O candidato à presidência do FC Porto, André Villas-Boas, apresentou a estratégia da sua lista para a viabilidade financeira do clube. Comentou ainda as recentes acusações de Pinto da Costa, dizendo que “são demasiado fáceis de desmentir”.

André Villas-Boas e o seu CFO comentaram o R&C do Porto. Foto: Afonso Leite/JPN

André Villas-Boas e o seu diretor financeiro, José Pereira da Costa, expressaram, esta terça-feira (5), preocupações relativas às contas do FC Porto do primeiro semestre da época 2023/24. Numa sessão realizada na sede da campanha, o candidato a CFO começou por afirmar que o exercício, que contempla um resultado líquido positivo de 35 milhões de euros, apenas “embeleza os capitais próprios de hoje para piorar os resultados do futuro”. O ex-administrador financeiro da NOS pediu mais transparência por parte da atual direção e afirmou que esta operação “não conta para a melhoria dos capitais próprios, segundo o artigo 88 das regras do Fair Play Financeiro (FPF) da UEFA”.

Reforçou que “os capitais próprios deveriam ter sido melhorados em cerca de 10%” e, uma vez que a operação não conta para este efeito, gostavam  de “saber o que vai ser feito até 31 de março (data limite da apresentação da melhoria)”. Relembra ainda que foi feito, sem sucesso, um procedimento semelhante em 2014/15, por incorporação dos 47% da Euroantas na SAD, que durou apenas dois anos, antes de os resultados voltarem a ser negativos.

A candidatura de AVB pretende reduzir em pelo menos 50% os custos de remuneração do Conselho de Administração da FC Porto SAD, cujos valores atuais excederão os dois milhões fixos por ano. A remuneração variável destes órgãos também será limitada a 60%. De acordo com os planos apresentados espera-se uma redução de custos de 20 a 30 milhões de euros, que resultarão em 40 a 60 milhões de melhoria quando considerados os valores do crescimento económico pretendido, asseguram.

José Pereira da Costa mostrou, ainda, uma comparação do saldo dos mercados de transferências dos rivais diretos (Benfica e Sporting) com os o do FC Porto para demonstrar que o dos dragões é largamente inferior. Apesar de o FC Porto ter gerado 492 milhões de euros em vendas, nas últimas seis temporadas, “sobraram” apenas 52 milhões quando se consideram os valores das entradas. Para pôr em contexto, o saldo do Benfica foi de 220 milhões e o do Sporting de 242 milhões. Segundo o administrador financeiro, esta diferença deve “preocupar e envergonhar” qualquer portista.

Os contratos de direitos televisivos do clube da Invicta já estão acordados até 2028, logo não há muito que possa ser feito nesse aspeto caso a lista de Villas-Boas seja eleita. Outro aspeto no qual vai ser impossível ter algum controlo, é o negócio da Porto Comercial 2 – acordo realizado com a empresa Legends para a exploração comercial do Estádio do Dragão. O diretor financeiro afirma que “há muito pouca informação” sobre um acordo que “pode comprometer os próximos 20/25 anos do clube“. José Pereira da Costa critica que este tipo de negócios, que podem “hipotecar receitas futuras do FC Porto” não deveriam estar a ser feitos por uma direção em final de mandato.

Para finalizar, ainda sobre este acordo com a Legends, o CFO afirmou desejar saber em concreto qual “o volume e o custo da parceria” e como é que se compara “com alternativas de financiamento por dívida mais tradicionais”. Na apresentação deste negócio, a atual direção efetuou uma comparação com acordos semelhantes feitos por grandes clubes europeus, como o Barcelona e o Real Madrid. No entanto, Pereira da Costa não tem tanta certeza se estas parcerias são assim tão comparáveis e volta a pedir mais transparência sobre o “perímetro das receitas a incluir”.

No final da análise, AVB e o seu diretor financeiro responderam a várias perguntas dos jornalistas. O candidato a presidente confirmou que o conceito da academia em Vila Nova de Gaia será mostrado “ainda este mês ou no início de abril”. Aproveitou o momento para criticar os planos da academia na Maia por parte da direção liderada por Pinto da Costa: “Torna-se cada vez mais evidente que a academia na Maia não passa de uma utopia e um chorrilho de mentiras. A academia não está em movimento e foi apenas uma promessa de Pinto de Costa”. Reforçou ainda as críticas feitas por José Pereira da Costa, relativas aos acordos feitos pela atual direção em final de mandado e pede mais “moralidade e ética nas decisões, numa fase tão decisiva para o FCP“.

Nos últimos dias, o atual presidente do FC Porto acusou a candidatura de AVB, dizendo que inclui “pessoas com interesses televisivos e na venda de jogadores”. O candidato não se mostrou preocupado e afirma que “torna-se demasiado fácil desmentir o presidente“. Villas-Boas respondeu que “nos últimos anos o clube tornou-se um entreposto com pessoas privilegiadas para negociar jogadores com o FC Porto. O próprio é que tem de esclarecer as pessoas que estão na lista dele”.

Villas-Boas parabenizou a equipa do Porto pela grande vitória frente ao Benfica. Anunciou ainda que pretende continuar a visitar casas do clube até ao final do março e apresentar os nomes da sua lista, nomeadamente da administração desportiva e da Fundação FC Porto, em abril.

Quando questionado sobre as comparações efetuadas por Pinto da Costa entre as duas vitórias por 5-0, ao maior rival, o líder da candidatura “Só Há Um Porto” diz que “viveu mais intensamente a deste fim de semana” porque a partilhou com o seu filho. Ainda assim, o ex-treinador relembra que “a equipa de 2011 era uma máquina trituradora” e deu origem a “uma época marcada para sempre na memória dos portistas, por muito que o atual presidente a queira fazer desaparecer“.

Apesar de tudo, André Villas-Boas confirmou o desejo no sucesso desportivo do FC Porto para o que resta da temporada: “Os bons resultados nunca vão jogar contra mim nunca joga porque jogam a favor do clube“.

As eleições do FC Porto estão marcadas para 27 de abril.