Às sextas-feiras, as luzes da sede do Rancho Regional de Gulpilhares acendem-se e começa mais um ensaio. Várias são as saídas que o grupo tem quer a nível nacional quer a nível internacional mas o momento mais importante é o Festival Internacional de Folclore, que acontece no início de agosto, onde Gulpilhares recebe grupos folclóricos de diferentes partes do mundo.
Apesar de o rancho representar as tradições, o grupo é composto por “54 elementos dos quais 50% são jovens”. “Felizmente o grupo está muito bem composto e equilibrado, porque a média de idades é bastante jovem. Mesmo assim há pessoas de mais idade que asseguram a transição destas nossas tradições”, diz Carlos Jorge, presidente da Associação e diretor técnico.
O motivo que leva a não existir mais jovens a representarem as tradições é as novas distrações que existem nos dias de hoje: “O cinema, a discoteca, tudo o que os distancia destas coletividades”, conta. Arranjar soluções para cativar os jovens pode ser complicado por isso já a pensar no futuro: captar as crianças é o próximo objetivo. “Estamos a pensar neste momento a criar uma escola de folclore no sentido de ir junto às escolas do primeiro ciclo e começar desde aí a cativar os jovens porque entendemos que é desde muito pequenos que gostam destas causas e se os conseguirmos cativar nessa idade depois temos mais probabilidades de que fiquem no grupo”, afirma Carlos Jorge.
Jorge Rodrigues, de 15 anos, e, Catarina Pinho, de 16 anos, são dois dos jovens existentes no grupo. Jorge decidiu vir para o rancho para aprender a tocar um instrumento e por causa do convívio. Conciliar os horários não é complicado para o jovem. Já Catarina veio para o grupo por iniciativa da mãe e a maior dificuldade que encontra “é o não ter um par fixo”. Para a jovem, a responsabilidade de garantir a continuidade do rancho está nos jovens, “porque acham que é uma coisa para as pessoas mais velhas e que não vale a pena”. “Eles [os jovens] não dão muita importância às tradições e talvez a longo prazo isto desapareça tudo caso não venham jovens para aqui”, explica.
[soundslides width=”520″ height=”480″ id=”277184”]As festas populares fazem-se com a juventude
As festas de São Pedro na Póvoa de Varzim são sinónimo de bairrismo e de folia e na Associação Recreativa e Cultural da Matriz, os ensaios já começaram. Os desfiles de rusgas na noite de 28 para 29 de junho nas ruas da cidade são o resultado de um trabalho árduo, que começa na Primavera e estende-se até ao Verão. As 22h de todas as quintas-feiras tornam-se ponto assente no calendário de vários jovens, uma das forças motoras do bairro, em conjunto com os seus habitantes e apoiantes: “A rusga de São Pedro não vai gente casada, portanto à partida, é gente jovem. São vinte pares, ou seja, quarenta jovens a dançar, com idades entre os 15 e os 20 e tal anos”, explica Daniela Bouçanova, ensaiadora da rusga.
A tradição não parece afugentar os jovens das festas populares, sobretudo quando muitos têm “o interesse de viver o bairrismo e uma noite diferente”, numa cidade em que o São Pedro mobiliza todos para a festa e a devoção. O facto de a Matriz agregar outras atividades como o rancho e o desporto, nomeadamente o atletismo, o futebol e o pingue-pongue, explica em parte a existência de pessoas mais novas dentro do grupo.
No entanto, Daniela Bouçanova confessa que manter a jovialidade da Matriz é um trabalho diário e que o “bichinho” da rusga é algo que se pode ganhar de um ano para o outro: “Isto são hobbies, não é trabalho ou uma obrigação. Se eles [jovens] gostarem do que vão viver este ano, para o ano estão cá de certeza. Tentamos cativá-los e fixá-los nestas vivências, para que, quando acabarem possam passar o testemunho.”, afirma.
Para Inês Silva de 22 anos e Hélder Ferreira de 20 anos, o “bichinho” do São Pedro e a vontade de representar o Bairro da Matriz são dois fatores que pesam todos os anos na integração de ambos no grupo. A Inês desde cedo fez parte da Matriz e a paixão que a move ainda não esmoreceu com o passar dos anos: “Quando era pequenina fazia parte do rancho, neste caso era a «mascote», ia sempre à frente com a bandeira”. Hoje, com 22 anos, e ainda membro integrante do rancho, Inês tem a certeza de que “São Pedro sem ir na rusga, não é São Pedro.”
O interesse em entrar no grupo já o circundava há algum tempo e foi através de uma amiga que o Hélder começou a fazer parte das cores, vermelho e branco, da Matriz: “Eu queria entrar há muito tempo, só que não sabia como é que se fazia. Uma amiga minha entrou e eu perguntei-lhe como é que era e a partir daí eu já tinha o «bichinho» dentro de mim.”, explica o jovem. A conjugação dos horários quotidianos com os ensaios pode ser uma tarefa difícil, mas Hélder acredita que “quando se tem gosto, tenta-se e consegue-se”, um lema que põe em prática enquanto estudante universitário.
“Lutar para que a tradição não morra” poderia ser a máxima dos jovens do Rancho Regional de Gulpilhares e da Associação Recreativa e Cultural da Matriz. Numa era em que as distrações e a modernidade seriam os inimigos naturais, são vários os jovens que mantêm a tradição bem de saúde.
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