O drama biográfico sobre aquele que ficou conhecido para o público português como António Variações conta o percurso do compositor e cantor desde a sua infância até à sua morte prematura em 1984 (tinha apenas 39 anos). A história de “Variações” começa por retratar a infância de António Ribeiro na aldeia de Fiscal (Amares, distrito de Braga), onde vivia com a família. Nesta altura, trabalhava para ajudar os pais, mas já mostrava particular interesse pela música das romarias.

Apesar da referência à passagem pela Holanda, onde aprendeu a trabalhar como barbeiro, o enfoque recai principalmente no período entre 1977 e 1981, altura em que o cantautor luta para viver da música. Neste período, António vive em Lisboa, abre a sua própria barbearia, mas a sua grande ambição é ser reconhecido enquanto músico.

Apesar de nunca ter estudado música, acredita plenamente que as criações que compõe na sua cabeça podem ter sucesso. Mesmo com todos os obstáculos e comentários negativos de que foi alvo, o barbeiro não desistia daquela que dizia ser a sua vocação. Ensaiava com músicos amadores, ainda que estes vissem a música como um hobbie e gravava as próprias cassetes em casa. Só em 1983 viria a gravar o seu primeiro álbum.

Uma das cenas mais marcantes do filme é o concerto na discoteca Trumps, em Lisboa, onde se apresenta ao público pela primeira vez. Aqui, fica clara a identidade arrojada e irreverente do artista que se assume tal como é, mostrando que a sua música era influenciada por vários géneros, do rock ao fado.

Fernando, o dono da discoteca e antigo patrão que veio reencontrar na capital, assume também um papel importante na vida de António, mantendo com ele uma relação próxima e especial. Esta personagem, interpretada por Filipe Duarte, acaba por trazer uma nova dinâmica à história, revelando um lado mais pessoal e íntimo da vida do cantor. Desde o momento do reencontro entre ambos, o filme explora a cumplicidade desta relação de forma muito moderada e sem cair em exageros, dando-lhe ainda mais beleza. Esta cumplicidade é ainda mais visível na parte final do filme, nas cenas em que Sérgio Praia interpreta um Variações já doente.

Além de lhe dar corpo, o ator deu-lhe também a própria voz ao interpretar todas as músicas que podemos ouvir no filme. A banda sonora torna-se por isso muito especial, recriando grandes êxitos de António Variações sem que lhe seja retirada a sua essência. Neste sentido, Sérgio Praia merece também o nosso aplauso, já que consegue fazer com que, em alguns momentos, consigamos ver e ouvir o verdadeiro Variações.

O filme realizado por João Maia fala-nos, de forma simples e sem cair em clichés, sobre o amor e o papel que este teve na vida do ícone da música portuguesa. Também por isto, apesar do retrato ser de uma história antiga, esta obra cinematográfica tem subjacente uma mensagem muito atual.

Acompanha a transformação de António Ribeiro em António Variações e é, sobretudo, uma mensagem e homenagem a todos aqueles que, tal como Variações, não desistiram dos seus sonhos.

Uns bons 120 minutos de reflexão sobre a importância da singularidade e da identidade de cada um, sem ter de esconder o que mais se deve realçar.

Um argumento que nos deixa a sensação de que vale a pena apreciar o que de melhor tem a sétima arte. E o talento português.

Artigo editado por Filipa Silva