A Universidade de Barcelona (UB), uma das mais conceituadas de Espanha, pôs fim à pós-graduação em homeopatia, que vigorava desde 2004. Desde a sua criação, em 1976, que a prática tem gerado controvérsia no mundo da medicina. Muitos profissionais são céticos em relação à sua eficácia.

Fontes da UB apontam “a falta de base científica” como uma das razões para o término da pós-graduação. “Recebemos um relatório da nossa Faculdade de Medicina a recomendar-nos o fecho da pós-graduação, tendo em conta a falta de base científica inerente à homeopatia”, explicaram ao JPN.

O facto de “o Ministério da Saúde e das Comunidades Autónomas ter vindo a reprovar alguns cursos de homeopatia em Espanha” e “as dúvidas levantadas por alunos, professores e investigadores da Universidade” estiveram, também, na base da decisão.

É necessária “regulamentação do ensino na homeopatia”

Em Portugal, são escassas as ofertas formativas na área da homeopatia. Uma delas é o Curso Avançado de Homeopatia como Prática Clínica do Observatório de Medicina Integrativa, em parceria com a Universidade Fernando Pessoa. Outras opções são a Pós-graduação em Homeopatia da Escola Superior de Tecnologia da Saúde do Porto (ESTSP) e a Pós-graduação em Terapias Naturais e Complementares da Cooperativa de Ensino Superior Politécnico e Universitário (CESPU).

Formações que para Marco Meneses, homeopata em várias clínicas de Setúbal, “não fazem sentido” sem que primeiro existam “cursos bem fundamentados que formem bons homeopatas”. “Não faz sentido existirem pós-graduações sem que as pessoas saibam o básico”, explica.

Marco Meneses critica a falta de regulamentação no ensino da homeopatia, que “poderia contribuir para a aceitação da pseudociência na comunidade médica”. “Há pessoas que tiram cursos de três ou quatro meses pela internet e que depois se registam como homeopatas. Essas pessoas vão para as consultas dizer barbaridades e prometer curas milagrosas, e é isso que desacredita a nossa área. A base para tudo é uma regulamentação do ensino na homeopatia”, sublinha em declarações ao JPN.

O ceticismo da classe médica

A homeopatia funciona como uma vacina: consiste na diluição de uma patologia, em pequena quantidade, de forma a levar o corpo a desenvolver anticorpos contra o vírus e não apenas curar os sintomas manifestados.

Muitos médicos não acreditam na eficácia da prática. É o caso de Pedro Pinto, que está no primeiro ano da especialidade na Unidade de Saúde Familiar do São João do Porto: “Eu sou um bocadinho cético em relação à homeopatia. A medicina funciona muito com base naquilo que é evidência científica, e a homeopatia não tem grandes resultados a comprovar a sua eficácia”.

Marco Meneses não concorda. “A evidência científica existe. Quando dizem que não, é mentira. Todos os anos são publicados 250 testes pela Associação Europeia de Homeopatia, composta por vários médicos e cientistas de renome, que provam que a homeopatia funciona”, afirma.

No entanto, o homeopata reconhece o facto de não haver 100% de certezas. “Muitas vezes não se consegue prová-lo a 100% devido ao facto dos mecanismos não serem os mais adequados. A meu ver, os testes que fazem aos fármacos homeopáticos são próprios para os fármacos convencionais e por isso não respondem tão bem. São coisas completamente diferentes, não faz sentido. Os testes deveriam ser ajustados”, explica Marco Meneses.

Pedro Pinto, por sua vez, considera que “a única coisa que se tem provado é que os resultados acabam por ser mais de efeito placebo”, ou seja, “os efeitos não resultam da substância em si mas de um efeito psicológico, da crença e do subconsciente da pessoa”. O médico alerta, também, para o “perigo dos efeitos nocivos que a homeopatia pode provocar”. “Alguém com uma doença grave que recorra primeiro à homeopatia, quando recorrer à medicina convencional pode ser tarde”, explica o jovem médico.

Marco Meneses contrapõe. “Quem não conhece ou quem não trabalha com a homeopatia dá facilmente uma opinião oposta. As regras são completamente diferentes da medicina convencional e por isso dizem que é mais psicológico”, explica. O homeopata garante que muitos dos casos que tratou “já tinham tentado fármacos convencionais durante dois ou três anos, sem efeito” e que “só conseguiram livrar-se do problema graças à homeopatia”.

Contudo, Pedro Pinto não conhece nenhum caso de sucesso: “Dos poucos doentes que conheço que recorreram à homeopatia, nenhum sentiu grandes diferenças”, assegura. “É até por isso que raramente recomendamos a homeopatia”, garante.

Liliana Pontes, farmacêutica, assegura que “há mais médicos a recomendar a homeopatia” e que “é uma área em crescimento”. “Tenho visto mais doentes a recorrer a diluições” em casos menos graves, como dores de costas ou de cabeça, refere ao JPN.

Marco Meneses diz que o caminho para a homeopatia crescer e ser reconhecida como especialidade “ainda é longo”. “A classe médica em Portugal manda mais do que a política e tem um poder muito grande. Uma vez que são muito reticentes em relação a tudo o que seja não convencional, creio que tão cedo não se tomará essa decisão”.

Em países como a França e Alemanha a homeopatia é uma especialidade. Algo que para Marco, faz todo o sentido. “Nesses países mais desenvolvidos só um médico é que pode praticar homeopatia e é preciso receita médica para diluições mais altas. Ora, se dizem que a homeopatia não tem qualquer efeito, porque é que nesses países não se vende o medicamento homeopático sem receita?”, questiona.

 

Artigo editado por Filipa Silva