O comunicado publicado esta quarta-feira no site da Quercus alerta para o risco de as cinzas provenientes da Lipor serem “perigosas” e questiona ainda o destino que a central de incineração lhes tem dado.

Em resposta às acusações dos ambientalistas, a Lipor considera que a informação divulgada é “falsa, infundada e desconhecedora da realidade”. A Lipor acusa ainda a Quercus de pretender “alarmar a opinião pública”.

“Nós acompanhamos este assunto já há mais de um ano”, explicou Rui Berkemeier, coordenador do Centro de Informação de Resíduos da Quercus, ao JPN.

Os ambientalistas alertaram várias vezes o Ministério do Ambiente sobre o envio de “cinzas perigosas para um aterro de resíduos não perigosos”. Recentemente, informações da Agência Portuguesa do Ambiente (APA) apoiaram a posição da Quercus e, por isso, a associação ambiental resolveu expor a situação.

Pela sua parte, o Serviço Intermunicipalizado de Gestão de Resíduos do Grande Porto assegura, numa nota enviada às redações, que nunca depositou “cinzas não tratadas em qualquer aterro”.

“A Lipor não deposita, nem nunca depositará cinzas volantes não tratadas em qualquer aterro”, sublinham.

O coordenador do Centro de Informação de Resíduos da Quercus considera que as cinzas apresentam um risco elevado pois “toda a componente perigosa dos resíduos urbanos fica concentrada numas cinzas e formam-se produtos tóxicos, em que pelo menos uma parte importante desses fica fixado nessas cinzas”. Por isso, as cinzas volantes são “consideradas perigosas”, mesmo que sujeitas a um processo de solidificação com cimento.

A Lipor reitera que depois do processo de solidificação com ligantes hidráulicos, no qual se insere o cimento, as cinzas e resíduos de tratamento de gases “não apresentam características de perigosidade” e “são transportados e depositados em alvéolo dedicado a este tipo de material”.

Rui Berkemeier, da Quercus, defende que as cinzas volantes têm de ser transferidos para um Centro de Tratamento de Resíduos Perigosos. “Esses sim, são especializados em tratar vários resíduos industriais perigosos e também resíduos desta atividade de queima”, afirmou.

O ambientalista diz que “saber se as cinzas depois de tratadas são ou não são perigosas” é uma questão esclarecida. Contudo, existem outras por resolver. A primeira é perceber onde é que a Lipor tem tratado as cinzas volantes. A segunda é entender se a central de incineração têm uma licença para tratar estas cinzas.

“Estranhamente, ainda não tivemos essa resposta. Já mandamos três cartas, já pedimos uma reunião sobre esse assunto, mas ainda não nos conseguiram esclarecer a situação. Não tivemos reunião nem tivemos resposta às cartas”, garantiu Rui Berkemeier ao JPN.

A Lipor aponta para a inspeção, realizada em outubro de 2015, pela Inspeção Geral dos Ministérios, do Ambiente, Ordenamento do Território e Energia e da Agricultura e do Mar, à Central de Valorização Energética, onde se processa a solidificação das cinzas, a qual não terá encontrado qualquer incumprimento.

O JPN tentou contactar o Ministério do Ambiente e a APA, mas não foi possível obter respostas aos esclarecimentos pedidos até ao fecho da edição do artigo.

 

Artigo editado por Filipa Silva