O Museu do Carro Elétrico, na zona ribeirinha do Porto, acolheu esta sexta-feira desfiles de nomes maiores da moda portuguesa. Miguel Vieira, Luís Onofre e Alexandra Moura foram os destaques do dia.

Miguel Vieira inspirou-se na floresta tropical para a sua nova coleção. Foto: Beatriz Basto/JPN

O terceiro dia do Portugal Fashion manteve o Museu do Carro Elétrico como a principal localização dos desfiles. Depois da edição outono/inverno do certame ter decorrido, em março, num local menos convencional – uma garagem -, a organização voltou a apostar no glamour e foi no museu situado na zona ribeirinha do Porto que nomes maiores da moda nacional apresentaram as suas coleções primavera/verão.

Miguel Vieira exibiu uma coleção cheia de elegância, algo a que já habituou o público. Já Alexandra Moura, com o seu estilo mais urbano, fez o contraste perfeito com a arquitetura histórica do local. Entre as grandes figuras do dia estiveram também Luís Onofre, que mostrou a sua mais recente coleção de calçado, e David Catalán, que juntou a moda ao mais alto nível à moda de uso diário.

A floresta tropical de Miguel Vieira

O estilista Miguel Vieira encerrou o dia de sexta-feira com uma coleção repleta de cores quentes e marcantes, como o cor-de-rosa, laranja, vermelho, que contrastam com outras mais frias, como azul e branco.

Em declarações ao JPN, o designer revelou que a nova coleção foi desenhada tendo por mote uma viagem a uma floresta tropical, daí o uso de cores e padrões arrojados e chamativos. O estilista também justificou o uso de sapatos brancos com o facto de combinar “com as cores todas”.

Miguel Vieira contou também que tem registado um aumento nos pedidos de peças sem género, sendo essa uma das principais razões da inclusão de roupas fluídas, como os vestidos e saias; e acessórios, como carteiras e lenços, na coleção. Neste desfile, estas peças foram tanto usadas por modelos femininos como por modelos masculinos.

A viagem ao âmago de Alexandra Moura

É com o mote de uma viagem ao seu interior que Alexandra Moura nos presenteou com a coleção de primavera/verão “Âmago”. Numa relação com as ciências, área de particular interesse para a estilista, surgem texturas e cores relacionadas com o interior da Terra, dando seguimento à introspeção que inspirou a coleção. 

Num desfile marcado pelos vermelhos e pretos, a designer dá destaque a um padrão específico de uma foto macro de uns picos de um cato, explicando que, tal como a planta consegue sobreviver nos climas mais agrestes por possuir água e alimento dentro de si, também nós “temos tudo cá dentro e é só deixar sair”

Em conversa com o JPN, Alexandra Moura explica que toda a coleção surgiu de uma necessidade de expor o que lhe vinha de dentro, sem muitas explicações, afirmando que “se vem de dentro, vem do nosso âmago, e quanto mais do âmago vem, mais genuíno é”

Estando a marca de Alexandra Moura mais conotada com a streetwear, é notório também um crescente número de artistas no panorama musical português que são vestidos por Alexandra Moura, como são os caso de Slow J, Dino d’Santiago e L3ner Johny. Sobre este assunto, a designer considera que existe uma identificação entre artistas e a marca, fazendo todo o sentido a parceria. Para além disso, na visão da estilista, a música é um complemento da moda estando ambas as artes interligadas.

Os enigmas de Luís Onofre

É sobre uma passadeira branca que as modelos, vestidas dentro da mesma combinação de ganga, mostraram ao público a nova coleção de Luís Onofre: ‘’Enigma’’. 

Dos clássicos stilettos às plataformas mais arrojadas, a coleção ficou marcada também pela predominância das sandálias. Nesta coleção de primavera/verão, os tons mais néon contrastaram com cores mais neutras e alguns pastéis

No final do espetáculo, destacaram-se os saltos altos transparentes, tendência que tem vindo a crescer. Também a forma quadrada dos saltos foi uma característica que se manteve ao longo do desfile. 

David Catalán: Sinfonia urbana e elegância

David Catalán, conhecido pelas suas criações inovadoras e contemporâneas, apresentou uma coleção que celebra uma moda mais descontraída, onde a simplicidade e a elegância se unem numa só.

As suas criações costumam incorporar moda urbana e um toque de sofisticação, sempre com coleções muito versáteis, combinando peças urbanas com detalhes elegantes e tecidos de alta qualidade. Na tarde de sexta-feira, no desfile que marcou o arranque do programa do dia no Museu do Carro Elétrico, não foi diferente. Os modelos vestiram peças de tecidos leves e confortáveis, perfeitos para o uso diário, enquanto mantêm a elegância característica das criações do designer.

A paleta de cores da coleção teve predomínio das cores outonais, como o verde e o laranja, que se juntaram à ganga numa combinação perfeita. As peças, que exibiram um corte reto e minimalista, com reforço na simplicidade e funcionalidade, foram a aposta do estilista espanhol para a coleção, sendo uma celebração da sua capacidade de capturar a essência da cultura de rua e transformá-la em algo que pode ser utilizado nas passarelas ou nas ruas. A utilização de padrões, como listras e xadrez, e a utilização do bordado foram elementos muito presentes no desfile.

A dualidade dos desfiles CANEX: Sobriedade e extravagância

No terceiro dia do Portugal Fashion, o programa Canex trouxe mais uma vez para as luzes da ribalta portuguesa alguns dos nomes mais imponentes da moda africana. Das silhuetas mais oversized até visuais mais femininos, a iniciativa conjuga inovação e tradição

O primeiro desfile da iniciativa foi da marca egípcia Dina Shaker, e ficou marcado pela sobriedade das peças e pelos visuais desconstruídos. As cores neutras invadiram aquilo que foi um desfile marcado pela predominância de linhas assimétricas, fivelas e cintos, destacando-se os tons de bege, caqui e cinzentos

Já para o fim do dia, foi a vez de Mantsho trazer o lado mais feminino da moda sul-africana ao palco do Portugal Fashion. A coleção dominada pelas cores quentes e pelos padrões exuberantes acabou com um abraço entre a estilista e uma das modelos, que caiu durante o desfile.

Foi assim o penúltimo dia da semana da moda do Porto. Mais uma vez a celebrar os designers portugueses, houve espaço para os mais clássicos e para os mais arrojados. O Portugal Fashion encerrou no sábado com Huarte, Pedro Pedro, Nopin, entre muitos outros.

Editado por Filipa Silva