O cineasta foi responsável por duas das maiores produções do cinema português: “O Lugar do Morto” (1984) e Jaime (1999). Ao JPN, Mário Augusto recorda-o como “apaixonado pelo país e pela forma de contar histórias, de fazer cinema”. O realizador tinha 84 anos.

António Pedro Vasconcelos

António Pedro Vasconcelos faria 85 anos no próximo domingo Estúdio de Investigação de História Oral Audiovisual do Cinema Português/Facebook

O realizador António-Pedro Vasconcelos morreu aos 84 anos. O cineasta estreou-se no cinema, em 1973, com “Perdido por cem…”. “Parque Mayer” (2018) e “Km 224” (2022) foram os últimos trabalhos.

“A família de António-Pedro Vasconcelos informa que o nosso A-PV partiu esta noite, a poucos dias de completar 85 anos de uma vida maravilhosa“, pode ler-se no comunicado emitido pela família a confirmar a morte do cineasta. “Cada ano, cada mês, cada dia, dessa vida extraordinária que passou ao nosso lado fez de nós as pessoas mais felizes do mundo. E, certamente, também a muitos outros, graças ao seu trabalho, ao seu talento, às suas inúmeras lutas e incontáveis paixões“, continua.

Nascido em 10 de março de 1930, em Leiria, António-Pedro Vasconcelos viria a deixar um legado cinematográfico recheado de realizações e produções de dois dos maiores filmes do cinema português: “O Lugar do Morto” (1984) e “Jaime” (1999), galardoado com a Concha de Prata do Festival Internacional de Cinema de San Sebastian e com os Globos de Ouro para melhor filme e melhor realizador.

Em declarações ao JPN, Mário Augusto, autor e apresentador de televisão e amigo próximo do cineasta, recorda António-Pedro Vasconcelos como “um homem de cultura e apaixonado pela cultura, pelo país e pela forma de contar histórias e fazer cinema”.

“Éramos amigos há muitos, muitos anos. Acho que o primeiro filme que vi do António-Pedro foi o “Oxalá”. Aliás, foi dos primeiros dele. Conheci-o logo nessa altura e mantivemo-nos [amigos] toda a vida. Eu era um jovem adolescente interessado em cinema e ele sempre foi muito cordial com as pessoas, com quem era curioso sobre cinema. Posso dizer que ele me acompanhou ao longo da vida. Na vida não só profissional, mas como amigo. Era uma pessoa com quem frequentemente ligava”, contou.

Mário Augusto descreve António-Pedro Vasconcelos como “muito culto e muito interessado em partilhar conhecimento e causas”.  O autor refere ainda que a vida do realizador foi “marcada por esse encanto de fazer alguma coisa pelos outros e ter um papel ativo na cultura e nas artes”.

O apresentador e analista de cinema afirma que acompanhou e envolveu-se na rodagem do filme “Jaime”: “Ele tinha uma adoração pela cidade do Porto, pela cinemática da cidade do Porto e acabou por vir fazer aqui o ‘Jaime’, que é um filme que refletia, muito antes do tempo, as questões da exploração do trabalho infantil”.

Sobre o legado deixado por António-Pedro Vasconcelos, Mário Augusto destacou ainda “Os Gatos Não Têm Vertigens” (2013) e “Oxalá” (1981), que explora os retornados do pós-25 de Abril e que “foi um abanão na posição de cinema da altura”.

Acrescenta ainda que o realizador “defendeu e recuperou para o cinema português (…) Manoel de Oliveira. Ele era um jovem comparado com Manoel de Oliveira e insistiu para que o Manoel de Oliveira, quando começou a haver dinheiro no 25 de Abril para o cinema, fosse um dos primeiros a filmar. Aliás, ele produziu o primeiro filme de Manoel de Oliveira, no pós-25 de Abril”. Ao JPN, explicou também que fez o mesmo com Paulo Branco, com quem fez as suas primeiras experiências.

A notícia do falecimento, entretanto confirmada pelo Ministério da Cultura, foi avançada por João Soares nas redes sociais. O antigo presidente da Câmara de Lisboa descreveu o realizador como um “amigo e apoiante sem falhas de Mário Soares”. No próximo domingo, o realizador faria 85 anos.

O velório vai decorrer entre as 15h00 e as 22h00 desta quinta-feira (7), na Gare Marítima de Alcântara, estando também marcada uma cerimónia evocativa para as 18h30, de acordo com a informação enviada à agência Lusa. O funeral realiza-se na sexta-feira (8), às 13h30, no Cemitério dos Prazeres, em Lisboa, onde o corpo vai estar a partir das 11h00, de acordo com a família.

Editado por Inês Pinto Pereira

Artigo atualizado com informações sobre o velório e funeral às 09h01