Entre o fura-fura, empurrões, cânticos e bandeiras, a comitiva socialista entrou no comboio no Marco de Canaveses em direção ao Porto e confundiu-se com os passageiros. O arranque da última semana de campanha fez-se, esta segunda-feira (4). A caravana socialista também passou pela Afurada, já ao final da manhã.
A reboque da viagem de comboio escolhida para a primeira ação do dia desta segunda-feira (4), Pedro Nuno Santos quis mostrar a obra feita, como ex-ministro das Infraestruturas, cargo que ocupou entre 2019 e 2022. O líder do Partido Socialista (PS) quis mostrar a nova linha “modernizada e eletrificada”, como deixou claro, aos jornalistas, na chegada à estação do Marco de Canaveses. “A nossa opção é avançar” e apanhar o comboio, rematou. E assim foi.
A tentar furar entre dezenas de pessoas – atrás de si apoiantes, à frente pessoas com as bandeiras do PS -, Pedro Nuno Santos entrou no comboio e escolheu os lugares do meio para se acomodar durante uma viagem de mais de uma hora, ao lado de Francisco Assis, cabeça de lista pelo círculo eleitoral do Porto. Na carruagem, ia encontrando conhecidos, que lhe desejavam boa sorte, num ambiente de convívio.
Uma campanha “muito pouco liberal”
Para trocarem palavras com o candidato, os apoiantes iam circulando à vez. “Vamos dar a vez”, e lá vinha mais um grupo de outra parte da região, uma vez que era quase impossível Pedro Nuno Santos circular pela carruagem, dada a concentração de jornalistas. No entanto, isso não impediu que mais tarde o fizesse. Dada a falta de mobilidade dentro da carruagem, houve quem comentasse que era “uma campanha muito pouco liberal”, em tom de ironia.
Entre os muitos apoiantes, um deles deixou-lhe um conselho: “Os ferroviários estão habituados a esta guerra, mas também tem que lhe dar em cima”, referindo-se aos adversários. Até houve quem não pudesse entrar no comboio, mas, perplexo com a presença do líder socialista, batesse ao vidro e entrasse na carruagem por breves segundos aos gritos para mostrar o seu apoio. Quando uma freira entrou na carruagem, Pedro Nuno Santos pediu que rezasse por uma vitória a 10 de março, dia em que se realizam as eleições legislativas.
“Quem é que não quer andar de comboio com o Pedro Nuno Santos?” era a frase mais repetida, sempre que paravam num apeadeiro e entravam mais utentes.
Esta viagem fugiu às regras convencionais e até mesmo uma grande caixa de doces locais circulou (“Camaradas, quem é servido?”), e ainda deu para brindar com vinho do Porto caseiro, servido em copos de plástico: “em honra, aqui à região”, “aos progressos do Tâmega e Sousa”, “à nossa vitória no dia 10”, ouviu-se.
Uma coisa é certa: até quem acompanha Pedro Nuno Santos não escondia a surpresa com o sucesso desta ação de campanha.“Ação de segunda-feira assim, a AD está metida num saco”, comentam dois membros da comitiva.
“Se há alguém que tem uma visão para a ferrovia, somos nós”
À margem da ação de campanha no comboio, o socialista foi confrontado com várias perguntas dos jornalistas sobre a ferrovia. Em resposta, Pedro Nuno Santos deixou claro que quer que “as pessoas migrem do automóvel para o transporte coletivo”, uma vez que “o comboio é o meio de transporte do futuro”. Fez também críticas aos governos passados: “Andamos décadas a desinvestir, a fechar linhas, infelizmente, a deixar a ferrovia degradar-se e começamos, neste último Governo, a recuperar”.“Se há alguém que tem uma visão para a ferrovia, somos nós”, afirmou, insistindo que não teme que venha a ser Luís Montenegro a inaugurar as obras em curso.
Ainda sobre a ferrovia, destacou que são necessários mais comboios, visto que os últimos foram adquiridos há “mais de 20 anos” e existem “comboios com 50 anos a circular”. Pedro Nuno Santos aproveitou, este momento, para falar das carruagens recuperadas, que inaugurou, em Guifões, e anunciar que para o próximo ano vão chegar mais 20 comboios para renovar. “Mas há também 117 para virem no futuro, nos próximos anos”, acrescentou.
A semana decisiva já começou e com ela o apelo ao voto. A viagem fez-se com a preocupação de se “dirigir aos indecisos”, porque o que está em jogo “são dois projetos diferentes”, na opinião do socialista. “O nosso é um projeto com ambição. Estamos a apostar no aumento dos salários, das pensões, na melhoria dos nosso Serviço Nacional de Saúde, ao contrário do projeto do nosso principal adversário que é para os de cima, aos que não precisam. Queremos trabalhar para a maioria do povo e não para alguns”, disse aos jornalistas.
O secretário-geral do PS não antevê uma maioria à direita, porque considera que “não existe essa unidade”, desde que “o PSD excluiu o Chega”. Pedro Nuno Santos não quer “desperdiçar votos”, por isso lançou mais um apelo: “Quem quer travar o regresso da direita ao poder e o regresso ao passado, deve concentrar o seu voto no Partido Socialista. Apelo a todos os indecisos que devem votar no PS”.
Já na reta final da viagem de comboio, foi com um “mas eu não vou a viagem toda a falar, pois não” que rematou a conversa com os jornalistas e foi ter com os vários passageiros, que elogiaram a redução dos passes ferroviários, dos tempos de viagem e o aumento da frequência dos comboios. Aliás, a redução dos passes “é para continuar”, frisou.
Pelo meio da viagem, brincou também com os destinos: “Agora vou para [a estação de ] São Bento. No dia 10 de março, se os portugueses quiserem, também. Estamos a trabalhar para mobilizá-los”. O secretário-geral socialistas acrescentou ainda que tem “muita vontade de continuar a transformar o país, para que o povo possa viver melhor em Portugal”.
Embora tenha dito não se recordar da última viagem que fez de comboio, por não ter este meio de transporte entre casa e o trabalho, em Lisboa, quer ir até São Bento, a residência oficial do primeiro-ministro. No Porto, ficou por Campanhã, onde foi recebido com muita azáfama, e, depois, seguiu para a Afurada, em Gaia.
Não há campanha, sem Afurada
Junto à foz do Douro, em S. Pedro da Afurada, foi recebido com euforia pelos apoiantes do PS. Duas senhoras, verdadeiramente fãs, de bandeiras vermelhas e brancas, na mão, aguardavam a chegada do candidato. “Estamos aqui a guardar lugar, desde as 10h00. Muito ansiosa por conhecer o senhor Pedro Nuno Santos pessoalmente”, disse Ana Coutinho, ao JPN. Pedro Nuno Santos chegou de carro, do lado contrário, e também Joaquina, que estava ao seu lado, não conseguiu “dar-lhe um beijo”, pedido que fez algumas vezes durante a arruada: “não há hipótese”.
Os apoiantes quase cortaram a estrada e várias pessoas surgiram às varandas. Atrás de si, Pedro Nuno Santos ia ouvindo cânticos: “PS! PS!” ou “Pedro, amigo, o povo está contigo” – expressão que muitas vezes usa -, incentivados pelo ministro da Saúde, Manuel Pizarro, acompanhado do deputado Tiago Barbosa Ribeiro e do secretário de Estado do Desporto, João Paulo Correia. Ia cumprimentando quem se dirigia a ele e o abordava, até nas laterais – como foi o caso de Maria da Glória, que lhe dizia já ser do PS “há muitos anos” e que o acompanha desde Marco de Canaveses, de onde é natural.
Pela Afurada fora, o apelo ao voto voltou a ser tema de conversa, que mal se ouvia, com a música dos cânticos e do Rancho Folclórico da Afurada e os bombos que guiavam a caravana socialista pelas ruas estreitas dos pescadores. A meio da Avenida dos Pescadores, a atleta Rosa Mota juntou-se para acompanhar a caminhada socialista e assegurar o seu voto no PS no dia 10.
No meio da multidão, houve espaço para conversas. Uma senhora pediu-lhe “liberdade a sério”, a começar pela “paz, pão, habitação, saúde e educação”. Para isso, “o PS tem de derrotar a AD, se não estamos tramados”, segundo Pedro Nuno Santos.
A receita tem sido praticamente a mesma: acenos, beijos, abraços, muitas selfies e cumprimentos do candidato. Pelo meio das casas, distribuía beijos entre as senhoras que apareciam à porta; abraços e apertos de mão aos senhores nas esplanadas.
“Não podemos desbaratar o que conquistámos”
Pedro Nuno Santos aproveitou os momentos ao microfone, num comício improvisado por cima da “Casa do Mar”, ao lado da União Furadense, sede do Rancho Folclórico da Afurada, para se dirigir ao “povo do trabalho”. Na sede, que costuma servir “bifanas”, “prego em pão”e “cachorros”, ofereceram-lhe um barco para colocar “no escritório de primeiro-ministro”, como já tinha acontecido na passagem por Matosinhos.
“Não podemos desbaratar o que conquistámos. Temos é que andar para a frente, não é andar para trás como alguns querem. Queremos continuar a avançar, construir um futuro onde todos possamos viver melhor: os jovens, os mais velhos, a classe média, os trabalhadores, os pescadores também. Todos os portugueses“, disse.
Depois de uma semana de campanha, a música “boa sorte, boa sorte” continua a ser o hino escolhido, depois de ter sido ecoado, pela primeira vez, durante a visita de Pedro Nuno Santos a Angeiras, em Matosinhos.
Minutos antes da comitiva socialista dispersar, houve a atuação do Rancho da Afurada. O líder socialista regressa ao Porto, no dia 7 de março, um dia antes de acabar a campanha, para a arruada em Santa Catarina.
Editado por Inês Pinto Pereira