Sérgio Graciano traz às salas de cinema o lado intimista de Mário Soares, durante a noite eleitoral de 1986. O JPN falou com o realizador Sérgio Graciano sobre o filme e as críticas que tem recebido.
“Soares É Fixe!” é o slogan da campanha do chamado “primeiro Presidente civil” de Portugal e o nome do mais recente filme realizado por Sérgio Graciano. Com argumento de João Lacerda Matos, o filme sobre Mário Soares estreou na passada quinta-feira (22).
O filme explora a noite da segunda volta das eleições presidenciais de 1986, que colocou Mário Soares e Diogo Freitas do Amaral frente a frente, e acompanha o lado mais vulnerável de Soares. Ao fim de 12 anos do pós 25 de Abril, o país continuava polarizado entre a esquerda e a direita.
À medida que a noite eleitoral avança, o político recorda os momentos difíceis da sua carreira: dos tempos da resistência à ditadura, a instabilidade no período pós-25 de Abril e o início das presidenciais, nas quais era considerado o candidato menos provável a vencer.
Ao JPN, Sérgio Graciano, realizador do filme, recorda Mário Soares como “uma figura simpática, meio bonacheirão, alegre, com muita dedicação ao país, com muita vontade de ser o líder do nosso país e com muita ligação à família”.
“Soares É Fixe!” faz parte de um projeto que procura reunir biografias das principais figuras históricas do país: começou com Snu, passou por Salgueiro Maia, e agora Mário Soares. Depois deste filme, vai ser exibida uma série televisiva sobre a vida de Álvaro Cunhal, que ainda não tem data de estreia prevista.
O projeto foca-se, portanto, no período que antecede e que se segue ao 25 de Abril, uma vez que “é o grande período de viragem”, sublinha Graciano. “Nós demoramos sempre a fazer o ‘funeral’ destes momentos históricos. Já foi o 25 de Abril. Antes dessa data, começaram a existir séries e filmes sobre reis. Agora, já estamos no pós-25 de Abril. (…) Agora, provavelmente, será a altura certa para começar a contar estas histórias mais recentes”, acrescenta.
Ainda não passou uma semana desde a estreia e já começou a receber críticas. O filme não tem sido bem acolhido no que que diz respeito à caracterização das personagens e ao facto de Mário Soares ser retratado como uma pessoa pessimista e carrancuda.
Sérgio Graciano garante que tem recebido as críticas com “naturalidade”. O realizador afirma que se trata de “um filme de ficção” e não de um “documentário”. “Isto é uma ficção. Uma ficção tem de ser construída para ter um arco narrativo e, às vezes, temos de comprometer um bocadinho a realidade ou a verdade para chegar ao objetivo de contar esta história. Sei que dizem que ele era mais bem disposto, mas eu quis retratar umas eleições de 1986 com algum conflito, porque achava que tinha de haver ali alguém mais negativo para fazer parte desta campanha eleitoral, neste caso do PS. Havia um otimismo generalizado, mas, para um filme, o otimismo generalizado serve pouco. Tem de haver sempre o outro lado. Por isso, compreendo quem acha que está longe [da realidade]”, reiterou.
Em relação às críticas que apontam para o facto de os atores não serem parecidos com as pessoas que retratam, o realizador diz que “é mais importante o conteúdo do que a forma” e que “era difícil arranjar alguém parecido com o Mário Soares”.
“O cinema é uma maneira fácil e rápida de chegar à população e aos jovens”
Sérgio Graciano considera que, para os jovens, ver este filme é tão importante como ver “um filme biográfico qualquer. É conhecer um bocadinho da História de Portugal”, sendo que Mário Soares “é uma das figuras importantes da nossa História”.
Apesar de em Portugal “não termos muito a cultura de fazer biografias”, o realizador reforça a importância de o filme chegar às camadas mais jovens, explicando que “o cinema é uma maneira fácil e rápida de chegar à população e aos jovens”.
Graciano explica ainda que “gosta de provocar”: “Acho que também é importante, quando se faz estes filmes, provocar. Não sinto que tenha a responsabilidade de contar a história, mas gosto de provocar as pessoas para depois irem pesquisar”, conclui.
Estrear o filme numa altura em que se celebram os 50 anos do 25 de Abril foi “completamente intencional”, mas “puro e mero acaso” em altura de campanha eleitoral, uma vez que a estreia já estava prevista antes da convocação de novas eleições, sublinha Sérgio Graciano.
A estreia do filme, produzido pela Sky Dreams Entertainment e distribuído pela NOS Audiovisuais, coincide com a altura em que o Partido Socialista celebra o seu centenário. Mário Soares, um dos fundadores do partido, teve um percurso político marcado pela resistência ao regime salazarista e pela Revolução dos Cravos, tendo ficado conhecido como o “pai da democracia”. No pós-25 de Abril, foi primeiro-ministro (1976 a 1978 e 1983 a 1985) e Presidente da República, durante dois mandatos consecutivos (1986 a 1996).
Editado por Inês Pinto Pereira