Debaixo de chuva, cravos e confetis, na arruada de Santa Catarina, esta quinta-feira (7), o líder do PS voltou a apelar ao voto dos indecisos e mesmo aos desiludidos com o governo PS.

A Praça da Batalha, no Porto, foi, esta quinta-feira (7), o ponto de encontro para a última arruada do Partido Socialista a norte. Junto ao cinema mais emblemático da Invicta, muitas pessoas com bandeiras e camisolas do partido davam corpo à mobilização. Os minutos passavam e nem mesmo o atraso do Pedro Nuno Santos fez alguém arredar pé. Foi o caso de Carlos Pinto, de 67 anos, que, junto à fonte da praça, abanava uma bandeira de três metros

Ao JPN, afirma que “anda sempre” com a bandeira atrás. Confiante, o militante diz ter ainda uma outra bandeira maior, com seis metros, que quer levar a desfilar pelos Aliados: “Quando vencer no domingo à noite quero andar [com a bandeira] pelo Porto”, atira.

Carlos Pinto, de 67 anos, junto à fonte da Praça da batalha, abanava uma bandeira de 3 metros do PS. Nádia Neto

A par do slogan escolhido para a campanha (“Abril começa em Março”) foram distribuídos cravos. Aliás, na chegada ao ponto de encontro, foi o próprio Francisco Assis, cabeça de lista pelo Porto, a dar ao líder do PS um cravo vermelho. Foi, como é hábito, um dos elementos visuais da arruada socialista, podendo dizer-se que caiu uma chuva de cravos, em plena Rua de Santa Catarina. 

E por falar em chuva, 15 minutos depois do início da caminhada, começou a chover e o céu só aliviou no final do percurso de Pedro Nuno Santos, quando este já discursava num pequeno palco, no final da rua, junto ao Metro do Bolhão. A arruada foi, por isso, intensa do início ao fim, por força das condições atmosféricas, da multidão e da grande concentração de jornalistas.  

Ao longo da arruada, o secretário-geral do PS ia respondendo aos jornalistas. Já o contacto com a população foi bastante limitado. Apesar da confusão e dos empurrões, muitas pessoas conseguiam chegar até ao líder. As senhoras e jovens furavam, quando era possível, a ‘bolha mediática’ para tentar a sua sorte. Na maioria das vezes, conseguiam. “Deixem passar, é só uma foto”, ouvia-se. Era impossível ficar perto do candidato mais tempo do que o de um simples disparo. A mesma sorte não teve um senhor com um cartaz alusivo aos lesados do BES, que fez várias tentativas falhadas de chegar ao candidato. 

“Chuva não é mau presságio, é abençoada, olhem a força mesmo com esta chuva”

A calçada da rua quase não se via, um mar em tom de bordô (cor dos guarda-chuvas da comitiva) encheu Santa Catarina. Nem mesmo a chuva, fez abrandar o ritmo e a caravana socialista seguiu firme. Já Pedro Nuno Santos dispensou o guarda-chuva e encharcado, da cabeça aos pés, garantiu que a “chuva não é mau presságio, é abençoada, olhem a força mesmo com esta chuva”. 

Pedro Nuno Santos, no meio da arruada. Nádia Neto

Ao seu lado seguia Francisco Assis, bem como Manuel Pizarro, Tiago Barbosa Ribeiro e Rosa Mota, que acabou por protagonizar um momento caricato. A atleta olímpica foi várias vezes ‘engolida’ pela multidão. “Onde está a Rosa Mota?”, repetiu, várias vezes, Pedro Nuno Santos, pelo caminho. 

Durante a caminhada, o PS não esqueceu a sombra do adversário principal (AD) que seguia por perto, numa outra arruada que começou com meia hora de diferença para a dos socialistas. Num derradeiro apelo, Pedro Nuno Santos comparou a “mudança boa” do seu partido à “mudança má” da AD.

Pedro Nuno Santos teve um propósito bem definido para a arruada: “segurar votos”. Ao povo – expressão que muito usou na campanha – deixou o recado: “Vamos embora, trabalhar, levar os nossos vizinhos, os nossos amigos, que cada um convença um indeciso para melhorar os vossos salários, as nossas pensões, o SNS“, disse aos presentes no final. 

O candidato voltou também a usar o argumento de querer “renovar o PS” para apelar a quem votou no partido em 2022, para que volte a fazê-lo.

As sondagens e uma hipotética moção de rejeição no caso de não ser a força política mais votada foram também tópicos que os jornalistas tentaram abordar, ao longo da caminhada, mas sem sucesso. Garante que está apenas a trabalhar para “ganhar as eleições” e aproveitou para disparar novamente: “Faça essa pergunta a quem nunca respondeu”.

Se já estamos habituados a que os últimos discursos sejam dedicados ao apelar do voto, o discurso de Pedro Nuno Santos não foi exceção. Ao microfone, subiu de tom, apesar da voz rouca, e a multidão acompanhou. Do palanque, apelou ao voto dos idosos e mulheres, em véspera do Dia da Mulher, e evocou o que chama de “maioria invisível” a quem atribuiu a responsabilidade pela maioria absoluta do PS em 2022.

No final da arruada, 45 minutos depois de ter começado, Pedro Nuno Santos ergueu os braços no ar, olhou para a multidão, olhou para o céu, de sorriso nos lábios, entrou encharcado no carro e seguiu – como se fosse um filme em câmara lenta. Mas antes do carro arrancar foi aplaudido, houve gritos de apoio, o seu nome a ecoar e bombos. Próxima paragem: Elvas.

Editado por Filipa Silva