“Temporada de Furacões”, da mexicana Fernanda Melchor, venceu o Prémio Casino da Póvoa. O anúncio foi feito esta quarta-feira de manhã no arranque oficial da 25.ª edição do Festival Literário Correntes d'Escritas.

25.ª edição Correntes d´Escritas Foto: Carlota Nery/JPN

“Temporada de Furacões” (Elsinore) da escritora mexicana Fernanda Melchor ganhou o Prémio Casino da Póvoa, atribuído no âmbito do Correntes d’Escritas. O anúncio foi feito esta manhã, na Póvoa de Varzim, durante a cerimónia de abertura do festival. 

A obra foi reconhecida por unanimidade pelo júri constituído por Ana Gabriela Macedo, Carlos Vaz Marques, Isabel Lucas, Isabel Pires de Lima e José Mário Silva. O romance destaca o lado mais sombrio da natureza humana, dominada pela violência e por lutas que surgem de problemas como a droga nas periferias. O prémio aumentou este ano de 20 mil para 25 mil euros.

Atualmente, Melchor é professora de estética e arte na Benemérita Universidad Autónoma de Puebla. Após estudar jornalismo na Universidad Veracruzana, em 2013, publicou duas obras significativas: “Aquí no es Miami”, uma coletânea de reportagens jornalísticas centradas no porto de Veracruz, descrevendo a brutalidade da vida no México, e o romance “Falsa liebre”, que introduziu os leitores ao mundo literário de Melchor. Em 2021, no México, publicou “Paradaise”, que sai agora em Portugal.

Estavam a concurso 13 obras: “A História de Roma”, de Joana Bértholo; “A Vida Airada de Dom Perdigote”, de Paulo Moreiras; “Apoteose dos Mártires”, de Mário Cláudio; “As Doenças do Brasil”, de Valter Hugo Mãe; “Ferry”, de Djaimilia Pereira de Almeida; “Limpa”, de Alia Trabucco Zerán ; “Montevideu”, de Enrique Vila-Matas; “Caçador de Elefantes Invisíveis”, de Mia Couto; “Poeta Chileno”, de Alejandro Zambra; “Quando Éramos Peixes”, de José Gardeazaval; “Suíte Tóquio”, de Giovana Madalosso; e “Um Cão No Meio do Caminho”, de Isabela Figueiredo.

O conto “O Piano” de Carlos Cortez Fonseca Matos, que concorreu sob o pseudónimo de Abélio Carimbo e que é aluno da Escola Secundária José Gomes Ferreira (Lisboa), foi o vencedor do Prémio Literário Correntes d’Escritas Papelaria Locus.

Gisela Cristina Ribeiro da Silva, utilizando o pseudónimo de Virgínia do Mar, conquistou o Prémio Fundação Dr. Luís Rainha com a obra “Porque da Neblina não Caem Lágrimas”. “A Póvoa adotou-me, o mar adotou-me, a neblina adotou-me.” Relembra a importância do incentivo à escrita e à leitura, poirque como afirma “só engrandece”.

O Prémio Literário Luís Sepúlveda, que reconhece contos infantis ilustrados elaborados por alunos do 1.º Ciclo, foi concedido a “Vitória, vitória…” do 4.º A da Escola Básica José Manuel Durão Barroso, Armamar. O 2.º lugar ficou com “O segredo do Leão” do 4.º ano da Escola Básica de Rates, Póvoa de Varzim, enquanto o 3.º lugar foi para “O Vizinho da Horta” do 4º CVP da Escola Básica do 1º Ciclo, Venda do Pinheiro.

Com um enfoque no tema “Liberdade”, a propósito da celebração, este ano, dos 50 anos do 25 de Abril, o evento literário que acontece anualmente e é promovido pela Câmara Municipal da Póvoa de Varzim conta, nesta edição, com a participação de 120 autores provenientes de 16 nacionalidades diferentes.

Cerimónia de abertura no Casino da Póvoa Foto: Carlota Nery/JPN

Durante a cerimónia de abertura foi também lançada a revista literária da 25.ª edição do Correntes d´Escritas, sob curadoria de Patrícia Portela. Luís Diamantino, vereador da Cultura da Câmara Municipal da Póvoa de Varzim, deixa escrito na capa da revista que nela “acontece o sonho, a descoberta, a realização do impossível”. Com participação de 25 autores e sob o mote “Matem os escritores primeiro”, a revista é um reflexo de “inquietações”, “dúvidas” e “dores”, como afirma Patrícia Portela. A arte acontece nesta revista que reúne escritores “envolvidos no esquecimento ou na loucura” e conta com ilustrações de Alex Gozblau.

José Mário Silva, representante do júri, ressaltou no seu discurso durante a cerimónia que “aquilo que distingue um povo é a cultura”. Já Aires Pereira, presidente da Câmara Municipal da Póvoa de Varzim relembrou a importância da palavra e refletiu sobre a problemática atual da má utilização da palavra e a crise da imprensa. Reforça a relação “saúde da imprensa” com “realidade da democracia”. “Muito cuidado”, foram as palavras de Aires Pereira quando menciona orgãos de poder que recorrem à palavra para a manipulação: “o ‘grande irmão’ (Big Brother) está cada vez mais vigilante entre nós.”

A cerimónia de abertura foi encerrada com uma mensagem do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, através de um vídeo. O presidente, no seu discurso, faz questão de “celebrar o livro” e afirmou que “estamos todos a ganhar as guerras da escrita” no meio de “tantas injustiças que correm por aí fora, esta é uma justiça palpável”.

Marcelo Rebelo de Sousa, Presidente da República, numa intervenção gravada em vídeo. Foto: Carlota Nery/JPN

“Nós temíamos imenso que com a pandemia chegasse uma crise irreversível do livro”, mas os números são positivos, diz Marcelo, e por isso fala em “gratidão” e “felicidade”. O Presidente da República parabeniza e salienta a importância do Correntes d´Escritas que se prolonga até sexta-feira, com um programa variado.

Editado por Filipa Silva