A próxima edição do Portugal Fashion, que se realizaria em março, está em causa, segundo a ANJE. Mónica Neto, diretora do evento, fez um balanço positivo desta edição e aguarda por uma "solução" que traga "estabilidade" à organização do evento.

A organização do Portugal Fashion envolve, duas vezes por ano, dezenas de profissionais e de voluntários. Foto: Nádia Neto/JPN Foto: Nádia Neto/JPN

O 43.º Portugal Fashion (PF) terminou no sábado e a Associação Nacional de Jovens Empresários (ANJE), que organiza o certame, deixou o alerta de que a continuidade do evento está em risco, por falta de financiamento.

Num comunicado enviado às redações no decurso do evento, que passou pelo Museu do Carro Elétrico no Porto entre quarta e sábado, a ANJE explica que organizou as últimas três edições sem o financiamento europeu que “tradicionalmente” cobre “85%” das despesas.

“O financiamento não chegou às últimas edições de outubro de 2022, março de 2023 e outubro de 2023, porque o quadro Portugal 2030 ainda não tem candidatura aberta”, explicou a entidade. “A previsão de [abertura de um novo] aviso é de abril de 2024. A próxima edição do Portugal Fashion, a realizar-se, acontece em março”, pelo que, conclui a ANJE, esta edição do Portugal Fashion “pode ser a última”.

“Com base na promessa de financiamento que o Governo fez, em outubro do ano passado, para a realização do Portugal Fashion, a Associação Nacional de Jovens Empresários (ANJE) avançou com a realização das últimas edições do evento. No entanto, os atrasos no processo de atribuição dos fundos europeus prometidos têm estado a pressionar as contas da associação, que, no próximo ano, admite não conseguir repetir o esforço feito até aqui, porque significaria pôr em causa a viabilidade financeira da ANJE”, concluem, apelando à ajuda do Governo.

Em entrevista ao JPN, no último dia do evento, a diretora do Portugal Fashion, Mónica Neto, reforça que o certame necessita de novos apoios financeiros para continuar. “Precisamos de uma ajuda para concretizar, com mais estabilidade, aquilo que é a necessidade de produzir um Portugal Fashion”, reiterou.

Mónica Neto diz ao JPN que os apoios privados e da Câmara Municipal do Porto têm sido fundamentais para a realização do PF, mas continuam “a aguardar uma solução que permita, com mais tranquilidade, executar” o que têm de “fazer pela moda portuguesa.”

Ainda assim, a diretora do Portugal Fashion considera que o balanço desta edição foi positivo. “Foi uma edição que chamamos de compromisso, mas também de superação”, afirma, em referência às dificuldades que enfrenta o certame.

Mónica Neto reitera que as equipas que “dão a mão” ao evento são cruciais na “missão de apoiar a moda nacional e de autor.” Segundo a diretora, o Portugal Fashion continua a “criar momentos de promoção para os seus designers”. 

Do lado dos designers, Miguel Vieira, questionado pelo JPN sobre o tema, confessa não acreditar que o Portugal Fashion deixe de ser organizado. Para o estilista português, a moda “é o maior cartão de visita que conseguimos apresentar lá fora”, insistindo que se trata de um área muito importante que permite “vender muito bem o país, em termos de imagem”.

Huarte, criador espanhol que apresentou a sua coleção no último dia do evento, também ressalta a importância destes espaços criados pelo certame. “Se o evento não acontecesse, ficaria desiludido. É uma plataforma que dá visibilidade [aos designers] e é importante, emocionalmente. É um espaço onde nós temos o feedback das pessoas e isso ajuda-nos a continuar, se não, às vezes, até desistíamos”, explica ao JPN.

Huarte foi um dos participantes do concurso BLOOM na edição SS21. Desde então, já participou em várias edições: “Há algumas edições que o Portugal Fashion é organizado em cima da hora e há este ‘stress’ de se vai acontecer. Agora, há meses pela frente para tentar arranjar uma solução, porque isto já não é novo. Não é uma coisa que aconteceu ontem. Eles [a organização] têm de fazer o seu trabalho, da mesma forma que nós fazemos o nosso, que é vir cá apresentar uma coleção”, afirma o estilista espanhol.

Estudo em curso

Em março, a ANJE, a ATP, a Câmara do Porto, a Universidade Católica e a Deloitte anunciaram uma parceria com o objetivo de criar uma estratégia para estabelecer um novo rumo para os próximos anos. O presidente da ANJE, Alexandre Meireles, afirmou nessa altura ao JPN que, no capítulo do financiamento, a ideia era transformar o evento para ser “menos dependente dos fundos públicos”, mas sem deixar de ser apoiado por fundos comunitários. 

Este sábado, a diretora do PF fez ao JPN um novo ponto situação da parceria: “Já concluímos a fase de diagnóstico do estudo e já temos as primeiras formulações estratégicas. Neste momento, estamos a apresentá-las aos stakeholders e aos players que podem ser parceiros na execução desta estratégia. O objetivo é que o plano possa ser apresentado para fazer a concretização de uma estratégia a partir do próximo ano”, explicou Mónica Neto.

Para além disso, relativamente aos anos anteriores, o Portugal Fashion passou por algumas mudanças.

Nesta edição, a maior parte do certame foi feito no Museu do Carro Elétrico, no Porto. O edifício já tinha sido o lugar de alguns desfiles em anos anteriores, mas nunca tinha sido o quartel-general do evento. Mónica Neto admite que instalar uma configuração totalmente nova para este Portugal Fashion foi uma missão “bastante complicada, mas bem superada.” A diretora destaca que a equipa do PF fez um “bom trabalho” de aproveitamento do espaço.

O calendário desta edição também foi marcado pela ausência de nomes de peso na moda nacional, como Marques’Almeida, Katty Xiomara, Diogo Miranda e Marina Gambina. Sobre isto, Mónica Neto afirma que “a ausência de nomes fortes afeta sempre”, mas que, com exceção de Diogo Miranda – que se retirou da moda este ano -, as faltas “são apenas pausas por motivos vários.” 

Por outro lado, o evento contou com a presença de vários designers habituais, como Susana Bettencourt, Miguel Vieira, Luís Onofre, Alexandra Moura, entre outros. Nas passarelles do Museu do Carro Elétrico, também estiveram presentes os designers africanos inseridos na CANEX.

A parceria entre o Afreximbank (Banco Africano de Exportação e Importação) e a ANJE, com duração prevista de três anos, termina em março do próximo ano. Mónica Neto avança ao JPN que existe uma pretensão de avaliar a renovação da parceria, visto que o PF considera que há um feedback positivo no que respeita à qualidade dos projetos. “Há muitos objetivos que foram bem alcançados. Por tanto, faremos de tudo para conseguir manter este projeto connosco”, concluiu.

Com Íris Silva

Editado por Filipa Silva