No evento de moda com maior impacto a nível nacional, todos os pormenores são pensados e isso fez-se notar no segundo dia do Portugal Fashion no Porto, passado esta sexta-feira para a Alfândega.
“Luzes, câmaras, ação”. Assim que começa a música de arranque, os que assistem fazem silêncio e entra em palco o melhor de cada artista. Todos apresentam propostas diferentes, com um objetivo comum: inovar.
Não só a roupa é o alvo de atenção. A maquilhagem, o cabelo, os acessórios, o calçado e as jóias são a prova de que os pormenores podem fazer toda a diferença.
Susana Bettencourt, Carla Pontes, Estelita Mendonça, Júlio Torcato, Anabela Baldaque, Hugo Costa, Diogo Miranda, Luís Onofre e Miguel Vieira são criadores com vasta experiência na área, tanto ao nível nacional como internacional, e com muitos prémios já conquistados.
Daniela Barros era um dos nomes esperados mas não esteve presente.
Susana Bettencourt: memórias de infância de verão
Susana Bettencourt estreou o segundo dia da 39º edição do Portugal Fashion com a sobreposição de padrões e cores.
Com o atraso habitual e característico no arranque do evento, o desfile foi marcado pelo cruzamento entre a tecnologia e o artesanato, conceito pelo qual a estilista é conhecida. Com peças femininas de malha feitas à mão, evidenciam-se os brancos em contraste com riscas e formas geométricas de tons mais fortes e arrojados. Pode-se ver uma grande mistura e sintonia entre várias texturas que resultam num design muito complexo.
Todas as manequins traziam calçadas meias compridas e sandálias, o que acabou por ser um elemento diferenciador.
Os cabelos vinham soltos e fez-se notar a presença de tranças, o que indica que esta pode ser uma das tendências para a coleção primavera/verão do próximo ano.
As jóias coloridas e grandes foram outro elemento que se fez destacar.
No final do desfile a estilista foi recebida com fortes aplausos e fez-se sentir um ambiente de satisfação.
Carla Pontes: inspiração na natureza
Num ritmo mais mexido, a coleção de verão 2017 de Carla Pontes desafia a tridimensionalidade e o pormenor em peças femininas de design versátil e urbano.
Em conversa com o JPN, a estilista revela que tudo na natureza a inspira e que “uma simples folha de uma árvore” pode ser uma fonte para a criatividade e inovação.
No desfile, foram os tons de azul e rosa suaves que mais se evidenciaram, resultado de uma inspiração em nuvens e lagoas.
Os cortes das peças de roupa são simples, elegantes e “oversized”. A artista aposta no algodão e no tecido leve do denim como os principais materiais.
Ao longo do desfile a estilista investiu num estilo descontraído, não só ao nível de roupa como também no penteado com o cabelo ligeiramente apanhado e, por fim, o uso de sapatos envernizados e abertos atrás.
Estelita Mendonça: be “BRAVE”
Num estilo alternativo e completamente diferente, os manequins, todos eles masculinos, entraram em fila e pararam a meio do palco (algo que não é muito frequente e que captou a atenção do público). Após alguns segundos parados, os manequins recuaram sem nunca virar as costas ao público. Ao ritmo do som, entram dois modelos que partilham a mesma t-shirt com a palavra BRAVE, os manequins permanecem estáticos no meio do palco até ao final do desfile.
Todos os manequins têm um elemento em comum: um chapéu redondo preto com um véu curto e cor-de-laranja. As cores predominantes foram o branco, preto, cinza, laranja e creme.
Algumas das peças remetiam para elementos do mar, tais como um barco insuflável e boias.
Quando o desfile termina os dois manequins retiram-se. Ouvem-se fortes aplausos ainda antes do estilista entrar em palco. O público foi muito recetivo a esta apresentação misteriosa e pouco comum.
Júlio Trocato: “Not only ordinary people”
Dez anos depois de apresentar a coleção “Ordinary people”, Júlio Trocato traz um conceito de roupa “para pessoas comuns” ao qual deu o nome de “Not only ordinary people”.
A proposta que apresenta para a primavera/verão 2017 baseia-se num estilo, tanto para homens como para mulheres, urbano e contemporâneo.
O estilista aposta na estética minimalista e clássica. Ao ritmo da performance e produção musical de André NO e Paulo Gravato, os manequins desfilaram com roupas leves, quase sem padrões e em tons marinhos, verdes, coral, beges e branco.
Júlio Trocato apresenta uma proposta cuidada mantendo a tradição da alfaiataria portuguesa.
Anabela Baldaque: individualidade e romantismo
Cor, geometria, sensualidade, penteados extravagantes, acessórios, sobretudo malas, e maquilhagem característica (ponto vermelho perto dos olhos).
Com sala, claramente, mais cheia, o desfile de Anabela Baldaque apresenta uma coleção com um estilo arrojado, com influências nipónicas, para uma mulher confiante.
Inspirada na inocência e espontaneidade com que o filho disse à avó, “Gosto de ti até ao Japão”, a estilista transporta essa ideia nas peças de tecidos finos e sedas.
As cores predominantes têm uma tonalidade pastel, desde o branco, rosas pêssego e amarelo ocre.
O calçado varia entre saltos altos e sabrinas. Ao encerrar do desfile as mulheres que assistem não disfarçaram o agrado com o que viram.
Hugo Costa: ar selvagem e descontraído
Hugo Costa apostou, sem dúvida, num estilo diferenciador e original, através de peças de roupa marcantes e com elementos que se destacam como nós, laços e cabelos com gel colados à cabeça, transmitindo um aspeto molhado.
As peças da coleção destinam-se tanto ao sexo feminino como masculino e para ambos uma proposta de estilo descontraído.
O estilista marcou a sua presença na Alfândega do Porto com o pormenor dos grandes laços no fundo das pernas e nos pulsos.
Por fim, a proposta das cores baseia-se em tons sóbrios desde várias gamas de cinza com preto e branco.
Os últimos manequins a entrar na passarela trazem cores mais quentes como o vermelho e rosa que se destacam entre as restantes.
Diogo Miranda: inspiração em Picasso
Com os bancos cheios e já algumas pessoas de pé, a sala que dá palco ao Portugal Fashion está completa.
Diogo Miranda, para além de se inspirar no Cubismo, revela que também tem como fonte de inspiração a arte africana e nativa americana.
Em palco, as imagens geométricas e revolucionárias fazem-se sentir.
Com cores claras (conjugando o cinzento, branco e castanho) formas simples e com recurso à seda, o estilista fez transparecer um ar elegante e inovador.
Num estilo muito trabalhado e dando especial atenção aos pormenores, a maquilhagem é um elemento fundamental para complementar esta coleção. O batom escuro foi um elemento que enriqueceu este visual feminino e sedutor.
Diogo Miranda procura destacar-se através, e não só, do recurso aos folhados que aparecem em quase todas as peças exibidas.
Quando o último manequim se aproxima do final do seu percurso em palco, as luzes acompanham a sua saída gradualmente até a sala ficar escura.
Diogo Miranda conquistou a sala com a sua proposta de primavera/verão 2017.
Luís Onofre: Hellenic Garden (jóias, malas e sapatos)
Luís Onofre foi uma das presenças mais esperadas da noite e destacou-se pela coleção focada no pormenor e nos acessórios e não nas peças de roupa.
Joias grandes e arrojadas, malas de todos os tamanhos e feitios, sapatos e sandálias que envolvem o tornozelo tal como acontecia com as sandálias da Grécia Antiga.
É importante realçar que o estilista apresenta uma grande novidade na linha e acrescenta o modelo masculino à sua coleção. Um estilo de homem clássico e sofisticado.
Tanto nas peças masculinas como nas femininas, o estilista conjugou materiais diversificados como a pele e a camurça e usou várias cores. Para a mulher, Luís Onofre sugere as cores: verde, amarelo, azulão, laranja e rosa em paralelo com o brilho. Já em homem os tons fundem-se e as sugestões são: beje, cinza, verde e azul.
Rúben Rua inicia e finaliza o desfile. Sendo a cara a destacar. O desfile correspondeu às expetativas do público que se levanta para aplaudir o estilista, como ainda não tinha acontecido em nenhum outro desfile do dia.
Miguel Vieira: o mais aplaudido
A sala encheu para ver o tão esperado Miguel Vieira. Mais uma vez os lugares nos bancos não foram suficientes e muita gente teve de ver o desfile de pé.
Rúben Rua marcou novamente presença no palco e terminou o desfile com um sorriso na cara devido aos vários aplausos e elogios que recebeu.
Cabelos soltos e maquilhagem discreta dando ênfase às roupas com traços simples mas elegantes ao mesmo tempo. Os pequenos detalhes das peças destacam-se pela simplicidade com linhas direitas e elementos particulares que suavizam a silhueta, dando-lhe um toque feminino e elegante.
“África Minha” foi a inspiração de Miguel Vieira. O preto e o branco foram as cores predominantes conjugadas com tons brilhantes e padrões em renda.
No final, com todos já de pé a aplaudir, Miguel Vieira percorre todo o percurso da passarela e acena em jeito de agradecimento pelo caloroso público que o recebe.
O Portugal Fashion tem ainda mais um dia pela frente que irá decorrer no Terminal de Cruzeiros do Porto de Leixões, entre as 12h00 e as 14h00 e na Alfândega do Porto, a partir das 16h00.
Artigo editado por Filipa Silva