o concerto da intérprete soul, afastou os fãs da britânica, que presenteou os muitos resistentes com uma performance carregada de alma e atitude.

A interação constante com o público foi o leme através do qual a cantora britânica guiou o concerto, que visitou clássicos como “Super Duper Love” ou “Fell In Love With A Girl” (uma versão de “Fell In Love With A Girl”, dos The White Stripes), músicas que levaram o público a dançar e a cantar com Stone.

O momento alto da noite, e um dos momentos mais memoráveis do festival, estava guardado para o fim. “Right To Be Wrong” é a mais reconhecida de todas as músicas de Joss Stone, e a verdade é que a cantora não fez por menos na interpretação do tema, que levou alguns elementos do público às lágrimas, mas muitos mais a perder a voz, depois de cantarem a plenos pulmões cada verso do single retirado de “Mind Body & Soul”.

Além da música, fica na retina a presença enérgica e atraente da cantora, que surgiu no Cabedelo acompanhada por uma banda que acrescentou magia à voz única da britânica e que conseguiu ter, também, alguns momentos de protagonismo, com solos de guitarra e saxofone a animarem o público, a precisar de animação depois do trip-hop melódico dos Portishead ter afastado muitos festivaleiros das primeiras filas.

Portishead não precisaram de uma razão para brilhar

A voz inconfundível de Beth Gibbons arrepiou muitos na plateia, num concerto muito esperado pelas faixas etárias mais elevadas do festival. O espetáculo contou com um público composto e ansioso por ouvir as composições de uma banda que tinha estado em Portugal pela última vez em 2011, no Super Bock Super Rock.

Ainda assim, depois de algumas músicas, eram muitos os desistentes que deixavam as primeiras filas, desiludidos com a falta de interação da banda com o público. Ainda assim, foram muitos os fãs da banda tenham dançado ao som dos êxitos dos três álbuns da banda: “Dummy”, “Portishead” e “Third”, o último lançado em 2008, depois de um hiato de 11 anos.

O uso do vídeo foi recorrente durante toda a atuação, embora o destaque tenha ido para uma série de imagens alusiva à situação na Síria, numa clara mensagem política da banda. O ponto mais alto da noite era também o mais aguardado. Os primeiros acordes de “Glory Box”, single retirado do primeiro álbum, “Dummy”, levaram ao delírio o público que tinha até aí vibrado com os êxitos da banda britânica, e muitos cantaram o refrão com Beth Gibbons.

The Gift tiveram público à altura

A primeira grande enchente da noite estava reservada para Sónia Tavares e companhia. Os The Gift atuaram pela primeira vez no Marés Vivas e não desiludiram o público, que aderiu à música e à boa disposição da banda, como em poucos casos durante o festival.

A banda oscilou entre clássicos da banda, como “Driving You Slow” ou “Music”, e temas menos conhecidos do público menos atento ao percurso de 20 anos do grupo, como “The Singles”.

A interação constante de Sónia Tavares com o público levou a que a banda fosse acompanhada durante os refrões dos temas mais reconhecidos do grupo. Além das palmas e dos gritos, que se ouviam desde as grades até aos festivaleiros mais distantes do palco, “Ok! (Do You Want Something Simple?)” pôs muitos a saltar com a banda de Alcobaça.

Os pontos altos do concerto vieram em dois temas cantados em português: “Primavera” levou muitos a cantarem, emocionados, com Sónia Tavares, antes de “Fácil de Entender” ter sido entoado alto e bom som pelo público presente no Cabedelo.

Black Mamba mereciam mais que o palco secundário

Depois de receber Mimicat, o palco secundário recebeu aquela que terá sido a maior enchente naquele local com Black Mamba, que ainda este mês marcaram presença no palco principal do Alive!.

A banda portuguesa não deixou os créditos conseguidos em mãos alheias e mostrou, com uma atuação competente, que podia ter atuado no palco principal, que no último dia de festival foi inaugurado por We Trust, que não desiludiu.

Embora “Time (Better Not Stop)” seja a música mais reconhecida de We Trust, o novo single “We Are The Ones” foi entoado por muitos festivaleiros, que esperavam por The Gift mas não desviaram as atenções da atuação do projeto de André Tentugal, que surgiu acompanhado pela sua banda e ainda por um quarteto de cordas.