A campanha de Pedro Nuno Santos arrancou cedo, à beira-mar e sem “palavras proibidas”. Este domingo (25), a rota socialista fez-se em Matosinhos e o JPN acompanhou-a.

Manhã de domingo no Mercado de Angeiras, em Matosinhos. Casa de partida para a campanha eleitoral do Partido Socialistas para as legislativas de 10 de março. À porta do pequeno mercado, uma bicicleta com uma coluna amarrada e uma bandeira do PS atada. O dono estava do outro lado da rua, junto a um café, acompanhado de mais populares. Estava à espera que a caravana socialista chegasse ao ponto combinado para garantir que a sua bicicleta, tão bem estimada, fosse vista por Pedro Nuno Santos.

Avelino Manuel Ribeiro mora em Angeiras desde sempre e diz ser filho do maior militante do partido socialista”. Conta que foi um amigo que lhe arranjou a bicicleta e que todos os dias depois do trabalho anda com ela por Angeiras “inteira”, com a bandeira ao vento. Sempre com a coluna no máximo e, neste dia, não foi exceção. O barulho não foi, contudo, suficiente para chamar a atenção do líder do partido que, dada a concentração de população e de jornalistas, perdeu a oportunidade.

Avelino Manuel Ribeiro, todos os dias depois do trabalho, anda com uma bicicleta com uma bandeira do partido socialista atada pelas ruas de Angeiras. Nádia Neto

Dentro do mercado, onde o ambiente era mais vivo, o JPN encontrou Fátima Serena, peixeira, que vota “sempre” no PS e que está “animada” com a festa do partido no mercado, confessa, enquanto dá uns passos de dança. Alice Moreira de Jesus, da banca ao lado, acompanha-a nas danças e partilha da mesma opinião: o PS “é o partido de sempre”.

Mais tarde, foi com “Quer um peixinho?” – pergunta mais que habitual para Fátima que já faz 35 anos desta profissão e está no mercado desde da sua abertura em 2004 – que recebeu Pedro Nuno Santos. “Está tudo parado. Por causa da festa, nem se vende”, admitiu Fátima, no final da visita. 

Fátima Serena, 73 anos, dança ao som da festa do PS, junto à sua banda, no Mercado de Angeiras. Nádia Neto

Pedro Nuno Santo fez parar o mercado

O Rancho das Sargaceiras e Marítimos de Angeiras, de bandeiras nas mãos, esperou por Pedro Nuno Santos. Nem a chuva impediu a festa de receção, com mais de meia hora de atraso, ao som da canção que invocava o Senhor de Matosinhos

Em poucos minutos o mercado encheu e tornou-se apertado. “Quer uma fotografia? Alguém que nos tire uma fotografia”. Este pedido de Pedro Nuno Santos passou a ser ritual sempre que via um popular com ar envergonhado e telemóvel na mão, e lá tirava a fotografia como uma verdadeira celebridade. Foi o primeiro e último pedido do secretário-geral do PS durante a visita ao Mercado de Angeiras, na zona piscatória de Matosinhos, que também foi ponto de campanha do anterior líder socialista, António Costa, em 2015.

Uma após outra, percorreu todas as bancas do mercado sempre ao lado da anfitriã Luísa Salgueiro, presidente da Câmara de Matosinhos, acompanhado de Francisco Assis, cabeça de lista pelo círculo eleitoral do Porto, e dos restantes candidatos pelo Porto. Acompanhado de uma comitiva de cerca de duas dezenas da Juventude Socialista, que foi cantando gritos de apoio ao partido em cada pausa. 

De sorrisos nos lábios, mas com poucas palavras, Pedro Nuno Santos soube vender também o seu peixe e foi retribuindo o afeto dos populares, uma vez que “a campanha é feita com as pessoas”, tal como afirma o socialista. “O PS e o povo português têm uma relação de proximidade e confiança”, disse. Desta forma, ouviu e tirou fotografias com todos os comerciantes e, inclusive, turistas. Até cantou ao microfone. 

Desafio lançado por José Barbosa, cantor popular local, que junto do líder socialista, começou a cantar a música de Dino Meira: Boa sorte, boa sorte, eu te desejo de todo o coração”. Fez parar o mercado, com os simpatizantes do partido a entoar o refrão, como manda a tradição portuguesa. Mas, não ficou por aí, e o cantor desafiou-o para uma maioria absoluta. Por sua vez, o socialista, em declarações aos jornalistas, admitiu que “não há palavras proibidas” e que está “a lutar pelo melhor resultado possível, com respeito e humildade democrática, é só isso que fazemos”.

PS jogou em casa e pediu vitória

À saída do mercado, preferiu não fazer novos comentários sobre cenários pós-eleitorais, chutou para o lado a questão e assegurou que está “focado no país, em mobilizar o povo e em ter uma grande vitória que trave o avanço das diferentes direitas”.

De olhos postos no futuro, Pedro Nuno Santos atira: “vamos ganhar no Norte e no Porto, em particular”. Disse-o num concelho que sabe bem o que é votar PS, não fosse uma autarquia cor-de-rosa desde que há democracia em Portugal.

Já dentro do carro, foi abordado por vários populares que queriam mais uma fotografia ou até mesmo que o candidato lhes pagasse uma bebida no café em frente. Mas fica para uma próxima visita.

“Desconfiem, desconfiem sempre”

Finalizada a visita ao mercado, percorreu 14 quilómetros até ao Centro de Desportos e Congressos de Matosinhos para um almoço-comício. O secretário-geral do PS começou a jogar em casa em ambiente de festa. Segundo as contas socialistas, estavam no local cerca de duas mil pessoas.

Apesar de estarem numa zona de pesca, para o almoço foi servido carne. No centro da mesa de almoço de Pedro Nuno Santos, estava um barco azul, que tinha o símbolo do PS e o seu nome escrito no proa. “À tua frente tens o barco de pescadores de Matosinhos que simboliza a força, a determinação. O mar pode estar carregado, mas daqui nós nunca tememos, esta energia, esta força, esta capacidade que levas até ao fim da campanha que terminará no dia 10 de março”, explicou Luísa Salgueira, presidente da Câmara de Matosinhos e da Associação Nacional dos Municípios (ANMP), além de umas das principais apoiantes da candidatura.

Na mesa, Pedro Nuno Santos tinha à sua frente um barco com o seu nome. Nádia Neto

Foi Luísa Salgueiro a primeira a subir ao palco e a falar, em tom de defesa, do papel que os municípios têm agora na ação social, educação e saúde. “Estes dias são decisivos. São propícios a algum nervosismo, mas as pessoas não se esquecem. Há dois anos, as sondagens davam a vitória ao PSD, mesmo na última semana de campanha, mas o PS teve maioria absoluta”, afirmou.

Temos de fazer um esforço de nos dirigirmos às muitas pessoas que ainda estão indecisas. As pessoas sabem que houve um Governo que fez e não se esquecem”, referiu a presidente da Associação Nacional dos Municípios, reforçando, mais uma vez, apoio à candidatura de Pedro Nuno Santos. Durante o discurso, fez questão de relembrar que as oficinas ferroviárias de Guifões, que estavam fechadas, reabriram em 2020, quando Pedro Nuno Santos tutelava a pasta das Infraestruturas.

Seguiu-se Francisco Assis, cabeça de lista pelo círculo eleitoral do Porto, que deixou claro que a tarefa do PS não será fácil. “Mas alguma vez, nós socialistas, tivemos algum combate que não fosse difícil?”, questionou. No entanto, para esta luta, “está tudo em aberto”. “Não me lembro de ver um almoço com tantas pessoas como este”, concluiu. 

Pedro Nuno Santos, foi o último a discursar e a lançar críticas às “direitas”. “Lutar pelo futuro de Portugal não é uma opção, é um dever”, começou por dizer no púlpito.

“Defender Portugal dos ilusionistas das direitas não é uma opção, é um dever”, bem como “defender o SNS daqueles que o querem entregar aos privados”, afirmou. Os socialistas têm “o dever de defender o Estado social, o dever de defender as conquistas de Abril”, num ano em que se celebra o quinquagésimo aniversário da Revolução dos Cravos, referiu ainda.

Para o socialista, no dia 10 de março, os portugueses “vão escolher se querem manter o Estado social ou se querem mudar para um Estado liberal”. “Desconfiem, desconfiem sempre daqueles que hoje prometem tudo, para quem tudo é fácil”, foi a principal declaração de Pedro Nuno Santos, que, durante o discurso, defendeu também um “ensino universal e gratuito” do “zero até à faculdade” e prometeu duplicar as camas nas universidades. Terminou galvanizado pelo apoio recebido em Matosinhos. Nos próximos dias, visitará os arquipélagos da Madeira e dos Açores.

Editado por Inês Pinto Pereira