Itália foi a votos no último domingo. A maioria não foi conseguida por nenhum dos partidos ou coligações. Paulo Almeida Sande, especialista em assuntos europeus e professor do Instituto de Estudos Políticos da Universidade Católica, considera as eleições uma “surpresa”.
Nas eleições deste domingo, os eleitores italianos votaram em candidatos para a Câmara dos Deputados e para o Senado. Segundo os resultados avançados até agora, o Movimento 5 Estrelas (M5S) é o partido mais votado, com uma percentagem de 32,5%.
No que diz respeito às coligações, a de centro-direita – composta por quatro partidos, entre eles, o Força Itália (Berlusconi) e Liga (Matteo Salvini) – lidera as eleições com 36,2% dos votos.
Entretanto, Matteo Renzi (Partido Democrático) acabou por se demitir esta manhã, face aos resultados que evidenciavam a derrota da aliança à esquerda.
Paulo Almeida Sande acredita que a decisão de Renzi é consequência dos resultados da esquerda que, segundo o especialista, “já eram esperados”. O professor da Universidade Católica garante ainda que a candidatura de Matteo Renzi foi uma “má aposta”.
“Quem venceu foi a Liga, que também acaba por ser um partido de protesto e antissistema”
A Comissão Europeia não quer comentar os resultados das eleições legislativas em Itália pelo facto de ainda não serem oficiais. O organismo pede, no entanto, que haja um “governo estável”, algo que Paulo Almeida Sande considera “não estar perto” de acontecer.
Para o especialista em assuntos europeus, “as forças antissistema – partidos que rejeitam a classe política tradicional e que rejeitam a União Europeia – venceram as eleições de forma bastante clara”. Paulo Almeida Sande refere-se aqui ao M5S que, “apesar de ter menos votos do que a aliança de direita, acaba por ser o partido com liderança nestas eleições”.
Paulo Almeida Sande adverte ainda para o facto de a “aliança de direita” não ser “completamente homogénea”. Isto porque, dentro da coligação centro-direita, “quem venceu foi a Liga, que também acaba por ser um partido de protesto e antissistema”.
O professor adianta ainda que o Força Itália, apesar de ter intenções de ser o líder da aliança à direita, “não terá conseguido”. Nesse sentido, se “Matteo Salvini exigir ser primeiro ministro, isto representa uma derrota para Berlusconi nesta sua aposta”, sustenta o especialista.
“Tem que haver aqui negociações, terá que haver aqui acordos”
Ao JPN, Paulo Almeida Sande refere que nenhum dos partidos candidatos terá “condições de governar sozinho” e que, por isso, é importante haver diálogo entre eles. “Tem que haver aqui negociações, terá que haver aqui acordos”, conclui.
Paulo Almeida Sande garante que já foram apresentadas algumas alternativas para solucionar a inexistência de uma maioria absoluta. Segundo o professor, uma das hipóteses diz respeito ao presidente da República de Itália (Sergio Mattarela) e pode passar por “convidar uma personalidade independente para ser líder do governo, mas que não saia de nenhuma das forças políticas da lista”.
Outra possibilidade apontada pelo especialista tem que ver com um “acordo ao centro, entre a aliança à esquerda e a aliança à direita”. O professor da Universidade Católica alerta ainda para a opção de “haver novas eleições”.
Relativamente ao facto da Europa poder sair afetada com as eleições italianas, o especialista em assuntos europeus explica ao JPN que isso pode acontecer no caso de quem subir ao poder ser um partido que rejeite a União Europeia.
Para já ainda não há maioria absoluta para nenhum dos partidos e incerteza quanto ao futuro do governo italiano mantém-se.
Artigo editado por Sara Beatriz Monteiro