O último dia do Portugal Fashion, este sábado, contou com a presença de Susana Bettencourt, Huarte, Nopin, Pé de Chumbo, entre outros. Saiba mais sobre estas coleções.

A 43.ª edição do Portugal Fashion chegou ao fim este sábado, 14 de outubro. O último dia de desfiles ofereceu ao público coleções com as mais diversas inspirações, desde a alegria de viver até à tradição marítima portuguesa. Quase todos os designers tentaram, através das suas criações, inspirar emoções na audiência. 

A variedade e a inovação predominaram nos desfiles. A identidade dos criadores esteve presente de maneira forte e clara nas peças. Contudo, os designers não hesitaram em usar técnicas, cores, padrões e têxteis diferentes das que tinham usado no passado.

O desejo de trazer alegria de Susana Bettencourt

A “Volta à Infância”, de Susana Bettencourt, foi inspirada na felicidade ingénua de uma criança. As cores vibrantes, os balões como acessórios, e os padrões inspirados por desenhos de infância da designer, querem transmitir alegria às pessoas. 

Em conversa com o JPN, Susana Bettencourt sorri ao revelar que este desejo veio da crença que o mundo precisa de encontrar a felicidade de viver. Com este este objetivo em mente, Bettencourt quis fazer uma coleção que fosse divertida para a sua equipa. Também fez um open casting, nas redes sociais, para que “as pessoas apaixonadas pela marca” pudessem fazer parte da experiência da nova coleção. 

No que se refere aos têxteis, Susana Bettencourt decidiu usar o tecido em malha, o core da sua marca. “Tivemos outras coleções nas quais introduzimos outras técnicas, mas não é como nós brilhamos mais. Neste momento, estou focada em fazer aquilo que nós somos bons e aquilo que nós temos de diferente para oferecer ao mundo”, explica a criadora.

Atualmente, a estratégia da marca foca-se em vender diretamente ao cliente. Susana Bettencourt diz ao JPN que o cliente direto é muito “mais arriscado”, no momento de comprar roupas com padrões diferentes. “Ganhei uma grande liberdade de fazer aquilo que me sai mais naturalmente. Antes tinha medo de não vender [peças de design mais arriscado], mas neste momento é o que vende mais”, explica.

A atualização da identidade de Huarte 

O desfile de Huarte, ao contrário dos outros, ocorreu fora do Museu do Carro Elétrico, sem deixar a zona ribeirinha do Porto. Na Fonte da Praia do Ouro, durante o pôr do sol, o rio Dourto revelou-se o fundo perfeito para a coleção otimista e moderna apresentada ao público. As roupas e os acessórios foram inspirados em momentos felizes do verão, passados com amigos e família.

“O Portugal Fashion fez a proposta [de mudar o lugar do desfile] e pensei que fazia todo o sentido apresentar aqui. Foi uma loucura, trazer todos os modelos e vesti-los aqui, mas correu bem e fico satisfeito”, afirmou Huarte ao JPN.

O designer explica que, para esta coleção, tentou olhar para o que a sua marca já tinha feito, pegar nos detalhes essenciais da sua identidade e tentar atualizá-los. 

Por exemplo, a ganga, característica nas criações de Huarte, sofreu um tratamento diferente. O têxtil apareceu em várias peças, cru ou às riscas, mas não na sua cor azul tradicional. Além disso, algumas das bolsas foram usadas como tops, numa decisão feita no momento de vestir os modelos, explicou também o designer. 

A ode ao “Mar Português” de Nopin

Foi ao som do poema de Fernando Pessoa – ‘’Mar Português’’ – e da passagem de uma única modelo coberta de renda preta e jóias douradas que a designer, Catarina Pinto, criadora da marca Nopin, colocou todo um público a cogitar sobre o que traria esta nova coleção de primavera/verão. 

Após este momento, que colocou toda a gente em ansiedade, a música mudou e começou o desfile, marcado por rendas, cores escuras e linhas retas que contrastam com tons mais claros e tecidos mais leves. A inspiração por detrás desta coleção “é o mar e todos os elementos a ele associados, como os reflexos, as redes” e até o próprio medo, como explica a designer. 

Numa coleção fortemente inspirada pela cultura portuguesa, nem os materiais ficaram de fora destas origens: “Eu diria que esta coleção está nos 90% portuguesa”, afirmou o rosto que está à frente da marca. 

Sob uma visão inovadora, a designer quis trazer visuais incomuns e subverter alguns estereótipos. Destaca o uso de tweed, material tipicamente clássico, em conjuntos mais modernos e desportivos. O principal destaque foi o uso de ganga com foil transparente, visto em alguns blazers e calças. 

Em entrevista ao JPN, Catarina Pinto explicou o processo de produção destas peças: “Foi cortado a laser com um padrão que é o nosso logotipo em várias formas e que representa o perigo, quase como se fosse as grades de uma prisão”

A celebração do feminino e o glamour no Canex

Vindas de dois cantos diferentes do mundo, Keneea Linton e Anissa Mpungwe, trouxeram ao palco do PF o expoente do glamour dos anos 50 de Hollywood e a celebração das silhuetas femininas. 

A primeira estilista da iniciativa Canex a mostrar as suas obras, este sádo, foi Anissa Mpungwe, com a sua coleção “Eyes to the Sky”, inspirada nas paisagens de Zanzibar. Com tons quentes, como os laranjas e vermelhos que remetem para a poeira, a contrastar com os azuis frios do mar, “todas as peças foram desenhadas com silhuetas clássicas e femininas, com o objetivo de fazer cada mulher amar-se a si mesma”, como explica a designer. 

Um dos pormenores que a designer salientou foi os cortes em acrílico, vistos em alguns modelos. Em declarações ao JPN, Anissa Mpungwe revela que os desenhos foram inspirados nos trabalhados de madeira das portas de Zanzibar, acabando ela por ter feito a sua própria versão destes designs. 

Foi já quase no fim do dia que Keneea Linton mostrou a sua coleção, inspirada no clássico glamour de Hollywood dos anos 50. Com a utilização apenas do preto e do branco em toda a coleção, a estilista jamaicana explica ao JPN que a ideia era recriar os visuais sofisticados das estrelas de cinema que iam ao seu país origem passar férias, daí a utilização de materiais fluidos e mais leves

Em entrevista, a designer confessa que as peças transparentes foram acrescentadas à última hora, devido à peculiaridade da seda, que acaba por ser respirável, fluída e um tecido sustentável.  

O artesanato de Pé de Chumbo 

Alexandra Oliveira, fundadora da marca Pé de Chumbo, apresentou uma coleção mais comercial. A designer contou ao JPN que não houve uma inspiração específica por trás das peças: “Gosto de trabalhar a pensar nos meus clientes. Faço sempre vários temas para conseguir abranger mais consumidores, lojas diferentes.” 

No entanto, a coleção de Pé de Chumbo tem uma linha que conecta toda a coleção. Nesta edição, foi uma variação de estilos inspirados pelo hippie chic dos anos 60 e o estilo dos anos 20

O processo da criação das peças começou com a elaboração dos tecidos e demorou, em média, dois dias por peça. Nenhum dos vestidos tem costuras. A designer explica que, após finalizar o tecido que será usado na peça, o vestido é feito “quase em 3D.” 

Alexandra Oliveira menciona ainda que a Pé de Chumbo “trabalha com uma margem de erro”. “Erramos numa e depois conseguimos fazer melhor. Eu olho para uma e evoluo”, afirma a designer.

Finalmente, entre risos, Alexandra Oliveira explicou ao JPN o motivo pelo qual tirou os sapatos, quando saudou à audiência, no final do desfile: “[As modelos] tiveram que ir descalças, porque as sandálias que usavam estavam amarradas só com um laço, que se desapertou. Depois, eu resolvi tirar os meus sapatos. Foi uma coisa do momento.”

Os acessórios transparentes de Pedro Pedro 

Seguindo a mesma estética urbana e sem género de sempre, o casal português por detrás da marca Pedro Pedro apresentou, este sábado (14), a nova coleção primavera/verão. 

Desde os tons crus aos estampados florais, todas as peças remeteram para um visual primaveril. 

Apesar do contraste entre os “trench” com os conjuntos mais leves, os modelos oversized mantiveram-se do início ao fim, servindo como elo de ligação. 

Com uma coleção moderna e coesa, foram os acessórios que brilharam na passarela. Desde malas a brincos, passando por tops a imitar formas da água, as peças de acrílico foram as estrelas do espetáculo. Os óculos presentes em alguns modelos foram também um elemento diferenciador e que serviram para marcar, mais uma vez, a posição da marca como agénero. 

Após quatro dias com os melhores nomes da moda nacional e internacional, o Portugal Fashion despediu-se mais uma vez da Invicta.

Editado por Filipa Silva