Em conversa com o JPN, designers como Alexandra Oliveira, Catarina Pinto ou Susana Bettencourt partilham que preocupações têm em termos de sustentabilidade nas suas coleções. Reutilizar, usar materiais mais ecológicos e inovar na confeção são algumas das opções.
O reaproveitamento de materiais, a opção por tecidos mais sustentáveis e a aposta na tecnologia são cada vez mais usados pelos designers nas suas coleções em nome de uma moda mais sustentável do ponto de vista ambiental. O Portugal Fashion, que terminou este sábado, também tem sido um espaço para os criadores mostrarem o que fazem neste capítulo, sem deixarem de lado a inovação e a criatividade.
No último dia do certame, alguns designers partilharam com o JPN como tentam contribuir para uma moda mais sustentável através das suas coleções, assim como as técnicas e os materiais que usam para elaborar as suas peças.
Alexandra Oliveira, a fundadora de Pé de Chumbo, diz ao JPN que tem “muita preocupação” com a sustentabilidade da sua marca. A designer usa muitos tecidos reciclados, como restos de confeção, que, de outra forma, acabariam no lixo.
A estilista admite que é difícil ser uma marca 100% sustentável, quando as vendas são cruciais para o negócio, mas sabe que a sustentabilidade é cada vez mais importante para os clientes.
A designer afirma que os clientes estão atentos, por exemplo, aos têxteis usados nas roupas: “Temos uma preocupação, porque todos os clientes pensam nisso. Por exemplo, já ninguém quer poliéster. Gostam mais de viscosas, que também não são assim tão sustentáveis, mas pronto.”
O uso de tecidos alternativos não impede que as marcam inovem e façam coisas diferentes das tradicionais. Na sua última coleção, Catarina Pinto, a designer de NOPIN, apresentou peças que usam ganga de forma inusual.
“A ganga tem foil transparente por cima. Depois, o tecido é cortado a laser com um padrão com o nosso logótipo em várias formas. O foil não tira a cor da ganga, então, ficamos com um look super diferente, que acho que não é muito visto e fica engraçado”, explica a estilista.
Em conversa com o JPN, Catarina Pinto afirma que os tecidos são produzidos em Portugal e que a ganga, os algodões, as rendas e os tules usados na coleção são orgânicos.
Há um estigma de que os materiais mais sustentáveis e biodegradáveis têm um aspeto desmazelado, porém, Keneea Linton quer provar o contrário. A designer, inserida no programa Canex, tem como objetivo trabalhar em coleções sustentáveis que ao mesmo tempo transmitam uma ideia de luxo e elegância.
Em entrevista, a estilista explica que há vários pilares para uma marca ser considerada sustentável. Desde a produção local até à reutilização de peças, a marca preza por não fazer parte do movimento de “fast fashion”.
“Sempre fomos sustentáveis, o nosso problema é encontrar fontes de materiais sustentáveis”, conta Keneea ao JPN. A designer adianta que, nos tempos amis recentes, a marca tem incorporado materiais biodegradáveis com origens caribenhas, como o bambu e os cogumelos, em adição ao linho e algodão já usados.
Passando para um estilo mais urbano, Susana Bettencourt combina a sabedoria do tradicional com as novas tecnologias para criar coleções mais verdes.
É através de uma produção que junta o uso de máquinas industriais ligeiras às confeções manuais, que a marca se foca naquilo que melhor sabe fazer: as malhas. “A fusão da mão e do digital é efetivamente o meu playground”, revela Bettencourt que, através de técnicas de pintura pixel a pixel, conseguiu fundir tradição com inovação.
Na visão da criadora, a dualidade na produção permite à marca não só ser mais sustentável, mas, também, democratizar a moda, tornando-a acessível a mais públicos. Há um preço associado, mas a designer afirma que “quem valoriza o trabalho manual não teme nada os nossos preços”.
Mesmo nas confeções mais industriais, o mote de sustentabilidade mantém-se: “As peças industriais saem do tamanho certo, não há aquela coisa de cortar e haver imenso desperdício”. Com o aproveitamento de todos os tecidos e com um stock de fios limitado, criam-se coleções únicas que não são repostas, ficando cada peça acrescida de mais valor.
Mas os destaques da moda sustentável no Portugal Fashion não acabam aqui. No terceiro dia do evento, o público ficou a conhecer a coleção do Citeve, iTechStyle Green Circle.
Apostando uma abordagem inovadora e ecologicamente consciente no que respeita à indústria de moda, o mote é a criação de roupas e produtos têxteis com ênfase na redução de desperdícios, reciclagem de materiais e uso de recursos.
Apresentando um estilo extravagante e ousado que desafia as convenções da moda convencional, as peças são caracterizadas pelo predomínio de cores fortes e sóbrias. Os cortes da coleção são assimétricos e arrojados, criando uma estética única e vanguardista.
O CITEVE é um centro tecnológico, sediado em Vila Nova de Famalicão, que disponibiliza ao setor têxtil certificação de produtos, ensaios laboratoriais e consultoria técnica e tecnológica. Com o objetivo de inovar e desenvolver a capacidade inovadora das empresas, o centro trouxe esta coleção ao Portugal Fashion para mostrar que a moda também pode ser sustentável.
Com Carolina Paredes e Inês Bulcão
Editado por Filipa Silva